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    Alemães criam universidade gratuita só para refugiados

    LUCAS NEVES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

    27/12/2015 02h03

    Não foi só o governo da Alemanha que deu, em 2015, a resposta mais assertiva da Europa à chegada de mais de 1 milhão de refugiados do Oriente Médio e da África. A sociedade civil também criou iniciativas para integrá-los.

    Uma delas é a Universidade Kiron, fundada por dois jovens em Berlim, que oferece há dois meses cursos on-line gratuitos só para refugiados. Kiron, na mitologia grega, era o centauro mentor de Jasão.

    Viktor Strasse/Divulgação
    Da esq. para a dir., Vincent Zimmer, cofundador da universidade Kiron, Fatuma, estudante somali, e Markus Kressler, cofundado
    Da esq. para a dir., Vincent Zimmer, cofundador da universidade Kiron, Fatuma, estudante somali, e Markus Kressler, cofundador

    A instituição já tem 1.250 alunos em cinco formações: negócios, informática, arquitetura, engenharia e estudos interculturais -as mais citadas em enquete com os mil primeiros a demonstrar interesse no projeto. Comunicação, ciências sociais e literatura devem ser as próximas.

    Segundo Vincent Zimmer, um dos cofundadores, 80% dos inscritos são sírios; palestinos, ucranianos e eritreus também são numerosos. Por ora, só 20% são mulheres, distorção que a direção pretende equacionar ampliando a gama de cursos.

    Na Kiron, no primeiro ano, os estudantes seguem cursos de línguas e de cultura geral; de acordo com o nível atingido, cumprem ou não uma espécie de ciclo básico da especialidade escolhida. No segundo ano, aprofundam-se no campo de predileção.

    As lições (em inglês, com legendas) são adaptadas por uma equipe pedagógica a partir de conteúdos desenvolvidos por universidades prestigiosas, como as americanas Harvard e Stanford e as britânicas Cambridge e Oxford. Há hoje em rede 400 cursos.

    PRESENCIAL

    No terceiro ano, os cursos passam a ser presenciais em uma das instituições parceiras da Kiron -Zimmer diz já ter acordos de colaboração com 32, sobretudo na Alemanha (e também em Gana, Reino Unido, Turquia e Grécia).

    "Essas universidades irão testar os cursos para ver se correspondem a seus currículos e se podem estabelecer equivalências", explica. "A ideia é que a transferência de alunos a partir do quinto semestre seja automática."

    A proposta de cooperação interessa a universidades alemãs, cuja taxa de abandono no terceiro ano por vezes chega a 30%. Salas cheias fortalecem o pleito por verba.

    Na Kiron, financiamento é um gargalo. Apesar de a instituição não ter corpo docente tradicional, há tutores, gasto com manutenção dos sistemas e aluguel de salas de apoio num microcampus em Berlim, além do custo das vagas em instituições parceiras.

    A equipe levantou para o primeiro ano € 535 mil (R$ 2,3 milhões) via crowdfunding e um pouco mais do que isso em doações de pessoas físicas.

    "Estamos conversando com o governo alemão e a Comunidade Europeia, mas esse tipo de apoio demora", diz Zimmer. "Por isso, pediremos a empresas que financiem os alunos e recebam quando eles se formarem."

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