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    Cidade do Equador convive com a ameaça do vulcão Cotopaxi

    LEDA BALBINO
    ENVIADA ESPECIAL A
    LATACUNGA, EQUADOR

    28/12/2015 02h00

    Os policiais chegaram sem avisar naquela madrugada de 15 de agosto. Bateram nas portas gritando para que os moradores deixassem suas casas na urgência de cinco minutos.

    "Explodiu o vulcão, corram!", foi a ordem ouvida pela equatoriana Ximena Guaman, 31, que despertou de seu sono para, de repente, se ver correndo assustada no meio de uma multidão.

    "Houve atropelados, feridos", relata a moradora de Latacunga, cidade a quase 90 km de Quito considerada a mais vulnerável a uma eventual erupção do Cotopaxi, um dos vulcões mais altos do mundo, com 5.897 metros.

    Precedida de forma respeitosa pela deferência "taita" (papai, em quéchua) pelos habitantes locais, a montanha andina voltou a deixar em alerta a cidade e o resto do país em abril, quando passou a mostrar sinais de atividade sísmica mais intensa.

    Explosões do Cotopaxi em 14 de agosto estimularam o governo do esquerdista Rafael Correa a declarar estado de emergência, medida que vigorou por três meses, e a realizar uma retirada preventiva em áreas de risco, incluindo o bairro onde mora Guaman.

    O prefeito de Latacunga, Patricio Sánchez, afirmou que os tumultos daquela madrugada, que deixaram um morto, foram úteis. "Eles são uma mostra dos perigos que a cidade enfrentará se o vulcão entrar em erupção", disse à Folha.

    DESTRUIÇÃO

    Distante apenas 30 km do Cotopaxi, Latacunga foi completamente destruída em três das cinco erupções mais violentas do vulcão nos últimos 450 anos.

    A mais recente delas, em 1877, só não enterrou para o esquecimento a cúpula da antiga fábrica têxtil San Gabriel, que pode ser vista logo na entrada da cidade de 175 mil habitantes.

    Deste total, conta Sánchez, 45 mil estão em situação de risco maior por viverem perto de rios, que seriam as artérias de destruição preferenciais dos "lahares" —palavra indonésia que se refere à avalanche de lava, rochas, destroços e água que desliza das encostas íngremes de um vulcão nas direções norte e sul.

    Segundo dados da erupção de 1877, os "lahares" que atingiram Valle de los Chillos, na região metropolitana de Quito, chegaram ali em apenas 40 minutos e percorreram os 300 km até Esmeraldas, no norte do Equador, em 18 horas.

    Apesar do histórico de destruição e do fato de a reativação do vulcão ter começado em 2001, Sánchez encontrou uma cidade despreparada para uma potencial tragédia desde que assumiu a prefeitura, há pouco mais de um ano e meio.

    "As administrações anteriores não planejaram a expansão perto dos rios e só estipularam uma distância de 30 metros das margens", afirma. "Podemos perder 10.500 moradias."

    Onde fica Latacunga

    Na rota dos eventuais "lahares" está o Centro Regional de Reabilitação Social de Cotopaxi, prisão de segurança máxima com mais de 4.000 presos. Uma erupção também poderia destruir o aeroporto local.

    Sánchez elaborou planos de contingência que incluem a abertura de rotas de retirada, coordenação com o governo nacional para o estabelecimento de abrigos a leste e oeste, distribuição de material informativo para a população, instalação de sirenes e megafones e capacitação de 40 mil pessoas para uma situação de emergência.

    "Temos de trabalhar com a perspectiva do pior cenário", diz. "Se houver uma grande explosão, só há 40 minutos para a retirada", afirma.

    Por enquanto, porém, um cenário de desastre total não parece iminente. "Alguns cientistas e vulcanólogos dizem que o Cotopaxi é generoso porque estaria expulsando pouco a pouco seu excesso de água, em vez de explodir de uma só vez", conta.

    Amparo Bonilla, 36, mudou-se há um ano para Latacunga para cuidar do pai. Moradora de uma área mapeada como não sendo de risco, ela afirma não estar preocupada com o vulcão, mesmo tendo quatro filhos pequenos com idades entre 11 anos e seis meses. "Não tenho medo. Confio em Deus."

    Guaman, porém, não sente a mesma confiança. Vivendo ao lado do rio Cutuchi, ela conta que muitos deixaram a cidade por temerem o Cotopaxi. "Por causa do medo, os que ficaram dormem com um olho fechado e o outro bem aberto."

    A repórter LEDA BALBINO viajou como bolsista do International Reporting Project

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