• Mundo

    Friday, 03-May-2024 11:19:07 -03

    Arco de Palmira que sobreviveu ao EI será replicado em Londres e NY

    DAMIEN GAYLE
    DO "GUARDIAN"

    29/12/2015 12h16

    Réplicas de um monumento antigo em Palmira que aparentemente sobreviveu às tentativas de destruição do Estado Islâmico serão erigidas em Londres e Nova York.

    O arco de 15 metros de altura é uma das poucas partes que restam do templo de Bel, de 2.000 anos de idade, na cidade síria. Ele foi quase completamente destroçado pelos combatentes do EI quando destruíram Palmira sistematicamente, este ano.

    A construção de uma réplica será a peça central de uma série de eventos relacionados à Semana do Patrimônio Mundial, prevista para abril, que tem como tema réplica e reconstrução. Também vem sendo descrita como um gesto de desafio contra tentativas de extremistas religiosos de apagar a história pré-islâmica do Oriente Médio.

    Fundado em 32 d.C., o templo de Bel era consagrado ao antigo deus mesopotâmico Bel e formava o centro da vida religiosa em Palmira. Assim como aconteceu com muitos templos antigos, o local foi convertido em igreja cristã durante a era bizantina e depois em mesquita, quando os árabes levaram o Islã à região.

    Conhecida como a Pérola do Deserto, Palmira —que significa cidade das palmas— encontra-se 210 km a nordeste de Damasco. Antes de o conflito sírio começar em 2011, mais de 150 mil turistas visitavam a cidade anualmente.

    O templo de Bel era considerado uma das ruínas mais bem preservadas de Palmira, até a confirmação da sua destruição em agosto. No início do mesmo mês, o grupo decapitou Khaled al-Assad, um arqueólogo sírio de 82 anos que cuidava das ruínas de Palmira havia quatro décadas, e pendurou seu corpo em público.

    DIGITALIZAÇÃO

    Construir uma cópia do arco da entrada do templo foi uma proposta do Instituto de Arqueologia Digital (IDA, na sigla em inglês), uma iniciativa conjunta da Universidade Harvard, da Universidade de Oxford e do Museu do Futuro de Dubai, que promove o uso da imagem digital e da impressão 3D em arqueologia e conservação.

    Em colaboração com a Unesco, o instituto no início deste ano começou a distribuir câmeras 3D para que fotógrafos voluntários fizessem imagens de objetos ameaçados em zonas de conflito em todo o Oriente Médio e norte da África.

    As imagens devem ser armazenadas em um "banco de dados de milhões de imagens" que, espera-se, poderá ser usado para pesquisa, avaliação de patrimônio, programas educacionais e eventualmente, de réplicas em 3D —incluindo a reconstrução em escala natural.

    A destruição do Templo de Bel aconteceu cedo demais para que o local fosse incluído no banco de dados do IDA, mas pesquisadores puderam criar aproximações 3D do local danificado através de milhares de fotografias bidimensionais.

    Alexy Karenowska, diretora de tecnologia do IDA, disse que as representações seriam usadas para recriar o arco através de uma combinação de técnicas de impressão 3D controladas por computador. As peças serão feitas separadamente e depois montadas no lugar em que ficarão, em Trafalgar Square e Times Square.

    Karenowska disse que o que se espera é que o projeto ajude a destacar a importância internacional do patrimônio cultural.

    INFLUÊNCIA

    O Templo de Bel é um tesouro arquitetônico do Oriente Médio, e sua influência na arquitetura teve um grande impacto em estilos clássicos espalhados por toda a Europa pelo Império Romano, que se estendeu para as margens do Eufrates, disse ela.

    "Tendemos a pensar sobre herança cultural de forma um pouco provinciana", disse Karenowska.

    "Pensamos também sobre o patrimônio cultural de outras pessoas como algo que é particularmente delas. Vemos muito isso com o Oriente Médio. As pessoas no Ocidente acham que é muito fácil dizer que o Oriente Médio tem esse grande patrimônio cultural e que esse problema [da sua destruição] é algo que está acontecendo com eles. A ideia é reforçar que o patrimônio cultural é algo compartilhado entre as pessoas. Trata-se das raízes das pessoas, e é importante reconhecer também que isso é algo que, como seres humanos, todos entendemos de forma profunda."

    Roger Michel, diretor-executivo do IDA, disse ao Times: "É realmente uma declaração política, uma convocação a agir, para chamar a atenção para o que está acontecendo na Síria e no Iraque, e agora na Líbia. Estamos dizendo a eles que, se você destruir algo, podemos reconstruí-lo novamente. O valor simbólico desses lugares é enorme, estamos restaurando a dignidade para as pessoas."

    Uma vez que já foram alvo de fanáticos em sua terra natal, Karenowska está de acordo com que a construção dos arcos pode representar um risco de segurança, embora ela tenha minimizado esse impacto. "Um edifício como a National Gallery ou Trafalgar Square, esses são os principais alvos em virtude do que eles são", disse ela.

    "O nível de risco que se acrescenta é muito limitado, simplesmente pelo fato de colocar uma obra de arte instigante em um desses espaços. Isso é algo em que estamos pensando com muito cuidado e em que as pessoas envolvidas pensam diariamente."

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024