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    eleições nos eua

    Grupo pauta agenda racial de candidatos democratas à Casa Branca

    THAIS BILENKY
    ENVIADA ESPECIAL A CHICAGO (EUA)

    10/01/2016 02h00

    Com contestações ao machismo e ao próprio movimento negro, o grupo Black Lives Matter passou de hashtag a uma organização com 26 diretórios estaduais e um internacional (Canadá) em menos de quatro anos.

    Com isso, pôde pautar a agenda racial da disputa eleitoral pela sucessão do primeiro presidente negro dos EUA.

    O nome, que em tradução literal significa "vidas negras importam", surgiu para nortear postagens em redes sociais e rapidamente se tornou um slogan de protestos multiplicados pelo país.

    Arquivo Pessoal
    Janaé Bonsu, 24, ativista do Black Youth Project, durante ato do grupo na cidade de Chicago
    Janaé Bonsu, 24, ativista do Black Youth Project, durante ato do grupo na cidade de Chicago

    Foi apropriado de forma que as fundadoras consideraram por vezes inadequada, além de gerar uma disputa semântica interpartidária.

    Derivações como "todas as vidas importam" e "vidas azuis importam", em alusão a policiais, foram lançadas como provocação ao teor afirmativo do movimento, "uma resposta ao racismo virulento que permeia a nossa sociedade", definem as criadoras.

    Alicia Garza, Opal Tometi e Patrisse Cullors criaram a hashtag para tratar de comentários contra a decisão de não indiciar o segurança branco que matou o adolescente negro Trayvon Martin, 17, na Flórida, em 2012.

    Uma marcha em protesto contra a morte de Michael Brown, 18, em agosto de 2014, em Ferguson (Missouri), por um policial branco, aglutinaria mais forças.

    O grupo diz ir "além [da crítica a] mortes extrajudiciais de pessoas negras" ou do discurso autoafirmativo como "ame a negritude". Sua carta de princípios inclui o reconhecimento da diversidade de gêneros, o acolhimento de imigrantes sem documentos e críticas ao encarceramento em massa.

    "Muita gente achou que o movimento era passageiro e dependeria do protótipo do líder negro, masculino, carismático, de fé e heterossexual", afirmou Jason Tompkins, 35, um dos coordenadores em Chicago. "Mostramos que temos poder."

    Em agosto, eles irromperam em comício da pré-candidata democrata Hillary Clinton pedindo que a ex-secretária de Estado deixasse de aceitar doações de grupos ligados a prisões privadas. Meses depois, ela cedeu.

    Quando o BLM interrompeu evento do pré-candidato democrata Bernie Sanders, em poucas horas ele tornou pública uma agenda de campanha pela justiça racial.

    "O BLM não apoia candidato. A tática que continuaremos a usar é cobrar determinados postulantes quanto às nossas demandas", disse Tompkins. "Determinados", diz ele, porque não compensa pressionar republicanos "que não nos levam a sério".

    O pré-candidato da oposição que lidera pesquisas, Donald Trump, chegou a dizer que um ativista "talvez devesse ter sido espancado" quando interrompeu seu discurso em Birmingham (Alabama), cidade onde Martin Luther King (1929-68), preso, escreveu manifesto pela não violência, em 1963.

    Lembrando que negros representaram a maior fatia dos eleitores de 18 a 24 anos na primeira eleição de Barack Obama, o jornalista Donovan Ramsey diz que o jogo não está ganho para os democratas.

    "Queremos o fim do sofrimento imposto e sancionado pelo Estado. Qualquer outra coisa será rejeitada."

    O professor da Cuny (Universidade da Cidade de Nova York) Tshombe Miles diz que a descentralização e o uso de tecnologia expandiram a visibilidade do BLM.

    Para Miles, no Brasil, onde ele vive parte do ano, o desafio do movimento negro é maior no que tange, por exemplo, à escolaridade média dessa população e à sua exclusão do mercado de trabalho.

    "O mainstream foca a discussão sobre celebridades com a atriz Taís Araújo e a jornalista Maju Coutinho. Elas sofreram racismo real, mas e as questões estruturais?"

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