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    Físico condenado por elo terrorista quer deixar Brasil, diz colega

    FELIPE DE OLIVEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

    13/01/2016 20h30 - Atualizado às 11h23
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    O professor franco-argelino Adlène Hicheur pretende deixar o Brasil e voltar à França, afirmou à Folha o diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Ronald Shellard. "Ele quer sair do Brasil. Está decepcionado com tudo que fizeram com ele. Pegaram acusações infundadas e o acusaram", disse Shellard.

    Segundo Shellard, Hicheur levava uma vida comum no Brasil e falava abertamente sobre sua prisão. O professor não demonstrava ter relações com terroristas e inclusive criticava grupos extremistas como o Estado Islâmico, de acordo com o diretor.

    "Teve um episódio, por exemplo, que o Estado Islâmico ocupou uma cidade do Iraque que ele veio à minha sala e falou que aquilo era estupidez, que estavam soltando o diabo", disse.

    Reprodução
    Adlène Hicheur, físico franco-argelino condenado por terrorismo na França em 2012, é professor na UFRJ
    Adlène Hicheur, físico condenado por terrorismo na França em 2012, é professor na UFRJ

    Hicheur, que é professor visitante do Instituto de Física da UFRJ, foi condenado em 2012 a cinco anos de prisão por "associação com criminosos com vistas a planejar um atentado terrorista". Ele chegou a ficar preso por dois anos e meio, entre 2009 e 2012, e foi colocado em liberdade condicional no mesmo ano.

    A Justiça francesa o condenou com base em mensagens eletrônicas trocadas por ele com supostos integrantes da rede terrorista Al Qaeda na Argélia. O julgamento não conseguiu levantar indícios nem provas de que ele tenha tomado ações concretas a respeito dos comentários que faz em e-mails.

    Em carta assinada por 14 pessoas, pesquisadores da UFRJ, PUC-Rio e do CBPF, ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, defenderam, nesta quarta-feira (13), a permanência de Adlène Hicheur no país.

    O caso do professor foi revelado na última sexta-feira (8) pela revista "Época". Depois da repercussão nacional, o franco-argelino teria manifestado a intenção de deixar o país. A decisão do físico teria sido informada em e-mail enviado ao CBPF e ao ministro Aloizio Mercadante (Educação).

    A reitoria da UFRJ confirma que colegas receberam e-mails de Hicheur em que ele manifesta sua intenção de deixar o país. A universidade, porém, afirma não ter recebido nenhum pedido de desligamento do professor franco-argelino.

    CARTA

    A carta desta quarta (13) se junta a outras duas manifestações de apoio ao professor —a primeira de nove cientistas brasileiros e a segunda, de cinco estrangeiros.

    A última correspondência foi escrita pelos cientistas do Laboratório de Física de Partículas Elementares (Lape). O laboratório participa do experimento do acelerador de partículas LHCb, do CERN (Centro Europeu para Física de Partículas), conhecido como "máquina do Big Bang".

    Ex-pesquisador do CERN, Hicheur era quem mantinha contato com o centro europeu. "[Hicheur] assumiu a liderança de vários projetos no âmbito da Colaboração LHCb, aumentando a visibilidade do Instituto de Física e da UFRJ no CERN", diz a carta.

    Os colegas do franco-argelino afirma que o professor cumpriu sua pena e está quite com a Justiça. Isso, então, o faria um "cidadão livre, que pode entrar e sair de seu país quando assim o desejar". A missiva lembra que sua condenação foi repudiada à época por várias entidades científicas e de direitos humanos.

    "O professor Hicheur veio ao Brasil de maneira totalmente legal e, como qualquer outro cientista, chegou após um estudo detalhado do seu currículo e da avaliação das contribuições que ele poderia trazer para a área no Brasil. Os responsáveis por sua contratação e as autoridades brasileiras responsáveis pela concessão de visto foram informados do seu caso judicial".

    A carta critica, principalmente, a cobertura da imprensa brasileira sobre o caso. "As matérias contém, quase que exclusivamente, informações retiradas da internet, apresentando de forma tendenciosa parte dos fatos ocorridos. Estas matérias feriram princípios básicos de ética e não mencionaram informações que possibilitassem uma análise isenta do caso", critica a carta dos cientistas.

    De acordo com a reportagem da "Época", a Polícia Federal levantou o histórico do professor quando investigavam um suposto simpatizante do Estado Islâmico no Brasil. O suspeito apareceu enaltecendo a milícia radical em reportagem do canal americano CNN.

    O vídeo foi gravado na Mesquita da Luz, na Tijuca (zona norte do Rio), mesmo templo frequentado por Hicheur. Na carta, os cientistas consideram a repercussão do caso "uma mancha na tradição brasileira de ser um país aberto, humanitário e acolhedor", além de "grave retrocesso em nosso processo na direção de uma sociedade democrática".

    Assinam a carta os seguintes pesquisadores do laboratório LHCb do Rio: Erica Polycarpo (UFRJ); Irina Nasteva;(UFRJ); Carla Gobel (PUC-Rio); Sandra Amato (UFRJ); Leandro de Paula (UFRJ); Juan Otalora Martin Goicochea (UFRJ); Murilo Rangel (UFRJ); Bruno Souza de Paula (UFRJ); Miriam Gandelman (UFRJ); Jose Helder Lopes (UFRJ); Kazuyoshi Akiba (UFRJ); Ignacio Bediaga (CBPF); Alberto Correa dos Reis (CBPF); Jussara Miranda (CBPF).

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