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    Huffington Post esperou para relatar sobre troca de prisioneiros com Irã

    SYDNEY EMBER
    DO "NEW YORK TIMES"

    18/01/2016 11h20

    Pelo menos um meio de comunicação parece ter tido acesso a informações prévias sobre as negociações entre Estados Unidos e Irã para uma troca de prisioneiros, entre os quais um repórter do jornal "Washington Post", antes que o acordo fosse anunciado. Mas optou por não publicar informações sobre a negociação.

    O site Huffington Post afirmou no sábado (16) que não publicou reportagem sobre as negociações para troca de prisioneiros, ainda que tivesse sido informado oficialmente a respeito por um funcionário do Departamento de Estado, no final do ano passado.

    Reprodução
    Foto do jornalista americano Jason Rezaian, do jornal "Washington Post", ao desembarcar em Genebra
    Foto do jornalista americano Jason Rezaian, do jornal "Washington Post", ao desembarcar em Genebra

    O Huffington Post afirmou, além disso, que autoridades do governo norte-americano haviam informado anteriormente que repórteres do "Washington Post" e "Wall Street Journal" também estavam mantendo silêncio sobre as negociações.

    O "Wall Street Journal" e o "Washington Post" se recusaram a comentar no sábado (16) sobre porque esperaram para publicar sobre as negociações.

    O Huffington Post publicou sua reportagem sobre a decisão depois do anúncio pelo Irã de que havia libertado quatro norte-americanos de origem iraniana, entre os quais Jason Rezaian, repórter do "Washington Post", como parte de um acordo de troca de prisioneiros com os Estados Unidos.

    Essa está longe de ser a primeira vez que meios de comunicação enfrentaram dilemas sobre publicar ou reter notícias a fim de proteger a segurança dos envolvidos.

    O "New York Times", por exemplo, optou por reter informações sobre o sequestro de David Rohde, então repórter do jornal, pelo Taleban, até depois de sua fuga, em 2009.

    Bill Keller, então editor executivo do "New York Times", declarou na época que "desde os primeiros dias dessa crise a opinião prevalecente entre os familiares de David, especialistas em casos de sequestro, representantes de diversos governos e outras pessoas que consultamos era a de que ir a público sobre o caso poderia agravar o perigo para David e os demais reféns".

    Ele acrescentou que "os sequestradores mesmos nos disseram exatamente isso, no início do episódio. Decidimos respeitar esse conselho, como fizemos em outros casos de sequestro, e algumas outras organizações noticiosas informadas sobre a situação perigosa de David fizeram o mesmo".

    O "New York Times" se recusou a comentar no sábado (16) sobre a troca de prisioneiros entre os Estados Unidos e o Irã.

    Daniel Kramer/Reuters
    Khosrow Afghahi (dir.) abraça um amigo ao deixar o Centro Federal de Detenção em Houston, no Texas
    Khosrow Afghahi (dir.) abraça um amigo ao deixar o Centro Federal de Detenção em Houston, no Texas

    Joel Simon, diretor executivo do Comitê Para a Proteção de Jornalistas, declarou no sábado que reter informações, por qualquer que seja o motivo, contraria os instintos dos jornalistas. Mas quando há vidas em jogo, acrescentou, "é preciso levar outros fatores em consideração".

    O Huffington Post afirmou que havia descoberto que as negociações não tinham fracassado, mas optou por não publicar uma reportagem a respeito por medo de colocá-las em risco.

    "Por anos, uma convenção jornalística que costumava ser mais ou menos respeitada era a de que negociações para troca de reféns e prisioneiros não deveriam ser relatadas, caso isso acarretasse o risco de frustrá-las", afirmou o Huffington Post.

    Da mesma maneira que outras organizações noticiosas não publicam artigos que "possam causar dano iminente a um indivíduo específico", acrescentou o site, "nós igualmente optamos por recusar a publicação de uma reportagem que causaria danos sérios a pessoas específicas detidas injustamente no Irã".

    O Huffington Post afirmou que a decisão de não publicar um artigo sobre as negociações havia sido tomada pelo site mesmo, e não como resultado de pressão direta da parte do governo dos Estados Unidos.

    Quando funcionários do governo foram questionados pelo site sobre as negociações, escreveu o Huffington Post, "eles não nos pressionaram a não publicar a reportagem, mas expuseram calmamente sua análise sobre as possíveis consequências de uma publicação, e ofereceram confiança quanto a um avanço das negociações, que segundo eles estavam se encaminhando a uma solução".

    Neste sábado (16) o Huffington Post acrescentou que acreditava ter tomado a decisão certa.

    "Falar de princípios e de buscar a verdade é só retórica até que você se vê diante de uma possibilidade real de que a verdade que revela resulte na execução de um colega", o site afirmou. "Por isso decidimos segurar a reportagem, e agora estamos escrevendo este texto no lugar dela. Ficamos felizes por tê-lo feito".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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