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    Aliados de Hillary veem erros de cálculo em campanha contra Sanders

    PATRICK HEALY
    DO "NEW YORK TIMES"

    18/01/2016 17h00

    Alguns assessores de Hillary Clinton, entre eles o ex-presidente Bill Clinton, acham que sua campanha errou gravemente nos cálculos ao deixar de atacar o senador Bernie Sanders, de Vermont, desde o início e não enfraquecer a mensagem arquiliberal dele antes de ela se converter em um movimento político que agora deixou Sanders a pouca distância de derrotar Clinton no Iowa e New Hampshire.

    Timothy A. Clary/AFP
    Hillary Clinton e Bernie Sanders durante debate democrata nos EUA
    Hillary Clinton e Bernie Sanders durante debate democrata nos EUA

    De acordo com democratas próximos dos Clinton e envolvidos com a campanha da pré-candidata, Hillary e o ex-presidente também estão preocupados com a possibilidade de Sanders inspirar uma grande onda de liberais e eleitores de primeira viagem que a façam perder a disputa em Iowa, como aconteceu com o triunfo de Barack Obama em 2008, que relegou Hillary ao terceiro lugar.

    Eles perguntaram aos assessores de Hillary sobre a força dos dados da campanha em Iowa, considerando o fato de que as previsões da campanha dela em 2008 mostraram ser tão imprecisas.

    Enquanto os rivais democratas se preparavam para o que foi um debate televisivo contencioso na noite de domingo (17), os Clinton receavam especialmente que a "mensagem racional" de Hillary, nas palavras de um assessor, não estivesse sintonizada com o espírito do eleitorado democrata inquieto nas primárias.

    Aliados e assessores dos Clinton dizem que está claro que Sanders está sendo ouvido pelos eleitores graças à sua mensagem emocional e inspiradora de que o sistema econômico e político americano é manipulado em favor dos ricos e poderosos.

    Enquanto isso, Hillary tem apresentado uma pauta política ambiciosa, mas mais recentemente vem ressaltando sua elegibilidade e questionando os custos das ideias de Sanders.

    A maioria dos assessores e aliados de Hillary exigiu anonimato para falar francamente sobre as vulnerabilidades dela e a visão que os Clinton têm da disputa. Este artigo se baseia sobre entrevistas com 11 pessoas —assessores de campanha, aliados externos, amigos e doadores— que falaram com os Clinton sobre a disputa.

    "Hillary é uma progressista pragmática", disse o governador Peter Shumlin, do Vermont, que na semana passada fez campanha por Hillary no Iowa, em vez de por Sanders, senador de seu Estado.

    "Ela une as pessoas sem alarde e leva as coisas a serem realizadas. Embora isso não esteja em voga no momento, acho que, no final, é isso que os eleitores vão querer."

    Mas os problemas de Hillary transcendem a mensagem dela: pesquisas de opinião mostram que alguns democratas e outros eleitores continuam a questionar sua confiabilidade e se ela se importa com os problemas deles.

    Pesquisas recentes revelam que a vantagem antes grande que Hillary tinha sobre Sanders no Iowa praticamente desapareceu, e ele continua a ter uma dianteira pequena em New Hampshire.

    HILLARY CLINTON X BERNIE SANDERS - Média de pesquisas, em %

    Hillary e sua equipe dizem que sempre previram que a disputa ficaria mais apertada; o diretor da campanha, Robby Mook, disse a colegas no ano passado que Sanders seria um rival difícil. Mas não estavam preparados para ver Sanders ganhar a adesão de tantos eleitores jovens e independentes, especialmente mulheres, que Hillary vê como sendo parte crucial de sua base de eleitores.

    Em vista das muitas vantagens políticas dela, como doadores de campanha ricos e o apoio amplo da elite do Partido Democrata, ela também está surpresa com o fato de o trabalho de levantamento de fundos de Sanders ter rivalizado com o dela e de a experiência política de Hillary —além de seu potencial de fazer história como a primeira mulher a ser eleita para a Presidência— não ter mobilizado mais eleitores.

    "Esperávamos que fosse fácil, mas temíamos que não fosse", comentou James Carville, o estrategista democrata da campanha de 1992 de Bill Clinton e amigo de longa data dos Clinton. "Hillary vem tendo uma atuação sólida, mas a disputa está sendo difícil."

    Vários assessores de Hillary também estão lamentando não ter feito pressão por mais debates, algo em que Hillary se sobressai, para poder mais habilmente marginalizar Sanders em função de seus votos no Senado em apoio à indústria das armas e dos custos enormes e prováveis aumentos de impostos ligados à sua agenda de grande atuação do governo.

    Em vez disso, Hillary, que iniciou a disputa como favorita inconteste, optou por não se arriscar e pelo menor número possível de debates, que foram programados para dias e horários em que a audiência provavelmente seria pequena —como às 21h deste domingo de um feriado nos EUA.

    "Ela tem brilhado nos debates, e, embora a visão mais comum seja a de que os debates não trazem vantagens para um político que já está na dianteira, Hillary se beneficiaria se houvesse mais deles", comentou o estrategista democrata Carter Eskew, que foi assessor sênior da campanha presidencial de Al Gore em 2000 (ele não é assessor de Hillary).

    "O ponto forte fundamental de Hillary se mantém: ela é mais forte que os outros pré-candidatos. Sua experiência e seus conhecimentos se evidenciam bem em contraste com eles."

    DONALD TRUMP X HILLARY CLINTON - Média de pesquisas, em %

    DONALD TRUMP X BERNIE SANDERS - Média de pesquisas, em %

    Hillary e seu marido ainda acreditam que ela possa vencer os caucus de 1º de fevereiro no Iowa e a primária de 9 de fevereiro em New Hampshire, apesar de Sanders ter ganhado terreno recentemente e agora estar virtualmente empatado com ela em muitas pesquisas nesses Estados.

    Mas os Clinton também creem que Hillary conseguiria sobreviver se fosse derrotada nos dois Estados, graças à força de sua organização política e do apoio que terá na primária de 27 de fevereiro na Carolina do Sul e em muitos Estados da Super Terça-Feira de 1º de março e em outros Estados importantes que terão primárias depois disso.

    David McDonald, um superdelegado de Washington que não está comprometido com nenhum dos pré-candidatos, disse que, em comparação com oito anos atrás, Hillary tem tendência menor a tropeçar e conta com uma operação política melhor em seu Estado.

    Mas, assim como em 2008, quando enfrentou um adversário (Obama) capaz de fascinar multidões, Hillary corre o risco de ser ultrapassada.

    "A base de eleitores dela não parece tão energizada quanto a de Sanders", disse McDonald. "Talvez seus eleitores sintam que estão aguardando a corrida real começar. Mas uma base entusiasmada pode fazer uma diferença grande nas etapas iniciais de uma campanha de indicação presidencial, e, se Hillary não conseguir uma dianteira grande sobre Sanders no início desse processo, desconfio que Sanders ganhará força rapidamente."

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