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    Estado Islâmico destrói mais antigo mosteiro cristão do Iraque; veja fotos

    MARTHA MENDOZA
    MAYA ALLERUZZO
    BRAM JANSSEN
    DA ASSOCIATED PRESS
    EM IRBIL (IRAQUE)

    20/01/2016 12h07 - Atualizado às 17h08

    Associated Press
    Antes e depois de mosteiro no Iraque; primeira foto é de março de 2011 e segunda de setembro de 2014
    Antes e depois de mosteiro no Iraque; primeira foto é de março de 2011 e segunda de setembro de 2014
    Associated Press
    Imagens de satélite mostram antes e depois de mosteiro no Iraque; primeira foto é de março de 2011 e segunda de setembro de 2014
    Antes e depois de mosteiro no Iraque; primeira foto é de março de 2011 e segunda de setembro de 2014

    O mais antigo mosteiro cristão do Iraque foi reduzido a um monte de entulho, após ser mais uma vitima da incansável destruição que a facção terrorista Estado Islâmico pratica contra sítios arqueológicos e históricos que considera heréticos. A informação foi confirmada pela agência de notícias Associated Press, que obteve fotografias de satélite do local.

    Veja o vídeo

    O Mosteiro de Santo Elias serviu como local de culto por mais de 1.400 anos, inclusive para as forças de ocupação norte-americanas que até recentemente estavam no Iraque.

    No passado, gerações de monges acenderam velas votivas nos nichos do mosteiro, oraram em sua capela, cultuaram seu deus no altar. As letras gregas chi e rho, que representam as duas primeiras letras do nome de Cristo, decoravam a entrada do edifício, entalhadas em pedra.

    Neste mês, a pedido da Associated Press, a DigitalGlobe, empresa que distribui imagens de satélites, direcionou uma câmera de alta resolução ao terreno do mosteiro e comparou as imagens obtidas a fotos anteriores do local.

    O ANTES E O DEPOIS

    Antes da demolição, a edificação parcialmente restaurada, feita de pedra, ocupava 2.500 metros quadrados de uma colina acima da cidade de Mossul, como uma fortaleza.

    Ainda que o teto do mosteiro estivesse parcialmente destruído, o edifício tinha 26 cômodos distintos, entre os quais um santuário e uma capela.

    Hoje, fotos mostram "que as paredes de pedra do mosteiro foram literalmente pulverizadas", disse Stephen Wood, analista de imagens e presidente-executivo da Allsource Analysis, que acredita que o local tenha sido destruído entre agosto e setembro de 2014.

    "Escavadeiras, equipamento pesado, martelos pneumáticos e possivelmente explosivos transformaram as muralhas de pedra em um campo de poeira cinzenta. A destruição foi completa", disse, no escritório de sua empresa no Colorado.

    Do outro lado do mundo, de seu escritório no exílio em Irbil, Iraque, o padre católico Paul Thabit Habib, 39, contemplava com descrença as imagens do mosteiro pré e pós-demolição.

    "A história cristã em Mossul está sendo barbaramente destruída", disse, em árabe. "O que aconteceu é uma tentativa de nos expulsar do Iraque, de eliminar e pôr fim à nossa existência na Terra".

    DESTRUIÇÃO AOS HEREGES

    A facção Estado Islâmico, que hoje controla grandes extensões de território no Iraque e na Síria, matou milhares de civis nos últimos dois anos. Ao longo do caminho, seus combatentes destruíram tudo que consideravam como contrário à sua interpretação do islã.

    Com sua destruição, o mosteiro de Santo Elias se une a uma lista crescente de mais de cem sítios religiosos ou históricos saqueados e destruídos pelos terroristas, entre os quais estão mesquitas, tumbas, templos e igrejas.

    Monumentos da antiguidade nas cidades de Níneve, Palmira e Hatra estão em ruínas. Também museus e bibliotecas foram alvos de pilhagem, com livros queimados e obras de arte destruídas com martelos —ou roubadas para venda.

    Soldados e conselheiros militares norte-americanos trabalharam para proteger e honrar o mosteiro, uma empreitada de esperança em um local e tempo violentos. "Muita gente deve estar questionando para que serviram os dez últimos anos se esses caras puderam chegar lá e destruir tudo", disse a coronel Mary Prophit, da reserva do Exército dos Estados Unidos, que serviu na região de Mossul em 2004 e 2009.

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    VÍDEOS MOSTRAM DESTRUIÇÃO DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO PELO ESTADO ISLÂMICO

    Santuário do século 13 dedicado ao imã Awn al-Din, em Mossul, Iraque

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    Mesquita do profeta Jonas, destruída em julho de 2014, em Mossul, Iraque

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    Estátuas da cidade de Níneve são destruídas em Mossul

    Veja vídeo

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    HISTÓRIA

    Construído em 590, o mosteiro de Santo Elias foi palco de uma tragédia já em 1743, quando cerca de 150 monges que se recusaram a se converter ao islamismo foram massacrados por um general persa.

    Em 2003, o mosteiro sofreu novo abalo —dessa vez porque uma muralha foi demolida por uma torre de tanque que explodiu em combate. Na época, tropas iraquianas ocupavam o local e enchiam a cisterna do mosteiro de lixo.

    Quando a 101ª Divisão Aeroterrestre do Exército dos Estados Unidos assumiu o controle da área, soldados picharam sobre murais antigos e paredes o seu nome de guerra: "Screaming Eagles". Foi então que um capelão militar dos Estados Unidos reconheceu a importância do local e criou uma iniciativa de preservação.

    Para Jeffrey Whorton, capelão católico do Exército norte-americano que já celebrou missa no altar do mosteiro, a perda foi dolorosa. "Por que eles tratam uns aos outros dessa maneira é algo que não consigo compreender", disse. "O profeta Elias deve estar chorando".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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