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    Polarizados, Estados Unidos largam para corrida presidencial

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    24/01/2016 02h00

    A julgar pelos tiros de largada da campanha, os Estados Unidos caminham para uma das eleições presidenciais mais polarizadas de sua história. Os favoritos dos dois partidos por ora, Hillary Clinton e Donald Trump, são também os que têm mais rejeição —sintoma da divisão do eleitorado norte-americano.

    Em seu último discurso sobre o Estado da União, o presidente Barack Obama prometeu consolidar o lado positivo de seu legado, como a recuperação econômica, mas admitiu uma derrota, um ano antes de deixar o cargo.

    "O rancor e a desconfiança entre os partidos ficaram piores", lamentou.

    Pesquisas mostram o aumento contínuo da polarização política nos EUA nos últimos 20 anos, e os pré-candidatos não escondem isso.

    No primeiro debate democrata, Hillary incluiu os republicanos entre seus inimigos. Para os republicanos, a disputa é sobre quem bate mais em Hillary e Obama. Sem medir palavras, como fez o governador de Nova Jersey, Chris Christie, que prometeu "chutar o traseiro" de Obama para fora da Casa Branca.

    PRÉVIAS

    Neste cenário de extremos, o país começa a escolher seu próximo presidente em oito dias, em 1º de fevereiro, quando os partidos farão as primeiras prévias, em Iowa.

    Embora seja só a largada, a prévia de Iowa é considerada crucial para medir a temperatura da campanha e as chances reais dos candidatos após meses de bate-boca.

    Com a ameaça terrorista voltando a assombrar os norte-americanos, após a ascensão da facção Estado Islâmico e os atentados em Paris e San Bernardino (Califórnia), alguns analistas afirmam que a política externa poderá ser o tema dominante da campanha, batendo a economia.

    "Definitivamente acho que a política externa terá um grande peso", disse à Folha Christopher Rudolph, professor de relações internacionais da American University. Para ele, além da ameaça terrorista, outras questões manterão o cenário externo em destaque, como o acordo nuclear com o Irã e as intrincadas relações com China e Rússia.

    Brendan Hoffman/Getty Images/AFP
    Favorita a vencer a eleição e a primária de seu partido, Hillary Clinton faz campanha em Iowa
    Favorita a vencer a eleição e a primária de seu partido, Hillary Clinton faz campanha em Iowa

    "Os republicanos têm sido muito críticos à política externa de Obama, e a maioria vê no tema oportunidade."

    Em texto na revista "Foreign Policy", o analista Bruce Stokes nota que as eleições presidenciais nos EUA raramente focam a política externa, como lembra o slogan "É a economia, estúpido", da campanha de Bill Clinton.

    Mas ele acha que neste ano os humores e temores do eleitorado viraram. Pesquisas do Centro Pew mostram que na véspera da última eleição, em 2012, 55% dos norte-americanos citavam a economia como o tema mais importante. Numa pesquisa recente, 32% indicaram os assuntos externos como maior desafio, contra 23% para economia.

    Simon Jackman, cientista político da Universidade Stanford, afirma que o fato de Hillary ter sido secretária de Estado dará mais visibilidade às questões de política externa, mas prevê que temas como emprego, impostos, seguro saúde e deficit continuem sendo dominantes.

    Para Hillary, afirma, uma campanha com foco externo poderia ser um trunfo, por sua experiência, e um ponto vulnerável para as críticas a seu desempenho em fiascos como o ataque ao consulado dos EUA em Benghazi (Líbia).

    A polarização também pode ajudar Hillary, já que os democratas têm vantagem de 5% entre os eleitores registrados para votar nas prévias, diz Bruce Buchanan, especialista em política presidencial da Universidade de Austin, Texas. "Mas um presidente democrata ainda pode ter que encarar um Congresso republicano, e com mais dificuldade que Obama", lembra.

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