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    Formação de novo governo na Espanha põe à prova rei Felipe 6º

    FERNANDA GODOY
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI

    25/01/2016 02h00

    Coube ao rei da Espanha, Felipe 6º, informar ao secretário-geral do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), Pedro Sánchez, que Pablo Iglesias, líder do Podemos, deseja ocupar a vice-presidência em sua possível coalizão de esquerda.

    Horas depois, o atual premiê, Mariano Rajoy (PP), último líder a ser recebido pelo rei na sexta (22), desistia, ao menos temporariamente, de tentar formar novo governo.

    Andres Ballesteros/Reuters
    O rei da Espanha, Felipe 6º (à esquerda), recebe o premiê do país, Mariano Rajoy, nesta sexta (22)
    O rei da Espanha, Felipe 6º (à esquerda), recebe o premiê do país, Mariano Rajoy, nesta sexta (22)

    "Entrei no Palácio da Zarzuela sem governo e saí com vários ministros nomeados", ironizou Sánchez, em referência ao fato de o Podemos reivindicar também vários ministérios.

    Foi o momento mais inusitado de um mês em que a monarquia espanhola está sendo posta à prova em três frentes: a negociação para a formação do novo governo, o desafio independentista na Catalunha e o julgamento da princesa Cristina de Borbón como um dos 18 réus do caso Nóos, uma trama de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro.

    Após os resultados das eleições de 20 de dezembro, fragmentados entre quatro partidos principais e uma variedade de siglas nacionalistas e/ou separatistas de regiões como a Catalunha e o País Basco, o rei iniciou uma rodada de entrevistas com os líderes políticos no dia 18.

    As negociações, as mais complexas desde o restabelecimento da democracia, há 40 anos, são um teste para a neutralidade e até para a utilidade da figura do monarca.

    "Do ponto de vista legal, a margem de manobra do rei é limitada. A Constituição lhe atribui papel quase simbólico, mas ele tem de ser o único árbitro possível, exatamente por não ser parte interessada", diz Miguel Cruz, da Universidade de Barcelona.

    Com a recusa de Rajoy a se apresentar à eleição no Congresso, o rei inicia novas consultas nesta quarta (27).

    O partido de Rajoy foi o mais votado pelos espanhóis, conquistando 123 deputados. O número ficou, no entanto, muito abaixo da maioria absoluta (176), e Rajoy não conseguiu angariar novos apoios.

    O social-democrata Sánchez, com 90 deputados eleitos deputados do PSOE, agora tentará concretizar essa maioria, com possíveis acordos com o Podemos (69) e outras siglas menores.

    Nas conversas com líderes políticos, além de tratar da escolha do novo chefe de governo, Felipe 6º também tem ouvido muitos apelos por reformas constitucionais.

    A esquerda e os partidos separatistas questionam o regime de monarquia parlamentarista apoiado pela maioria dos espanhóis.

    No barômetro do CIS (Centro de Investigações Sociológicas) de dezembro de 2015 sobre as principais preocupações dos espanhóis, a monarquia aparece como traço.

    Felipe 6º recuperou parte do prestígio monárquico abalado pelo caso Nóos e pelo desgaste da imagem de Juan Carlos nos últimos anos. Adotou como regra recusar presentes caros. Leiloou uma Ferrari que seu pai havia ganhado da Arábia Saudita. Cassou títulos de nobreza da irmã e do cunhado, e afastou-os das celebrações familiares.

    Cristina é acusada de envolvimento em um esquema fraudulento de € 6 milhões (R$ 26,5 milhões) envolvendo administrações do PP e o instituto comandado pelo marido da princesa, o ex-atleta olímpico Iñaki Urdangarin.

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