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    Análise

    Republicanos enfrentam divisão ideológica mais radical em disputa

    MICHAEL KEPP
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    01/02/2016 07h00

    Na véspera da prévia que inicia o processo de escolha dos candidatos para disputar a Presidência dos EUA em novembro, os republicanos se veem diante de um deslocamento ideológico para a extrema direita provocado por dois pré-candidatos de espírito inconformista que lideram as pesquisas e ameaçam alterar a identidade de seu partido.

    O establishment republicano teme que, se o magnata Donald Trump, o favorito das pesquisas, for o escolhido por seu partido, seu nacionalismo xenofóbico –expresso em seu chamado para que todos os imigrantes ilegais sejam deportados e para que muçulmanos sejam impedidos de entrar no país– e sua política externa não intervencionista vão mudar fundamentalmente aquilo que o partido representa.

    Scott Olson/AFP
    Os pré-candidatos republicanos Donald Trump (à esq.) e Ted Cruz, em debate no último dia 14
    Os pré-candidatos republicanos Donald Trump (à esq.) e Ted Cruz, em debate no último dia 14

    As posições políticas dissidentes de Trump são a razão pela qual a revista "National Review", vista como a bíblia do conservadorismo, dedicou seu número mais recente a 22 colaboradores que argumentaram por que são todos "Contra Trump", a manchete da capa.

    Enquanto isso, o senador Ted Cruz, ultraconservador que está em segundo lugar nas pesquisas, atrás de Trump, é uma figura repudiada até por seus colegas de partido no Senado. O senador republicano Lindsey Graham disse recentemente que escolher entre ele e Trump "é como morrer baleado ou envenenado. Que diferença faz?"

    Apenas se o número de candidatos republicanos encolher depois das primárias de Iowa e New Hampshire, permitindo que os eleitores mais moderados se unam em torno de um conservador mais centrista –provavelmente o senador Marco Rubio– é que esse nome poderá tirar a indicação de Trump ou Cruz.

    MÉDIA DAS PESQUISAS PARA IOWA - Republicanos (em %)

    DEMOCRATAS

    Enquanto os republicanos encaram um grande deslocamento para a extrema direita, os democratas estão diante de uma divisão ideológica mais convencional –entre a moderada Hillary Clinton, líder nas pesquisas, e o senador Bernie Sanders, que se descreve como socialista.

    Candidato inspirador, Sanders ameaça derrotar Clinton na prévia de 1º de fevereiro em Iowa e na primária de 9 de fevereiro em New Hampshire, porque ele faz campanha em poesia. Enquanto isso, Clinton, alardeando sua experiência, promete governar em prosa.

    O quixotesco Sanders propôs uma agenda progressista (desde universidades públicas gratuitas até saúde universal gratuita) que ele sabe que o Congresso jamais aprovará. Além disso, o Partido Democrata nunca nomeou um socialista como seu candidato presidencial.

    Mesmo que Sanders vença as prévias de Iowa e New Hampshire, Clinton, que se sai melhor nas campanhas quando parte da retaguarda, pode ultrapassá-lo em março, nas primárias e caucus em Estados conservadores do Sul e Oeste do país, onde ela tem o apoio de negros e hispânicos.

    Assim, Sanders terá que superar muitos obstáculos para conquistar a indicação do Partido Democrata.

    MÉDIA DAS PESQUISAS PARA IOWA - Democratas (em %)

    Como as disputas entre Trump e Cruz e entre Sanders e Clinton são altamente competitivas, é provável que nenhum candidato, republicano ou democrata, tenha a certeza de ser nomeado por seu partido antes das prévias em vários Estados em abril ou mesmo maio.

    Até lá, Clinton deve emergir como a centrista para enfrentar a extrema direita de Trump ou Cruz. Se isso acontecer, ela deve vencer a eleição presidencial, porque o americano médio, em oposição aos membros mais extremistas das bases partidárias que votam nas prévias, tende a apostar em candidatos moderados.

    Trump, Cruz e Sanders encontraram um público na base de seus partidos que está insatisfeito com os salários e juros estagnados e com a desigualdade econômica crescente.

    Sob o presidente Obama, porém, a economia se recuperou, mesmo que não de modo robusto, o desemprego diminuiu muito e foi promulgada a reforma da saúde, a conquista mais importante de Obama.

    Assim, a maioria dos americanos não está suficientemente decepcionada para votar por uma mudança ideológica de rumo do país, algo que Trump, Cruz ou Sanders representariam.

    É por isso que, na campanha, Clinton abraça o legado de Obama. Ela sabe que a maioria dos americanos, confrontada com uma alternativa radical às políticas dele, preferiria sua continuidade.

    MICHAEL KEPP, jornalista americano radicado há 33 anos no Brasil, é autor do livro "Um pé em cada país" (Tomo Editorial)

    Tradução de CLARA ALLAIN

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