• Mundo

    Sunday, 05-May-2024 10:30:30 -03

    Sem novo governo, congressistas espanhóis temem perder o emprego

    FERNANDA GODOY
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
    EM MADRI

    06/02/2016 17h00

    A ansiedade em saber se seu emprego continuará existindo daqui a três meses chegou à elite política espanhola, que não está mais a salvo do trabalho precário, regime no qual vivem mais de 4,5 milhões de pessoas no país.

    Passados 49 dias das eleições parlamentares que deram um resultado fragmentado, os quatro principais partidos (PP, PSOE, Podemos e Cidadãos) até agora foram incapazes de se entender para formar um novo governo.

    Para muitos dos 350 deputados e 208 senadores eleitos em dezembro, a ameaça de uma repetição das eleições ainda neste semestre seria mais que um fracasso político. Significaria um risco para seu emprego.

    Inseguros, parlamentares de fora de Madri não se arriscaram ainda a assinar contrato de aluguel na capital.

    Eles usam os € 1.823 (R$ 7.950) de auxílio-moradia a que têm direito mensalmente para pagar hotéis, flats ou até albergues, caso dos esquerdistas do Podemos, mais frugais, adeptos do uso de bicicletas para ir ao Congresso.

    Eleitos pela aliança En Marea/Podemos, oito autodenominados "precários" deputados e senadores da Galícia esperam a formação do governo para alugar um apartamento onde montarão uma república.

    De acordo com a senadora Vanessa Angustia, 35, líder do grupo, o momento é de espera. Formada em história da arte, ela é novata no Senado, mas não no mundo da precariedade. Teve vários contratos curtos e períodos de desemprego. Seu último emprego foi como guia de um museu em Pontevedra.

    "Essa insegurança, essa sensação de não saber se vamos ter trabalho amanhã, não é nada estranha para os trabalhadores espanhóis", diz Angustia.

    Fernanda Godoy/Folhapress
    Vanessa Angustia, do En Marea, da Galicia, que concorreu aliada ao Podemos. Ela e novata no Senado e, junto com o grupo de seis deputados, esta esperando a formacao de um governo antes de se atrever a alugar um apartamento. Angustia (que nome!), 35, e formada em historia da arte e seu emprego anterior era de guia de museu. Teve vários empregos precários antes de chegar ao primeiro cargo público. Foto: Fernanda Godoy ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A senadora Vanessa Angustia, da aliança En Marea/Podemos, da Galícia

    CONTRATO TEMPORÁRIO

    A economia da Espanha está em recuperação após o colapso causado pelo estouro da bolha imobiliária em 2007 e pela crise mundial a partir de 2008.

    O PIB cresceu 3,2% no ano passado, e o aumento da geração de vagas foi comparável ao de 2006, pré-crise. Mas o emprego precário, com salários achatados, contratos curtos e/ou jornadas reduzidas, se tornou uma tendência difícil de reverter.

    De 505.700 vagas em tempo integral abertas em 2015, 66% foram contratos curtos, com duração média de 53 dias.

    "Chegamos ao extremo de ter um posto de trabalho sempre ocupado por pessoas com contrato temporário", diz a professora de economia Àngels Valls, da Esade Business School, em Madri.

    Nesse cenário, uma vaga de deputado, com salário de € 2.813 (R$ 12.270) e suposta estabilidade por quatro anos, era quase uma miragem.

    Mas a estabilidade se desfez com o novo quadro político. O premiê Mariano Rajoy (PP) e seus ministros continuam interinamente nos cargos, não se sabe até quando.

    O secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, foi encarregado pelo rei Felipe 6º de tentar montar uma coalizão vitoriosa. Deverá se submeter à primeira votação no começo de março. Se não conseguir maioria em até dois meses, haverá novas eleições.

    EFE/Sergio Barrenechea
     06/02/2016.- El secretario general del PSOE, Pedro Sánchez, durante la reunión con el presidente del PNV, Andoni Ortuzar, hoy en el Congreso de los Diputados, con lo que completa la primera ronda de reuniones encaminadas a intentar entablar un acuerdo de gobierno. EFE/Sergio Barrenechea ORG XMIT:
    Pedro Sánchez, em encontro com o presidente do Partido Nacionalista Basco (PNV)

    Com toda a angústia, a situação dos atuais eleitos ainda é melhor que a do ex-deputado Andrés Herzog, que era líder do UPyD (União, Progresso e Democracia), que não elegeu ninguém em dezembro.

    Herzog, 42, entrou na fila do seguro-desemprego. E ainda teve senso de humor para postar no Facebook um diálogo imaginário com o funcionário que o atendesse.

    À pergunta sobre sua última ocupação responderia "candidato a presidente do governo (premiê)". E sobre a data da demissão: "20 de dezembro, dia das eleições, notificada mediante cédula eleitoral pelos cidadãos".

    Taxa de desemprego na Espanha - Em %

    Emprego precário - Recuperação econômica se faz com alta proporção de contratos temporários

    Espanha X Brasil - Comparações em R$

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024