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    Dívida de estudantes vira tema eleitoral e alavanca Bernie Sanders

    THAIS BILENKY
    DE NOVA YORK

    07/02/2016 02h00

    O nova-iorquino Juan Hernandez tem 61 anos. Há 30, tem uma dívida com o governo que ele calcula em cerca de US$ 12 mil (R$ 46,8 mil) pelo curso de audiovisual na City College, faculdade pública da cidade. Ele não concluiu a graduação.

    Juan é eletricista das 9h às 17h. Depois do expediente, dedica-se à causa em que acredita, o comunismo.

    Na sala que alugou nos fundos de uma loja de fantasias no centro de Manhattan, batizado de "quarto de guerra", ele faz campanha para o pré-candidato Bernie Sanders se tornar o 45° presidente dos Estados Unidos.

    "Eles vivem me mandando cartas de cobrança", diz, com desdém ("eles" é o governo). "Se gastam milhões para bombardear países indefesos, não precisam do meu dinheiro." Por isso ele apoia a promessa de Sanders, que é socialista, de tornar as instituições públicas de ensino superior gratuitas.

    "O que ele diz não é suficiente", acredita, "mas é o que temos de melhor".

    O caso de Hernandez ajuda a explicar a ascensão de Sanders na disputa pela nomeação democrata com a ex-secretária de Estado Hillary Clinton.

    Carlo Allegri - 12.nov.2015/Reuters
     hold up signs and chant slogans as they attend a demonstration calling for lower tuition at Hunter College in the Manhattan borough of New York November 12, 2015. Students held rallies on college campuses across the United States on Thursday to protest ballooning student loan debt for higher education and rally for tuition-free public colleges and a minimum wage hike for campus workers. REUTERS/Carlo Allegri ORG XMIT: NYC103
    Estudantes do Hunter College, em Nova York, fazem manifestação pedindo ensino gratuito

    O eletricista não vota no Partido Democrata, mas abriu uma exceção.

    Como ele, quase 45 milhões de pessoas (14% da população do país, de 323 milhões de habitantes) estão em dívida para pagar a faculdade nos Estados Unidos.

    O total devido mais do que dobrou na última década e foi a US$ 1,2 trilhão em 2015.

    Entre os jovens, o problema é agudo. O valor da dívida média por aluno aumenta ano a ano, com juros altos e mensalidades caras.

    Estudantes deixam a faculdade com uma pendência que se estende por vários anos, a níveis mais alarmantes entre a camada de renda mais baixa.

    O presidente Barack Obama tentou diversos pacotes para combater o problema. Nos últimos meses, o governo anunciou o perdão da dívida de alunos de redes de ensino superior.

    Uma investigação federal concluiu que faculdades vendiam promessas falsas de garantia de empregos após a graduação, argumento que pode ser usado pelos ex-alunos na hora de reivindicar refinanciamentos.

    ANGÚSTIA

    A promessa de acabar com a mensalidade das instituições públicas respondeu à angústia dos jovens americanos. Sanders desbancou Hillary entre essa parcela do eleitorado.

    Em Iowa, Estado que inaugurou as prévias na segunda-feira (1º), o senador obteve 84% dos votos dos eleitores democratas com idade entre 17 e 29 anos. A ex-secretária de Estado teve 14%.

    A plataforma de Hillary para atacar o problema da dívida estudantil é mais cautelosa. A pré-candidata promete tornar gratuitas apenas as instituições comunitárias e, assim como Sanders, sugere refinanciar a dívida a juros mais baixos.

    Entre os republicanos, o empresário Donald Trump e o senador Ted Cruz não apresentaram proposta formal para combater o problema.

    Sanders dá de ombros a críticas de que sua abordagem é inviável. "Esta é uma ideia radical: nos últimos 30 anos, trilhões de dólares foram redistribuídos [em detrimento] da classe média. Tornar faculdades e universidades gratuitas não é uma ideia radical", discursou, em janeiro.

    "Meus críticos dizem, 'bem, Bernie, é uma ótima ideia tornar essas coisas gratuitas, mas como você vai pagar por isso?' Vamos impor imposto à especulação de Wall Street", argumentou, na última semana.

    Erica Thuringer, 28, formou-se em direto há dois anos e se vê às voltas como uma dívida de US$ 200 mil (R$ 780 mil) da faculdade. "Não tenho perspectiva de sair da casa dos meus pais", reclamou. "Bernie entende os verdadeiros problemas dos americanos."

    Hillary reconhece a dificuldade de enfrentar a preferência dos eleitores mais jovens pelo oponente.

    "É incrível. Admito que tenho trabalho a fazer", afirmou em sabatina nesta semana. "Mas eles não precisam me apoiar. Eu os apoio."

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