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    Bibliotecário diz que ternura em cartas a filósofa era normal em João Paulo 2º

    DA AFP

    16/02/2016 13h59

    A reportagem da BBC que revelou que o papa João Paulo 2º teve uma intensa relação com uma filósofa americana casada, mesmo sem quebrar seu voto de castidade, foi uma "piada de Dia dos Namorados", ironizou nesta terça-feira (16) o diretor da Biblioteca Nacional da Polônia.

    "É uma brincadeira, não é algo sério", declarou Tomasz Makowski, diretor dos arquivos onde as cartas foram encontradas.

    "É preciso recordar que, na década de 1970, a polícia polonesa tinha microfones em todos os lugares, seguia de perto os bispos. Eles já não saberiam o que depois foi descoberto por um jornalista britânico?".

    Após ler as 350 cartas, Makowski afirma que o documentário da TV britânica brinca com uma certa ambiguidade dos textos. "Dizem que o papa não violou o celibato, mas sugerem exatamente o contrário".

    Makowski explica que as fotos exibidas pela BBC, que mostram Karol Wojtyla e Anna-Teresa Tymieniecka, dão a impressão de que estão sozinhos, quando, na realidade, foram tiradas em uma excursão na qual havia mais pessoas.

    O acadêmico argumenta que as expressões interpretadas como sinais de ternura –como "você é um presente dos céus"– eram coisas que o pontífice usava frequentemente em suas correspondências.

    "Quem não sabe isso tira conclusões que não têm relação com a realidade", afirmou.

    Makowski disse ainda que João Paulo 2º não tinha medo de ter contato com mulheres, fossem laicas ou religiosas, e assinalou que em uma das cartas dirigidas a sua amiga, Wojtyla termina o texto abençoando o marido e os filhos dela.

    Paolo Cocco - 10.abr.2003/AFP
    O papa João Paulo 2º observa pomba durante encontro com jovens de Roma e do Lácio, em preparação do 18º Dia Mundial da Juventude, na praça São Pedro, no Vaticano. *** TO GO WITH AFP STORY:Pope John Paul II's relics draw faithful in Poland FILES) Pope John Paul II watches a dove in front of him during a celebration in St Peter's Square for tens of thousands of youths from Rome and the surrounding province of Lazio, ahead of the 18th world youth day celebrations on Palm Sunday on April 10, 2003 in the Vatican City. AFP PHOTO PAOLO COCCO
    O papa João Paulo 2º na praça São Pedro, no Vaticano, em 2003

    'NADA EXTRAORDINÁRIO

    "Não há nada de extraordinário no fato de João Paulo 2º ter tido amizades estreitas com diferentes pessoas, fossem homens ou mulheres", reagiu o Vaticano. "Ninguém se dirá surpreso com esta informação", acrescentou.

    A Biblioteca Nacional polonesa também não demorou a reagir e negou a possibilidade de existência de uma relação amorosa.

    "As teses formuladas pelos meios de comunicação não têm confirmação nenhuma nas cartas, que fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional", declarou a instituição em um comunicado.

    "Essa relação era amplamente conhecida e descrita em inúmeras publicações", reforçou a biblioteca.

    "João Paulo 2º estava cercado por um círculo de amigos eclesiásticos e laicos, com os quais mantinha um estreito contato. Este círculo também incluía Anna-Teresa Tymieniecka, mas a relação com ela não era nem confidencial nem excepcional", informou o comunicado.

    "Querida Teresa, recebi as três cartas. Você escreve que está dilacerada, mas não pude encontrar nenhuma resposta para as suas palavras", escreveu o futuro papa em uma carta de 1976, na qual a descreve como "um presente dos céus".

    "Eram mais que amigos, mas menos que amantes", afirma Stourton, que insiste que não encontrou nas cartas nenhuma prova de que João Paulo 2º tenha rompido o voto de castidade.

    Segundo Adam Boniecki, um sacerdote polonês que conheceu bem João Paulo 2º, é possível que a universitária estivesse apaixonada por Karol Wojtyla antes que ele se tornasse papa.

    "Algumas mulheres acabam se apaixonando pelos sacerdotes, e isso sempre cria um problema", declarou à AFP o padre Boniecki, que dirigiu durante anos, em Roma, a edição polonesa do jornal vaticano "L'Osservatore Romano".

    INTENSA

    Na reportagem da BBC, o jornalista Edward Stourton disse ter descoberto correspondências que mostrariam que o papa manteve por mais de 30 anos uma amizade intensa com Tymieniecka.

    "As cartas são a janela mais extraordinária sobre a vida privada de uma das pessoas mais célebres da história", afirmou o jornalista.

    A americana de origem polonesa Tymieniecka entregou à Biblioteca Nacional polonesa as cartas que recebeu do papa.

    Segundo o programa, as correspondências dariam a entender que a universitária estava apaixonada pelo cardeal Wojtyla.

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