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    Após ordem judicial, Apple se recusa a desbloquear iPhone de terrorista

    JOHN MURRAY BROWN
    DO "FINANCIAL TIMES"

    17/02/2016 13h09

    A Apple e o FBI, principal polícia federal dos EUA, entraram em mais uma queda de braço sobre privacidade e segurança, desta vez envolvendo o atentado que culminou na morte de 14 pessoas em San Bernardino, Califórnia, no início de dezembro passado.

    Na terça-feira, um juiz federal em Los Angeles ordenou que a empresa oferecesse "assistência técnica razoável" ao inquérito conduzido pelo FBI sobre a chacina.

    Jim Wilson/The New York Times
    O presidente-executivo da Apple, Tim Cook
    O presidente-executivo da Apple, Tim Cook

    O FBI quer que a Apple crie um software para contornar o sistema de segurança do iPhone e evitar que o aparelho deflagre seu atual sistema de "apagamento automático". O recurso destrói todos os dados inseridos no aparelho caso haja dez tentativas seguidas de acesso usando senhas incorretas.

    Mas a empresa reagiu contra a decisão e disse que apelará em uma instância mais alta -o que pode levar o caso à Suprema Corte.

    Tim Cook, o presidente-executivo da Apple, declarou em carta aos clientes postada no site da empresa que se sente "na obrigação de falar" diante do que vê como "abuso de poder da parte do governo dos Estados Unidos". No texto, Cook define as implicações do caso como "assustadoras".

    O iPhone em questão pertencia a Syed Farook, que em companhia de sua mulher cometeu homicídio em massa contra colegas no Departamento de Saúde Pública do condado de San Bernardino. Farook e a mulher foram mortos depois em tiroteio com a polícia.

    Cook disse ter "grande respeito pelo FBI", mas acrescentou: "O governo dos EUA pediu algo que não temos e consideramos perigoso demais criar, uma entrada secreta para o iPhone".

    Para o executivo, o governo dos Estados Unidos estava "pedindo que a Apple agisse como hacker contra seus usuários, e solapasse décadas de avanços de segurança que protegem os clientes —entre os quais dezenas de milhões de cidadãos norte-americanos— contra hackers e criminosos cibernéticos".

    Ele descreveu as implicação das demandas do governo como "assustadoras" e disse que as autoridades "poderiam estender essa violação de segurança e exigir que a Apple crie softwares de vigilância para interceptar suas mensagens, acessar seus registros médicos ou dados financeiros, rastrear sua localização ou mesmo acessar o microfone e câmera de seus celulares sem o seu conhecimento".

    O impasse entre a Apple e o governo dos Estados Unidos marca uma escalada na batalha quanto ao uso de dados cifrados por empresas. As autoridades se queixam de que isso dificulta recolher provas em investigações de terrorismo e outros crimes. As companhias de tecnologia reagem argumentando que as funções de segurança existem para proteger clientes contra hackers.

    Arquivo Pessoal/Facebook
    Vítimas do massacre em San Bernardino: (da esq. para dir, a partir do topo): Nicholas Thalasinos, Sierra Clayborn, Michael Wetzel, Aurora Godoy, Damian Meins, Bennetta Bet-Badal, Yvette Velasco, Daniel Kaufman
    Vítimas do massacre em San Bernardino: (da esq. para dir, a partir do topo): Nicholas Thalasinos, Sierra Clayborn, Michael Wetzel, Aurora Godoy, Damian Meins, Bennetta Bet-Badal, Yvette Velasco, Daniel Kaufman

    A Apple vem expressando oposição vigorosa aos esforços governamentais para reforçar a vigilância sobre seus clientes, afirmando que as novas leis de vigilância propostas no Reino Unido, por exemplo, acarretam o risco de paralisar o setor de tecnologia.

    O uso de dados cifrados para reforçar a segurança de dados foi ampliado depois das revelações de Edward Snowden, ex-prestador de serviços à Agência Nacional de Segurança (NSA) norte-americana que revelou milhares de documentos secretos do governo dos Estados Unidos, oferecendo provas das dimensões da vigilância do governo sobre cidadãos comuns.

    Eleições

    O assunto foi captado pelos principais pré-candidatos republicanos à Casa Branca.

    Para Donald Trump, líder nas pesquisas com eleitores da oposição, o desbloqueio se trata de "bom senso".

    O senador Marco Rubio disse que o tema é "delicado" e requer que "governo e empresas trabalhem juntos por uma solução", mas que espera cooperação da Apple.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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