• Mundo

    Saturday, 27-Apr-2024 17:22:00 -03

    Irã vota pela primeira vez após acordo nuclear; entenda eleição

    DA ASSOCIATED PRESS
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    26/02/2016 09h56

    Ebrahim Noroozi/Associated Press
    Iranianos fazem fila para votar em Qom, a 125 quilômetros da capital do país, Teerã
    Iranianos fazem fila para votar em Qom, a 125 quilômetros da capital do país, Teerã

    Nesta sexta (26), pela primeira vez desde o acordo nuclear que pôs fim às sanções contra a República Islâmica, a população iraniana elegerá um novo Parlamento.

    Também serão as primeiras eleições desde que o político moderado Hasan Rowhani chegou à Presidência, após prometer incentivar a economia, fortalecer alianças internacionais e garantir mais liberdades à população.

    Entenda o pleito e o que está em jogo:

    ELEIÇÕES NO IRÃ?

    A Revolução Iraniana de 1979 criou a chamada República Islâmica do Irã, um governo com elementos tanto teocráticos quanto democráticos.

    A autoridade com mais poder civil e religioso do país é um clérigo xiita sênior conhecido como líder supremo. Aiatolá Ali Khamenei atualmente detém o posto, e sua posição não será diretamente afetada pelas eleições desta sexta (26). No entanto, ele tampouco, segundo a Constituição, pode anular o pleito.

    Já o presidente e os membros do Parlamento iraniano são diretamente eleitos, assim como a assembleia responsável por nomear o líder supremo.

    Ahmad Halabisaz/Xinhua
    Clérigos registram seu voto em sessão de Qom, no Irã; Parlamento e Assembleia de Especialistas serão renovados
    Clérigos em sessão de Qom, no Irã; Parlamento e Assembleia de Especialistas serão renovados

    Nem todos os cidadãos podem se candidatar às eleições no Irã. Todos os nomes precisam antes de ser aprovados ou vetados pelo Conselho de Guardiões, composto por seis especialistas religiosos e seis especialistas jurídicos que interpretam a Constituição.

    CARGOS EM DISPUTA

    Deverão ser eleitos nesta sexta (26) os representantes de dois órgãos.

    Um deles é o Parlamento —conhecido no país como Assembleia Consultiva Islâmica—, com 290 cadeiras e renovado a cada quatro anos.

    O outro é a Assembleia de Especialistas, conselho de clérigos que têm por função nomear um novo líder supremo caso morra o atual ocupante do posto.

    O Parlamento iraniano tem poder legislativo limitado. Todas as leis do país, antes de aprovadas pelo órgão, precisam do aval do Conselho de Guardiões. Além disso, os congressistas detém um poder limitado sobre o Orçamento e os gastos do governo, ainda que possam rejeitar a nomeação de ministros do governo e questioná-los.

    Atta Kenare/AFP
    Iranianos fazem fila para registrar seu voto em sessão eleitoral de Teerã
    Iranianos fazem fila para registrar seu voto em sessão eleitoral de Teerã

    O Congresso do Irã hoje é dominado por conservadores receosos da aproximação de Rowhani com países ocidentais e do alívio das restrições sociais internas. As eleições desta sexta podem mudar essa configuração e garantir mais apoio ao presidente.

    Além disso, o pleito servirá como termômetro da gestão de Rowhani, eleito em 2013, que deve buscar a reeleição no ano que vem.

    QUAL A IMPORTÂNCIA DA ASSEMBLEIA DE ESPECIALISTAS?

    Com 88 cadeiras, a Assembleia de Especialistas tem por missão nomear um sucessor, entre os seus membros, para o cargo de líder supremo, caso o atual ocupante morra. No entanto, para analistas, essa escolha provavelmente será vista como importante demais para ser deixada a cargo da assembleia —que, em vez disso, vai confirmar candidatos previamente selecionados.

    A Assembleia de Especialistas é renovada a cada oito anos. O atual líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, que tem a palavra final em todos os assuntos do Estado, tem 76 anos. Em 2014, ele passou por uma cirurgia de próstata, alimentando especulações sobre sua saúde.

    9.jan.2016/AFP
    O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, faz discurso em reunião em Teerã em 9 de janeiro
    O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, faz discurso em reunião em Teerã em 9 de janeiro

    O ex-presidente iraniano Akbar Hashemi Rafsanjani, atual membro da Assembleia de Especialistas, disse em dezembro que um comitê do órgão tinha começado a montar uma lista de possíveis sucessores de Khamenei.

    PRINCIPAIS POSIÇÕES POLÍTICAS

    O Irã tem dezenas de grupos e organizações políticas, mas não existem partidos, apenas candidatos individuais.

    De maneira geral, as eleições estão divididas entre os políticos de linha-dura e os moderados que apoiam as reformas de Rowhani. Também há independentes, que não estão alinhados com nenhum dos grupos.

    A maioria dos candidatos das eleições de sexta enfatizam a importância de reanimar a economia do Irã, fragilizada pela queda do preço do petróleo, pela inflação e pelo alto desemprego. O sucesso de Rowhani com o acordo nuclear, que beneficiou a economia interna ao pôr fim às sanções, deve impulsionar a candidatura dos moderados.

    Reuters
    Presidente do Irã, Hassan Rouhani, acena após votar nas eleições desta sexta (26) em Teerã
    Presidente do Irã, Hasan Rowhani, acena após votar nas eleições desta sexta (26) em Teerã

    Ainda assim, muitos nomes que advogam por mais reformas foram barrados de participar nas eleições, e dois líderes da oposição que se candidataram à Presidência em 2009 continuam sob prisão domiciliar. Também ativistas pró-reformas estão presos.

    QUEM CONCORRE?

    Dos mais de 12 mil nomes que se inscreveram (entre eles, homens, mulheres, clérigos e leigos), apenas 6.200 foram autorizados a saírem como candidatos nas eleições.

    O Conselho de Guardiões desqualificou muitos que via como insuficientemente leais ao sistema ou que não foram considerados "bons muçulmanos".

    Os que advogam por reformas foram os mais afetados. Inicialmente, apenas 30 de 3.000 nomes reformistas tinham sido aprovados, de acordo com a Associated Press. Depois, o Conselho reviu sua posição, e cerca de 200 foram autorizados a concorrer.

    Entre os que foram desqualificados está Hassan Khomeini, neto do fundador da República Islâmica, aiatolá Ruhollah Khomeini.

    COMO É A PARTICIPAÇÃO?

    Apesar do controle de clérigos conservadores e do líder supremo sobre as questões políticas, muitos iranianos encaram as eleições de sexta (26) como uma oportunidade de manifestar seu repúdio aos políticos de linha dura.

    Eles já conseguiram isso antes. A grande classe média iraniana sente que conquistou uma vitória em 2013 com a eleição de Rowhani para presidente.

    Ahmad Halabisaz/Xinhua
    Iranianas deixam sessão eleitoral após votarem na cidade de Qom
    Iranianas deixam sessão eleitoral após votarem na cidade de Qom

    O QUE ISSO SIGNIFICA PARA AS RELAÇÕES DO IRÃ COM O OCIDENTE?

    É pouco provável que as eleições mudem a política externa do Irã, sob controle do líder supremo.

    Khamenei tem sido irredutível ao declarar que o acordo nuclear não representa o primeiro passo em uma reconciliação ampla com o Ocidente. Ele deixou igualmente claro que espera que o novo Parlamento tenha viés antiocidental.

    Uma vitória da linha dura não colocará o acordo nuclear em risco porque foi aprovado por Khamenei. Mas a ampliação da presença de moderados e reformistas no novo Parlamento pode permitir que Rowhani continue a estabelecer relações com a Europa com menos pressão e obstáculos.

    -

    FIM DO ISOLAMENTO IRANIANO
    Reaproximação com Irã assusta antigos aliados dos EUA

    Fim do isolamento iraniano

    -

    E O RESULTADO?

    É difícil prever quando serão divulgados os resultados da eleição.

    Devido ao sistema de votação em listas, os vencedores serão identificados aos poucos, possivelmente a partir da noite de sábado (27) e madrugada de domingo (28), ou talvez na segunda-feira (29).

    Mesmo assim, como não existem partidos políticos propriamente ditos, será difícil discernir qual linha política se saiu melhor.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024