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    Venezuela expulsa diplomata após protesto na Suíça constranger Maduro

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    26/02/2016 12h09

    O governo da Venezuela expulsou discretamente o chefe da missão diplomática da Suíça em Caracas após mal-estar causado por protestos que constrangeram o presidente Nicolás Maduro durante visita a Genebra, segundo a Folha apurou.

    O encarregado de negócios suíço, Benedict De Cerjat, saiu do país no início de fevereiro. Ele estava no cargo havia cinco meses.

    Fabrice Coffrini - 12.nov.2015/AFP
    Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, durante discurso ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em 2015
    Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em 2015

    O caso começou em novembro, quando Maduro esteve na sede do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, para defender-se das acusações de abusos cometidos pelo governo venezuelano.

    A visita ocorreu a pedido da Venezuela, o que gerou críticas de alguns diplomatas na ONU, já que o conselho não tem tradição de acatar solicitações unilaterais de discursos por parte de chefes de Estado.

    O desconforto entre diplomatas era agravado pelo fato de a viagem de Maduro ocorrer apenas três semanas antes da eleição parlamentar venezuelana, que vinha sendo precedida de tensa campanha e acabou vencida pela oposição.

    Em seu discurso, o presidente negou haver violações de direitos humanos na Venezuela e detalhou o que considera ser avanços sociais históricos conquistados graças às políticas chavistas.

    A grave crise na Venezuela, disse Maduro, é fruto de uma guerra econômica travada por setores capitalistas que buscam jogar a população contra o socialismo.

    Do lado de fora da ONU, porém, a comitiva presidencial se deparou com um pequeno grupo de manifestantes venezuelanos que ostentavam cartazes e gritaram palavras de ordem como "Maduro traidor, assassino e ditador".

    Entre os manifestantes, estavam estudantes direitistas e uma tia de Leopoldo López, opositor radical preso há dois anos sob acusação de instigar violentos protestos que deixaram 43 mortos, incluindo policiais.

    EXPLICAÇÕES

    Dias depois do ocorrido em Genebra, a chanceler da Venezuela, Delcy Rodríguez, convocou o representante suíço em Caracas para cobrar explicações pelo que considerou uma falta de respeito com Maduro.

    Rodríguez exigiu que autoridades tomassem as devidas providências para que o caso nunca mais se repetisse. Mas De Cerjat argumentou que a Suíça, como democracia plena, garante às pessoas o direito de se expressarem livremente.

    Li Muzi - 15.fev.2016/Xinhua
    NUEVA YORK, febrero 16, 2016 (Xinhua) -- La ministra de Relaciones Exteriores de Venezuela, Delcy Rodriguez, conversa ante representantes de los medios de comunicación, en el debate del Consejo de Seguridad en las oficinas de la Organización de las Naciones Unidas (ONU), en Nueva York, Estados Unidos de América, el 15 de febrero de 2016. Delcy Rodriguez presidió un debate de nivel ministerial del Consejo de Seguridad con el tema del "Respeto a los propósitos y principios de la Carta de las Naciones Unidas como elemento clave para el mantenimiento de la paz y seguridad internacional" el lunes. (Xinhua/Li Muzi) (rtg)
    A ministra das Relações Exteriores da Venezuela, Delcy Rodriguez

    A resposta enfureceu a ministra, que ficou alterada e interrompeu a conversa. Ela informou Maduro sobre o caso, o que levou à decisão de declarar o diplomata persona non grata.

    Após o incidente, De Cerjat viajou à Suíça, onde permaneceu por algumas semanas na expectativa de que a situação se acalmasse. Enquanto isso, a oposição impôs humilhante derrota ao chavismo na eleição parlamentar.

    Em janeiro, ele voltou a Caracas para encerrar a missão e ir embora definitivamente.

    O incidente foi detalhado à Folha por pessoas familiarizadas com o caso. A Embaixada da Suíça em Caracas disse que não comentaria. O governo venezuelano não retornou pedidos de contato.

    Diplomata suíço retorna a Genebra

    POLÊMICA DO GOLFE

    Espécie de embaixador itinerante, De Cerjat estava encarregado de comandar a representação suíça até a nomeação de um ocupante permanente para substituir a chefe de missão anterior, que também saiu após envolver-se numa polêmica.

    Em junho de 2015, a então embaixadora Sabine Ulman colocou um cartaz no portão da residência oficial para avisar que os usuários de um clube de golfe vizinho estariam violando a legislação internacional caso alguma bola aterrissasse ferindo alguém na casa.

    "De acordo com a Convenção de Viena sobre as relações diplomáticas, esta residência é território suíço. Atirar bolas nesta residência é um perigo para qualquer pessoa e uma violação da Convenção de Viena. Se uma bola de golfe ferir o matar alguém solo suíço, será de inteira responsabilidade do jogador e do clube de golfe", dizia o cartaz, que a Federação Venezuelana de Golfe qualificou como "reação desmedida."

    A Chancelaria suíça repatriou Ulman após o incidente, que vinha sendo motivo de chacota.

    No caso do cartaz, porém, prevalece a avaliação de que o governo venezuelano estava satisfeito com a polêmica, já que considera o golfe um esporte de elite incompatível com a ideologia chavista.

    Em 2006, o então presidente Hugo Chávez havia ameaçado expropria o clube de golfe para construir casas populares.

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