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    Juiz da Argentina intima Cristina a depor sobre perdas em venda de dólar

    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    26/02/2016 18h25

    Pouco menos de três meses depois de deixar a Presidência da Argentina, Cristina Kirchner foi convocada pela Justiça a prestar esclarecimentos em um caso que investiga operações financeiras que, segundo estimativas, deverão provocar um prejuízo de cerca de 29 bilhões de pesos (aproximadamente R$ 7,3 bilhões) aos cofres públicos.

    Néstor J. Beremblum - 9.dez.2015/Agência Eleven
     09.12.2015 - ATO E DISCURSO DE CRISTINA KIRCHNER - A presidenta Cristina Fernández de Kirchner fala diante de milhares de pessoas na Praça de Maio no seu último discurso como mandatária argentina. (Foto: Néstor J. Beremblum / Agência Eleven) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
    Cristina Kirchner em seu último discurso como presidente, em 9 de dezembro, na Casa Rosada

    Esta é a primeira vez que Cristina é convocada pela Justiça desde que deixou a Casa Rosada, o que enfureceu kirchneristas.

    Além dela, o eX-ministro da Economia, Axel Kicillof, e o ex-presidente do Banco Central Alejandro Vanoli também foram convocados para explicações.

    Vanoli já foi indiciado. A participação de Cristina e Kicillof no caso ainda está sob investigação.

    A Justiça apura se houve má gestão de recursos pelo Banco Central, que turbinou as operações de venda de dólares no mercado futuro no fim do mandato de Cristina, entre setembro e novembro do ano passado.

    Nessas operações, o BC vendeu US$ 17 bilhões em contratos, segundo a Justiça, que preveem pagamento neste ano, quando Cristina já não seria mais presidente.

    A denúncia foi feita pelo partido do atual presidente, Mauricio Macri, ainda durante a campanha eleitoral de 2015, e foi encabeçada pelo atual ministro da Fazenda, Alfonso Prat-Gay.

    VALORES

    A polêmica está no valor do dólar negociado nesses contratos financeiros.

    Segundo a perícia feita por um grupo de renomados economistas, entre os quais o ex-presidente do Banco Central, Martín Redrado, foi praticada uma cotação muito abaixo do valor de mercado –o BC vendeu dólares cotados entre 10 e 12 pesos enquanto no mercado futuro a moeda era negociada a 14 pesos.

    No fim do ano passado, a nova administração do Banco Central negociou descontos com bancos que haviam comprado esses contratos. Mas uma grande parcela continua em vigor e será cobrada até junho.

    A Justiça quer saber se Cristina tinha conhecimento dessas operações.

    "Um presidente não pode permitir que se exponha a administração pública a uma dívida tão importante sem seu conhecimento. E, se a conhecia, a pergunta é 'por que não fez nada para interrompê-la?'", disse Redrado à Folha.

    "Como se cobre essa perda? Emitindo mais moeda, o que está gerando mais inflação", acrescentou.

    Na ocasião, Vanoli argumentou que a venda servia para estimular a queda do dólar, para conter a inflação.

    Nesta sexta (26), ele escreveu em uma rede social que o macrismo alimentou expectativas de desvalorização do peso (alta do dólar) "para favorecer certos setores".

    "Uma pena que o atual governo convalidou uma desvalorização que duplicou a inflação, que até outubro tinha tendência de baixa."

    Cristina e Kicillof não haviam se pronunciado até a conclusão desta edição.

    Nas redes sociais, kirchneristas protestaram contra a intimação a Cristina no dia 13 de abril. "Se citam a #Ela, nos citam a todos. Em 13/4 vamos aos tribunais", escreveu o peronista Martín Sabbatella.

    Desde que Cristina deixou o poder, foram abertos processos contra pelos menos sete de seus aliados.

    Ela também é alvo de investigação em um suposto caso de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro, que era conduzida pelo mesmo juiz que apura as operações com o dólar futuro: Claudio Bonadio.

    Em julho de 2015, ele foi removido do caso pois a defesa alegou parcialidade do juiz em suas decisões.

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