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    ANÁLISE

    Irã escolhe mais República ou mais islã

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    27/02/2016 07h00

    A eleição desta sexta-feira (26) no Irã é, acima de tudo, "mais um capítulo na luta pela alma da República Islâmica, em um momento chave de sua história", define Ali Vaez, analista sênior de Irã para o International Crisis Group.

    Para simplificar, trata-se de uma batalha para aferir se a República Islâmica do Irã é mais República ou mais Islâmica.

    Afinal, como explica Azadeh Kian-Thiébaut, outro analista iraniano, em "Questions Internationales", "o sistema político da República Islâmica, que combina autocracia religiosa e sufrágio universal, é inédito no mundo muçulmano moderno".

    Ahmad Halabisaz - 26.fev.2016/Xinhua
     A soldier stands guard at a polling station in the city of Qom, Iran, on Feb. 26, 2016. Large numbers of voters lined up in long queues in front of the polling stations in Iran's major cities since early Friday morning to cast their ballots in two key elections. The elections for Iran's Parliament (Majlis) and Assembly of Experts started at 8 a.m. local time. (Xinhua/Ahmad Halabisaz)
    Soldado vigia local de votação na cidade de Qom

    Mas é uma batalha de antemão perdida pelos reformistas, partidários de "mais República": o Conselho dos Guardiães, o organismo (não eleito) incumbido de zelar pela pureza da revolução islâmica, vetou 99% dos candidatos rotulados como reformistas, deixando o grupo com candidatos para apenas um quarto dos 290 assentos do Majlis, o Parlamento.

    Ou seja, mesmo que todos vençam em seus distritos, preencherão apenas 25% das vagas.

    Por isso mesmo, os reformistas tiveram de se aliar aos chamados centristas (caso, por exemplo, do presidente Hasan Rowhani) e até a conservadores moderados.

    Reduziram sua ambição a, por meio dessa aliança, "diluir o atual controle da linha dura sobre o poder, de forma a permitir mais espaço para a administração Rowhani avançar em suas prioridades econômicas e, na melhor das hipóteses, a conseguir progressos incrementais em reformas políticas", analisa Ellie Geranmayeh, pesquisadora do European Council on Foreign Relations.

    Ou, posto de outra forma: a eleição não tornará o Irã mais republicano, mas pode torná-lo menos duro e menos resistente às reformas que o centrista Rowhani gostaria de implementar, com apoio dos reformistas.

    Uma segunda eleição simultânea pode ser até mais significativa: a do Conselho de Especialistas, o grupo de 88 clérigos que elege o líder supremo.

    Por enquanto, o Conselho é apenas um centro de discursos de louvação ao chefe, mas, se o atual líder supremo, Ali Khamenei, 76 anos, morrer ou ficar incapacitado no curso do mandato do novo Conselho, caberá a este escolher o sucessor —e aí sim determinar os rumos do Irã.

    Como no caso do Parlamento, também no Conselho predominarão os ultraconservadores, mas é conveniente prestar atenção nos votos que terão candidatos moderados.

    Casos, por exemplo, do presidente Rowhani e de Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, duas vezes presidente, entre 1989 e 1997, um dos pais da revolução, hoje convertido a uma abertura política, ainda que relativa.

    Outros dois nomes que reforçariam o campo reformista são os de Mohammad Reza Aref, educado em Stanford e o mais saliente dos reformistas originais, e Ali Larijani, presidente do Parlamento, linha-dura que se converteu à moderação e foi essencial para a aprovação do acordo nuclear com as potências, que é a grande realização de Rowhani.

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