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    ANÁLISE

    Como Donald Trump dominou a campanha eleitoral nos EUA?

    MICHAEL BARONE
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    28/02/2016 02h00

    Como foi possível que alguém como o empresário Donald Trump virasse o líder na disputa da candidatura presidencial do Partido Republicano? Pode tal pessoa vir a tornar-se o 45º presidente dos Estados Unidos?

    Há duas respostas a essas perguntas.

    Uma é que Trump explorou o precário processo de prévias partidárias presidenciais americano.

    Ethan Miller -23.fev.2016/AFP
    Donald Trump discursa após vitória em prévias republicanas no Estado de Nevada no dia 23
    Donald Trump discursa após vitória em prévias republicanas no Estado de Nevada no dia 23

    A outra é que ele se beneficiou de seu status de celebridade, como bilionário que se gaba constantemente de seu sucesso —os brasileiros conhecem bem o tipo— e como astro de um reality show da televisão que por 14 anos se divertiu dizendo a candidatos a emprego "você está despedido!"

    O pai de Trump, cujo negócio imobiliário Donald herdou e ampliou imensamente, tinha relações estreitas com políticos da máquina partidária democrata em Nova York, e em vários momentos passados Trump apoiou democratas, incluindo Bill e Hillary Clinton.

    Mas, em 2000, ele também flertou com a ideia de candidatar-se à Presidência por um eventual terceiro partido. Ao longo dos anos, ele deu declarações sobre várias questões que destoavam da linha tanto do Partido Democrata quanto do Republicano.

    ASTÚCIA

    Olhando em retrospectiva, Trump tomou uma decisão astuta quando decidiu buscar a candidatura pelo Partido Republicano.

    Durante a Presidência de Obama, os eleitores republicanos se desencantaram com os líderes de seu partido.

    Eles se frustraram quando, apesar da eleição de maiorias republicanas na Câmara em 2010, 2012 e 2014 e no Senado em 2014, esses líderes não conseguiram converter suas promessas em leis, porque o presidente Barack Obama podia vetar ou ameaçar vetar qualquer legislação.

    O processo de seleção presidencial nos EUA é longo e complicado.

    A eleição geral terá lugar em novembro de 2016, as convenções republicana e democrata que vão oficializar os candidatos de cada partido vão acontecer em julho de 2016, e os delegados (representantes partidários) que participarão dessas convenções (e votarão conforme indicarem os eleitores de seu Estado) serão selecionados em eleições primárias e caucus realizados entre 1º de fevereiro e 7 de junho.

    Prévias nos EUA

    Mas os candidatos iniciam suas campanhas muito antes.

    Quando Trump anunciou sua candidatura, em junho de 2015, atraiu atenção imediata ao denunciar imigrantes ilegais como "estupradores" e prometer construir um muro ao longo da fronteira dos EUA e México —e fazer o México pagar por ele.

    Foi a primeira de muitas declarações denunciadas como ultrajantes —seu escárnio por John McCain por ter sido prisioneiro de guerra; seu chamado por tarifas de 45% sobre produtos importados da China—, e comentaristas previram com grande confiança que sua candidatura iria desabar.

    NOME CHAMATIVO

    O contrário aconteceu. Quando Trump entrou na disputa, o líder nas sondagens republicanas era Jeb Bush, filho e irmão de ex-presidentes, cujos apoiadores tinham levantado mais de US$100 milhões.

    Mas Bush era vulnerável em questões políticas, especialmente a imigração, e seus números nas pesquisas caíram vertiginosamente quando Trump o atacou como sendo "baixa energia".

    Trump também se beneficiou da existência de 17 pré-candidatos no início da disputa. Ele disparou para a liderança nas pesquisas de intenção de voto, com quase um terço das preferências republicanos, e manteve essa posição exceto por um intervalo breve.

    Conheça os candidatos

    Seu status de celebridade ajudou a atrair público recorde para os debates televisionados entre os candidatos republicanos.

    Vinte e quatro milhões de americanos assistiram aos dois primeiros debates republicanos transmitidos pela TV em agosto e setembro, três vezes a maior plateia de um debate republicano em anos anteriores.

    Os outros candidatos não o atacaram nesses debates porque tinham medo de antagonizar os partidários dele e devido à dinâmica de uma disputa com candidatos múltiplos: se o candidato A ataca o candidato B, ele pode prejudicar B, mas também pode prejudicar a si e beneficiar os candidatos C, D ou E.

    Trump perdeu a prévia de Iowa, dia 1º, por margem estreita para Ted Cruz, que tinha grande apoio de cristãos evangélicos.

    Mas ganhou as primárias de New Hampshire e Carolina do Sul, dias 9 e 20, respectivamente, com 35% e 32% dos votos, contra a oposição dividida, e o caucus de Nevada dia 23 com impressionantes 46% dos votos.

    Isso incentivou seus adversários remanescentes mais fortes, Marco Rubio e Cruz, a atacá-lo no décimo debate republicano, na quinta (25).

    Rubio foi especialmente eficaz, revelando o desconhecimento de Trump em relação à saúde, ironizando-o por sempre repetir as mesmas frases (algo pelo qual o próprio Rubio foi criticado no debate de New Hampshire) e apontando para seus problemas legais e seu histórico de contratar imigrantes em vez de americanos.

    Cruz destacou que Trump perde para Hillary Clinton nas sondagens de intenção de voto para a eleição geral, em novembro, enquanto ele (e Rubio) a ultrapassam.

    Não está claro se esses ataques vão reduzir o apoio a Trump. Doze outros Estados vão votar em 1º de março, e as pesquisas indicam que Trump lidera em dez deles.

    Mas seus adversários finalmente levantaram a questão de se Trump seria um presidente sério —uma pergunta que muitas pessoas em todo o mundo estão fazendo.

    A dúvida é se já não é tarde demais.

    MICHAEL BARONE é analista político sênior da "The Washington Examiner" e membro do American Enterprise Institute, em Washington

    Tradução de CLARA ALLAIN

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