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    Esplanada das Mesquitas alimenta conflito entre Israel e palestinos

    DANIELA KRESCH
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    EM JERUSALÉM

    28/02/2016 02h00

    Quando o tenente-general Motta Gur exclamou "O Monte do Templo está em nossas mãos", em 7 de junho de 1967, a frase selava a vitória de Israel na Guerra dos Seis Dias —a tomada de territórios de Egito, Síria e Jordânia, entre eles a Cidade Velha de Jerusalém, área murada de 1 km² com locais sagrados para cristãos, muçulmanos e judeus.

    Mas, no mesmo dia, o lendário general Moshe Dayan ordenou a retirada da bandeira de Israel da Esplanada das Mesquitas, um platô artificial de área pouco menor do que o Maracanã na Cidade Velha.

    Muammar Awad - 14.nov.2014/Xinhua
    Palestina descansa perto de mesquita na Esplanada das Mesquitas, Jerusalém
    Palestina descansa perto da mesquita na Esplanada das Mesquitas, Jerusalém

    Dayan entendeu a sensibilidade do local e prometeu aos xeques o controle da esplanada. Lá estão a mesquita de Omar, com domo dourado, e a de al-Aqsa, terceiro local mais sagrado do Islã.

    Mas o local também é venerado pelos judeus como Monte do Templo, onde, diz a tradição, ficavam os templos de Salomão e Herodes.

    Uma das paredes de contenção do Monte é o Muro das Lamentações, local mais sagrado para os judeus, proibidos de visitá-lo até 1967.

    "(Dayan) devolveu al-Aqsa, onde, sentado com o xeque do Haram, explicou que agora Jerusalém pertencia a Israel, mas a Waqf (instituição religiosa jordaniana) teria a custódia do Monte. Os judeus poderiam visitar, mas não poderiam rezar ali", relata o historiador britânico Simon Sebag Montefiore no livro "Jerusalém, a biografia".

    Com aval da Jordânia, a decisão de Dayan virou o status quo: não muçulmanos só podem visitar a Esplanada duas vezes por dia, sem orar nem levar símbolos religioso. Por ano, passam ali 4 milhões de muçulmanos e 200 mil turistas, sendo 12 mil deles judeus.

    Boa parte das ondas de violência entre israelenses e palestinos teve o status quo como pivô. A mais recente começou em setembro de 2015, com palestinos atacando israelenses sob alegação de que Al-Aqsa corria risco.

    Cinco meses depois, os ataques se tornaram uma nova "intifada" (revolta) palestina contra Israel e já deixaram 33 mortos do lado israelense (incluindo um cidadão americano e um eritreu) e 120 do palestino, incluindo agressores.

    Para os palestinos, Israel pretendia liberar orações de judeus e cristãos ali, ou destruir as mesquitas e construir um novo templo judaico.

    Em discurso na ONU em outubro, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, endossou essa versão: "Há violações feitas pela ocupação israelense contra nossos sítios sagrados. Os planos colocam a mesquita de al-Aqsa em perigo com o objetivo de alterar o status quo".

    Esplanada das mesquitas - Jerusalém

    O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, seguiu como seus antecessores e negou: "Israel continuará a cumprir sua política de longa data: muçulmanos rezam no Monte do Templo; não muçulmanos o visitam".

    Mas os palestinos acusam Israel de limitar mais e mais a entrada de muçulmanos de menos de 40 anos no local, alegando que isso evitaria tumultos, e de fazer escavações.

    A maior violação para eles, porém, seria o aumento na visitação de judeus messiânicos, que ensaiam orações e não escondem o anseio de ver um novo templo judaico.

    Para acabar com a disputa, a Jordânia sugeriu monitorar o local com câmeras. Mas os palestinos desconfiam: "É armadilha", disse o chanceler Riyad al-Maliki.

    Desde os acordos de Oslo (1993), a Esplanada é o ponto mais sensível nas negociações de paz. Uma das razões é o discurso da Organização para Libertação da Palestina, segundo o qual nunca houve templos judaicos no local.

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