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    ANÁLISE

    Republicanos conseguirão deter o pesadelo Donald Trump?

    MIKE KEPP
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    02/03/2016 18h06

    Os resultados das primárias republicanas de 1º de março parecem refletir o pior pesadelo dos líderes do Partido Republicano, o de que talvez seja impossível impedir que o magnata Donald Trump se torne seu candidato à Presidência em novembro.

    A vitória de Trump em sete das 11 primárias —cinco em Estados do sul e duas em Estados do nordeste— demonstra que seu amplo apelo entre os republicanos transcende as divisões regionais e ideológicas do partido.

    Se ele vencer as primárias na maioria dos cinco Estados que votam em 15 de março, seu caminho para conquistar a indicação do partido pode estar garantido.

    Isso acontece porque os outros pré-candidatos, que se recusam a abandonar a disputa, estão dividindo entre eles a votação anti-Trump.

    Assim, se eles candidatos permanecerem, Trump pode conquistar a indicação do partido caso obtenha um terço dos votos nas primárias restantes.

    E se ele continuar vencendo primárias por larga margem, pode confirmar a indicação em maio ou até antes disso.

    A vitória do senador Ted Cruz em três das primárias de 1º de março reflete o dilema do Partido Republicano: seus membros não conseguem se consolidar em torno de um pré-candidato que sintam poderia ser o mais formidável oponente de Trump, o que torna mais difícil o surgimento desse candidato.

    Os republicanos mais conservadores, em sua maioria brancos de classe trabalhadora e com nível educacional mais baixo, favorecem Cruz, que é ainda mais extremista do que Trump sobre muitas questões.

    Os republicamos de classe média, com melhor nível educacional, favorecem o senador Marco Rubio, que venceu uma primária em 1º de março, ainda que ele seja quase tão conservador quanto Cruz.

    Enquanto isso, como as primárias de 1º de março ilustraram, Trump se sai bem junto a republicanos de todas as classes econômicas, mas especialmente junto aos eleitores brancos de classe trabalhadora.

    O alargamento na disparidade de renda dos EUA os afetou de modo particularmente pesado, ainda que ironicamente essa disparidade econômica resulte acima de tudo de políticas econômicas e tributárias republicanas —de Ronald Reagan a George W. Bush— que favorecem os ricos.

    Trump está se saindo bem junto aos evangélicos e aos membros do Tea Party, um movimento racista que se opõe ao grande governo e cujas fileiras engrossaram desde a eleição do presidente Obama em 2008.

    Por quê? O nacionalismo xenófobo de Trump —que atribui a culpa pela situação econômica menos que rósea dos EUA à imigração ilegal, principalmente do México, e a políticas desleais de comércio internacional chinesas, e que caracteriza os imigrantes muçulmanos como ameaça à segurança nacional —ecoa junto a esse eleitorado.

    O fato de que Trump não seja parte da classe política tradicional também atrai a base republicana, cansada do impasse político em Washington e disposta a acreditar na promessa vazia de um candidato inconformista de que, ao ignorar a ideologia do partido, ele será capaz de fazer com que as coisas funcionem.

    É por isso que os planos de alguns republicanos de organizar o financiamento de uma campanha anti-Trump estão condenados a fracassar —a atitude reforçaria a posição dele como alguém vindo de fora da elite política.

    Não admira que a ameaça da marca Trump à identidade do Partido Republicano esteja causando nervosismo aos seus líderes quanto ao futuro deles e o do partido, caso o magnata se torne candidato à Presidência.

    O senador republicano Ben Sasse acaba de escrever uma carta aos partidários de Trump explicando por que se recusará a apoiá-lo caso ele se torne o candidato do partido.

    Alguns congressistas republicanos o rejeitaram abertamente, e a governadora Susana Martinez, do Novo México, não quis assumir o compromisso de apoiá-lo caso ele obtenha a indicação.

    Prévia da Eleição nos EUA

    Os eleitores republicanos moderados e indecisos que participarão da eleição de novembro provavelmente seguirão esse exemplo, mesmo que a campanha envolva disputa entre Trump e Hillary Clinton, a provável indicada do Partido Democrata.

    Alguns deles podem até votar em Hillary, candidata moderada cujas posições de centro-direita quanto à economia e às relações internacionais não diferem tanto assim das deles.

    Ou podem decidir ficar em casa no dia da eleição, já que nos EUA o voto não é obrigatório.

    Trump, e talvez só Trump, também pode ser o catalisador que mobilize os progressistas do Partido Democrata a votar em Hillary.

    Essa onda de apoio pode alimentar o pesadelo recorrente dos líderes republicanos: o de que a candidatura de Trump garanta a presença de um democrata na Casa Branca por mais quatro anos.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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