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    Volta da violência leva Moçambique a reviver crise humanitária

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    03/03/2016 02h00 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    A ressurgência de confrontos entre a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e o governo de Moçambique já levou mais de 6.000 moçambicanos a se refugiar em Maláui, segundo a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados (Acnur).

    Organizações humanitárias como Médicos Sem Fronteiras, a Human Rights Watch, entre outras, alertam para uma iminente crise humanitária.
    Uma das províncias mais afetadas pelos confrontos é Tete, onde fica a operação de exploração de carvão da brasileira Vale.

    James Oatway - 17.fev.2016/AFP
    Refugiados moçambicanos fazem fila para obter água em campo de refugiados do Maláui
    Refugiados moçambicanos fazem fila para obter água em campo de refugiados do Maláui

    Em entrevista à Folha, Daviz Simango, prefeito da cidade da Beira e presidente do partido de oposição MDM, afirmou que milhares de pessoas fugiram para o Maláui, que faz fronteira com Moçambique, por se sentirem inseguras em meio ao conflito militar entre as forças governamentais e a Renamo.

    "Além disso, há violação dos direitos humanos por parte dos militares ligados ao Estado moçambicano, que continuam a abusar de mulheres e a violá-las", disse.

    TRÉGUA

    A Renamo, anticomunista, e a Frelimo, partido que está até hoje no poder, passaram 16 anos em uma guerra civil que deixou 1 milhão de mortos em Moçambique. A trégua foi assinada em 1992.

    Mas Afonso Dhlakama, líder da Renamo, reafirmou na última terça-feira (1º) que a organização pretende tomar o poder neste mês em seis províncias do norte e do centro do país, onde o seu partido reivindica a vitória nas eleições gerais ocorridas em outubro de 2014. Segundo a Renamo, as eleições foram fraudadas.

    De acordo com Simango, a Renamo reativou sua força militar em algumas áreas do país, com muitos novos recrutados, a maioria proveniente das camadas mais pobres da população.

    Desde que o Exército iniciou operações para tentar desarmar a guerrilha da Renamo, em outubro do ano passado, houve diversos novos confrontos.
    Dhlakama diz que só aceita negociar com o presidente Filipe Nyusi, da Frelimo, se antes assumir o poder nas províncias.

    CRISE HUMANITÁRIA

    Mas o governo rejeita a exigência. "Não vamos deixar que seja tomada qualquer parte do território nacional. As forças de Defesa e Segurança vão continuar a trabalhar para que não aconteça isso", diz Jorge Khalau, comandante geral da polícia.

    Segundo a organização Human Rights Watch, "o governo deveria investigar urgentemente acusações de execuções sumárias e abuso sexual por parte do Exército na província de Tete".

    "O Exército moçambicano não pode usar a desculpa de desarmar as milícias da Renamo para cometer abusos contra as populações locais", disse em comunicado Zenaida Machado, da HRW.

    De acordo com Whitney Ward, coordenadora geral da Médicos Sem Fronteiras em Kapise, a situação dos refugiados moçambicanos no Maláui é muito precária e o campo está superlotado.

    Só na última semana, 388 pessoas foram tratadas por causa de malária. Para manter a salubridade do campo, o mínimo seria ter 225 latrinas para 5.500 pessoas no campo, mas há apenas 14.

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