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    Merkel sofre revés em eleições locais, e partido anti-imigração avança

    JULIANO MACHADO
    ENVIADO ESPECIAL A MAGDEBURGO (ALEMANHA)

    13/03/2016 23h21

    A União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, saiu como grande derrotada nas eleições parlamentares em três Estados neste domingo (13).

    Embora regional, o resultado é visto como o primeiro teste nas urnas da política de Merkel para refugiados, tema dominante no debate eleitoral.

    Os próprios dirigentes da CDU já criticavam de forma aberta a conduta dela nessa área, temendo justamente o prejuízo eleitoral.

    A CDU perdeu em dois dos três Estados que votaram. No único em que ficou à frente, viu a sigla populista de direita Alternativa para a Alemanha (Afd, na sigla em alemão), com plataforma antirrefugiados, obter resultado acima do esperado e ser considerada a maior vitoriosa do dia.

    Na Renânia-Palatinado, a legenda de Merkel perdeu do SPD (Partido Social-Democrata). Já em Baden-Württemberg, ficou atrás do Partido Verde, um revés simbólico por ser a primeira vez que a CDU deixará de ter a maior bancada no Parlamento do Estado -já perdera o governo na eleição anterior, mas para uma coalizão entre Verdes e SPD.

    Uma das portas de entrada para a Alemanha ao sul, Baden-Württemberg registrou o ingresso de 185 mil refugiados em 2015 -hoje estima-se haver 1,2 milhão em todo o país.

    ELEIÇÕES NA ALEMANHA - O que pensam os alemães sobre o número de refugiados (em %)

    AVANÇO ANTI-IMIGRANTE

    O AfD foi o único partido que só teve o que comemorar na disputa, sobretudo na Saxônia-Anhalt, que pertencia à antiga Alemanha Oriental.

    O discurso de que o país não pode arcar com tantos refugiados deu certo no Estado, um dos mais refratários à política migratória de Merkel (registrou quase 10% dos cerca de mil ataques a refugiados na Alemanha em 2015).

    As pesquisas antes do pleito davam em torno de 20% para o AfD, mas a sigla obteve 24,2%, ante 29,8% da CDU.

    Com isso, o AfD terá a segunda maior bancada em um Estado alemão, algo inédito para um partido de três anos.

    O desempenho em Baden-Württemberg e na Renânia-Palatinado foi pior, mas suficiente para garantir cadeiras no Legislativo. Assim, sobe para oito o número de Estados com congressistas do AfD, de um total de 16.

    Ouvidos pela Folha em centros de votação de Magdeburgo, capital da Saxônia-Anhalt, eleitores demonstravam preocupação com o esperado crescimento do AfD. Klaus Linie, 91, votou na CDU e disse que jamais optaria pela legenda populista.

    "Eu me lembro bem do que foi a República de Weimar [1919-1933] e o que veio depois", afirmou Linie, fazendo um paralelo com o fracassado período político que precedeu o nazismo. "Não posso concordar com ideias do AfD que, de alguma forma, podem nos levar a algo parecido."

    Líder do AfD e figura ascendente na política alemã, Frauke Petry disse não se importar se ninguém quiser fazer alianças com sua legenda. "Desde o começo já trabalhamos na oposição. Qualquer outro partido é um concorrente."

    Analistas a veem como candidata natural às eleições federais de 2017, mas o cenário favorece Merkel. Segundo pesquisas recentes, 50% votariam novamente na chanceler se o pleito fosse direto. No sistema vigente, sua CDU teria 35%, e o AfD, 9%.

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