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    Ode à xenofobia e protestos marcam comícios de Trump

    THAIS BILENKY
    ENVIADA ESPECIAL A BOCA RATON (FLÓRIDA)

    14/03/2016 11h41

    Parecia um festival de música ao ar livre. Cangas estiradas no gramado, longas filas para o cachorro quente e a brisa soprando da represa em um fim de tarde ensolarado em Boca Raton, Flórida. Quando o volume do som foi reduzido, porém, a tensão ficou evidente.

    (A música era "You Can't Always Get What You Want", dos Rolling Stones, ou, em português, nem sempre você pode ter o que quer.)

    Uma voz no alto-falante instruiu o público. "Algumas pessoas tentarão tirar vantagem da hospitalidade de Donald Trump, perturbando os seus comícios para promover mensagens políticas próprias." Vaias.

    "Providenciamos um lugar seguro para os protestos —fora daqui. Se algum manifestante começar a protestar a seu redor, por favor, não encoste nem o agrida." Risos.

    "Esse é um comício pacífico. Para avisar as autoridades, erga um cartaz e comece a gritar 'Trump, Trump, Trump'."

    "Trump, Trump, Trump", respondeu o público no evento, realizado neste domingo (13).

    TENSÃO EM EVENTOS

    Houve dois protestos, um antes de Trump chegar e outro que o pré-candidato republicano à Presidência ignorou. Na sexta (11), porém, ele cancelou um comício em Chicago devido ao confronto entre apoiadores e críticos e no sábado (12) foi protegido por agentes do Serviço Secreto em Ohio quando tentaram invadir o palanque.

    Os incidentes acontecem em quase todos os eventos do empresário, que costuma erguer o dedo em riste e dizer: "Tirem eles daqui". A expressão se tornou palavra de ordem, repetida pelo público sempre que há confusão —e, à medida que Trump se aproxima da candidatura, mais há confusão.

    "Nem chamo eles de manifestantes", disse o empresário, que chegou com mais de uma hora de atraso em um helicóptero com seu sobrenome grafado na cauda. "São perturbadores."

    Do lado de fora do anfiteatro ao ar livre, um grupo de "perturbadores" aguardava o fim do evento com flores, corações de papel e cartazes dizendo "ame o ódio de Trump".

    Quando o público começou a deixar o anfiteatro, dois grupos se dividiram em cada lado da calçada. No meio, a polícia.

    "Nós amamos vocês, nós amamos vocês", diziam os críticos de Trump. Do lado de seus apoiadores, ouviu-se: "Vocês não prestam. Vão para casa."

    Thais Bilenky/Folhapress
    Larry Stoltenberg (centro) diz que metade do país quer 'tudo de graça' e a outra metade 'quer trabalhar
    Larry Stoltenberg (centro) diz que metade do país quer 'tudo de graça' e a outra metade 'quer trabalhar'

    Mas, do meio da aglomeração, uma menina do lado dos antiTrump ofereceu um abraço e um menino com uma camiseta do ex-presidente republicano Ronald Reagan do lado oposto aceitou. Eles saíram correndo e se abraçaram a metros do ringue. "Pega o telefone dela!", gritaram. Ele respondeu: "Estou tentando!".

    Para Larry Stoltenberg, 73, a polarização no país se explica por que "metade [dos habitantes do país] quer ter tudo de graça e a outra metade quer trabalhar. Acontece que os que querem trabalhar não são estúpidos", afirmou.

    Na opinião de Flora Magnotti, os manifestantes "são estúpidos. Eles não percebem, não têm conhecimento para entender que isso não ajuda."

    'CONSTRUA O MURO!'

    Na Flórida, onde a população latina cresce mais rapidamente que a população em geral, a questão imigratória é particularmente sensível. O eleitorado conservador apoia a plataforma de Trump —a construção de um muro na fronteira com o México e deportação dos quase 12 milhões de imigrantes sem documentos.

    No comício em Boca Raton, a maioria vestia roupas estampadas com a bandeira dos EUA e acessórios da campanha do pré-candidato.

    Crianças berravam "Construa o muro!" e adultos seguravam cartazes com o mesmo pedido.

    Antes de Trump chegar, uma mulher fez um discurso em que relatou em detalhes como seu filho teria sido torturado, estrangulado e morto por um um imigrante sem documentos.

    "Em tese, ele tem de ser deportado quando tiver cumprido a pena. Se não tiver um muro, ele vai voltar para cometer [crime] de novo", disse Laura Wilkerson.

    Seu alvo era Marco Rubio, senador pela Flórida e principal adversário de Trump no Estado, que vai às urnas na terça-feira (15).

    Wilkerson o criticou por ter apresentado projeto de lei que prevê a regularização dos imigrantes sem documentos e depois ter adotado posição mais conservadora ao se tornar pré-candidato.

    "Como mãe, eu diria para ele olhar os filhos no rosto e decidir de qual abriria mão para que um estrangeiro tenha uma vida melhor", afirmou.

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