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    Trump e Cruz farão guinada ao centro se escolhidos candidatos

    FERNANDO LUIS SCHÜLER
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    15/03/2016 07h00

    Terça-feira, dia 15, é o dia "D" das primárias republicanas. Haverá votação na Flórida, Ohio, Illinois, Missouri e Carolina do Norte. Em jogo, 258 delegados. 20% do número necessário para obter a indicação do partido (1.237 delegados).

    Flórida e Ohio são as disputas centrais. Elas funcionam no sistema winner takes it all. Significa que, quem ganhar, mesmo que por uma pequena margem, leva todos os delegados.

    Se Donald Trump ganhar em ambos estados, adiciona 165 delegados aos 460 que já conquistou, tornando-se o virtual candidato republicano. As pesquisas dizem que Trump lidera na Flórida e disputa voto a voto com o ex-governador John Kasich em Ohio.

    Caso Kasich não vença em Ohio e o senador Marco Rubio na Flórida, é alta a probabilidade de que ambos abandonem a disputa, transformando as primárias em um jogo "cabeça a cabeça" entre Trump e o senador texano Ted Cruz.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Minha previsão: Kasich deve ganhar em Ohio. Ele governou o Estado em dois mandatos e aparece nas pesquisas com perto de 80% de aprovação popular.

    Em uma eleição marcada pelo radicalismo, sua estratégia tem sido a moderação, o apelo à experiência e ideia de que seja capaz de "governar com os dois partidos". Isto não é pouco, na era da "vetocracia".

    Da paralisia de Washington diante da guerra partidária. Kasich é uma opção real à Casa Branca? É apenas um bom postulante à vice-presidência? O resultados de Ohio será o início de uma resposta.

    Muita bobagem tem sido dita sobre a Donald Trump. Alguns o chamam de racista. Ele não é. Apenas quer endurecer as regras de imigração.

    Não creio que fará "deportações" em massa de imigrantes ilegais, proibirá a entrada de muçulmanos, nos Estados Unidos, ou que de fato erguerá um muro em toda a fronteira com o México. Já existem, aliás, áreas muradas na fronteira, como em Tijuana-San Diego, e ninguém parece realmente preocupado com isso.

    'NOVA SUPERTERÇA' - Favoritos nas prévias dos Estados e delegados em jogo*

    Trump levou para a política a lógica da indústria do entretenimento. Não é um "fascista". É apenas um tipo que aposta na imagem de outsider do sistema político (o que ele definitivamente não é), que sabe usar o humor politicamente incorreto e joga com o conservadorismo de costumes da base do partido republicano. E ele quer ganhar, só isso.

    Sua visão econômica pode se vista como "de esquerda". Já declarou que irá aumentar os impostos sobre produtos chineses e fazer a Aple produzir seus smartphones nos Estados Unidos. No plano internacional, gosta de elogiar Putin e evita o tradicional alinhamento automático às posições de Israel.

    Trump é um político pragmático, não doutrinário (como Ted Cruz). Alguns o chamam de "improvisador". É verdade. Ele não usa telepronter em seus discursos, nem aceita doações do big business para sua campanha. E o eleitorado gosta disso. O establishment, não. Algum problema?

    Ted Cruz também tem sido vítima da indústria do exagero. O mais comum é descreve-lo como um cristão fundamentalista, intelectual orgânico do Tea Party, sujeito que vai banir o ensino da evolução nas escolas e proibir a pesquisa com células-tronco.

    Tudo bobagem. Cruz é um constitucionalista de boa formação, egresso de Princeton e Harvard. É um defensor do "casamento entre homens e mulheres" e dos "valores da família".

    A pergunta é: que diferença isto faz na gestão de um presidente americano? Nenhuma. O casamento gay já foi aprovado pela suprema corte, e temas envolvendo costumes não são da conta do presidente.

    Cruz é, isto sim, um liberal, favorável à redução do tamanho do estado, da carga tributária e crítico do Obamacare (diferentemente de Kasich).

    Para quem o considera muito radical, sugiro esperar um pouco. Se conseguir a indicação republicana, veremos um Ted Cruz bastante mais moderado, em busca do eleitor de centro, nas eleições de novembro. Nem só de doutrina vive (muito especialmente) a política americana.

    FERNANDO LUIS SCHÜLER é cientista político e professor do Insper.

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