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    Argentinos saúdam possível anúncio dos EUA sobre dados da ditadura

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    19/03/2016 02h00

    Mesmo em meio a críticas aos americanos, a notícia de que o governo dos Estados Unidos vai se "empenhar" para liberar seus documentos relacionados à última ditadura argentina (1976-1983) repercutiu bem entre associações de direitos humanos.

    O prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel disse à Folha que seria importante que a retirada do sigilo dos documentos tidos como secretos tivesse ocorrido antes. "Mas poderá servir para reparar danos. Precisamos estar abertos ao diálogo."

    Para Giselle Tepper, da associação H.i.j.o.s, de filhos de torturados e desaparecidos, tornar os relatórios públicos é uma obrigação de todo Estado democrático.

    O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deverá fazer o anúncio oficial na quinta-feira (24) em sua visita à Argentina. No mesmo dia, o golpe que instaurou a ditadura completará 40 anos.

    Tanto Tepper como Esquivel dizem acreditar que a saída de Obama da Presidência não deverá prejudicar a liberação dos arquivos.

    "Entendemos que o país está assumindo um compromisso", afirmou Tepper.

    À Folha, o secretário de Direitos Humanos da Argentina, Claudio Avruj, disse que a tendência é que o sucessor de Obama dê continuidade ao processo, como ocorreu nos governos de Bill Clinton e George W. Bush.

    Cerca de 4.700 papéis sobre a ditadura argentina foram liberados pelos dois dirigentes. Eles continham provas apenas de violações de direitos humanos. Agora, deverão ser reveladas informações sobre o envolvimento do governo americano com os generais. No Chile, relatórios divulgados por Clinton já comprovaram essa relação.

    A decisão de tornar os relatórios públicos não precisa passar pelo Congresso. "O Executivo tem poder absoluto", explicou Carlos Osorio, da National Security Archive, entidade que trabalha pelo acesso público a documentos.

    AVÓS

    Nesta sexta-feira (18), a associação das Avós da Praça de Maio, a mais reconhecida entidade de familiares de vítimas da ditadura, publicou uma nota em que "celebra" a decisão, mas lembra que a demanda já havia sido feita aos EUA por diversos presidentes.

    A intenção das avós é deixar claro que a liberação dos papéis não foi uma vitória do atual presidente, Mauricio Macri. Praticamente todas as organizações de direitos humanos do país têm forte relação com a antecessora de Macri, Cristina Kirchner. A ex-mandatária apoiava os grupos na Justiça e financeiramente.

    A nota das Avós recorda que o Estado americano esteve envolvido no último golpe, em 1976, e diz que a entidade espera que "nunca mais exista um governo estrangeiro ditando receitas que privem nosso povo de viver com dignidade". O texto se refere à aproximação de Macri com os Estados Unidos, criticada pela associação.

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