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    ANÁLISE

    Com aproximação, democrata consolida legado transformador

    LUCIANA COELHO
    EDITORA DE "MUNDO"

    21/03/2016 02h00

    Um presidente em fim de mandato, nos EUA, é conhecido como "pato manco" (em inglês, "lame duck"), dada sua diminuída capacidade de fazer política e obter avanços concretos, seja em questões domésticas ou externas.

    Barack Obama, que ocupa a Casa Branca até 20 de janeiro próximo, não parece ter se resignado ao rótulo.

    A visita a Cuba que iniciou neste domingo (20) é o retrato nítido desse esforço para construir um legado não apenas duradouro, mas transformador, que já lista o acordo nuclear com Teerã e a reforma do sistema de saúde americano.

    Não se pode esperar, no curto prazo, mais do que pequenos avanços no dia a dia das relações entre os dois governos, suas populações e "empresariados" (em Cuba, uma parcela de indivíduos empreendedores).

    O embargo econômico que os EUA mantêm contra a ilha governada pelos irmãos Castro desde 1959 está nas mãos do Congresso americano, e ali as mudanças são operadas de forma muito lenta, dado o paroquialismo vigente entre deputados e senadores.

    As transformações políticas em Cuba, que poderiam trazer mais vigor à sua reinserção internacional, também transcorrem com a solenidade e a lentidão dos Cadillacs circulando por Havana Velha, ainda que mais ligeiras sob Raúl Castro (2008-) que sob Fidel (1959-2008).

    Não se pode, porém, minimizar o peso simbólico desta viagem, tampouco o poder das imagens que produzirá.

    E, em que pesem as críticas possíveis ao governo Obama, não há estadista que tenha entendido melhor o poder da imagem hoje (e por isso se mostre um produto tão bem acabado de seu tempo).

    Obama supera pelo menos seus dois antecessores imediatos, o democrata Bill Clinton (1993-2001) e o republicano George W. Bush (2001-09), na capacidade de capturar o zeitgeist. Ou de ajudar a moldar, ele mesmo, os humores populares de seu tempo.

    Acenos como o "qué bolá, Cuba?" (como vai?) e o discurso incisivo e frequente são água mole em sentimentos endurecidos por cinco décadas de provocações.

    Tanto bateu que, em fevereiro último, pesquisa do Gallup indicou que a opinião pública americana era majoritariamente favorável a Cuba pela primeira vez desde pelo menos 1996 (não há sondagem anterior). Não é pouco.

    Acreditar que os problemas se dissiparão com o apertar de mãos entre Obama e Raúl em Havana é ingenuidade –neste domingo mesmo, a polícia em Havana deteve dissidentes que protestavam contra a falta de liberdade no país; tampouco há vontade política no Congresso americano de reverter o embargo.

    Mas a aproximação entre populações, com mais turismo e comércio, a mudança geracional que lava décadas de ressentimento e a comunicação menos restritiva com a chegada do wi-fi numa ilha que há pouco era "offline" pavimentam o processo e põem a mudança em marcha.

    Supondo, claro, que tanto Obama quanto Raúl –que já indicou pretender deixar o cargo em dois anos sem dar sinal de que promoverá abertura política– sejam sucedidos por pessoas minimamente razoáveis.

    Obama em Cuba

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