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    Terror na Europa

    análise

    Terrorismo está à frente na guerra, pelo menos na psicologia social

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    22/03/2016 14h52

    Mal a notícia dos atentados em Bruxelas se espalhou, meu filho liga e pergunta para a mãe: "Vocês ainda vão viajar?".

    Ele sabe que temos passagem comprada para Amsterdã/Paris no mês que vem, e que Bruxelas, no meio do caminho entre elas, é uma das cidades pela qual temos especial carinho.

    O telefonema, quase um apelo para que desistamos, é uma demonstração no microdetalhe de que o terrorismo está vencendo a guerra contra o Ocidente, pelo menos no campo da psicologia social: impõe um medo disseminado que cola até longe, muito longe, dos locais até aqui atingidos.

    Os depoimentos que, logo depois do telefonema, pipocaram nos sites e na Globo News, confirmam a vitória, ao relatar um ambiente de pavor em toda Bruxelas, perto ou longe dos dois locais alcançados.

    Ou, em termos mais, digamos, científico, vale a análise postada pelo sítio geoestratégico "Stratfor":

    "As explosões de Bruxelas são uma chocante lembrança da dificuldade de prevenir ataques contra alvos 'soft'. Ao contrário de alvos duros, que tendem a exigir dos atacantes que usem grandes equipes de operadores com planos de ataque elaborados ou grandes artefatos explosivos parar romper defesas, alvos 'soft' oferecem a vantagem de que podem ser atacados por um único operador ou uma pequena equipe usando um plano simples de ataque".

    Completa: "Ataques contra alvos relacionados com o transporte, como estações de metrô e aeroportos, permitem aos atacantes matar grandes grupos de pessoas e atrair significativa atenção da mídia".

    De fato, esse tipo de atentado é fácil de praticar. A rigor, basta alguém disposto a matar e morrer no mesmo ato para cometê-lo. Ainda mais que os locais escolhidos ficam fora das áreas de segurança.

    No caso do aeroporto, foi o saguão de check-in, antes, portanto, de passar pelos controles de segurança. No metrô, no caso de Bruxelas, não há nem sequer a catraca para evitar que seja usado sem o bilhete (pelo menos não havia catraca na minha passagem mais recente pela capital belga).

    Os atentados mais recentes (Paris, Istambul, agora Bruxelas, para não falar de San Bernardino) parecem a resposta do Estado Islâmico ao fato de que está perdendo territórios na guerra –esta física– que se desenvolve na Síria/Iraque.

    Depois de dois anos de avanços no terreno, o EI perdeu em 2015 14% do território que controlava. Só nos dois primeiros trimestres deste ano, perdeu mais 8%, segundo estudo recente do IHS, especializado em segurança.

    Se está perdendo a guerra física, era inevitável que transferisse o combate para as capitais do Ocidente, para ganhar a guerra psicológica.

    Meu filho que me perdoe, mas não vou desistir de Bruxelas, até porque a sua Grand Place é, para o meu gosto, a mais bonita praça do mundo, com ou sem terrorismo.

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