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    Terror na Europa

    Paris reage a ataques na Bélgica com misto de apreensão e raiva

    LUCAS NEVES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

    23/03/2016 02h00

    Os franceses reagiram com um misto de apreensão, raiva, tristeza e resiliência aos atentados desta terça-feira (22), em Bruxelas, pouco mais de quatro meses após os ataques que deixaram 130 mortos em Paris e arredores.

    "É chocante. Moro em Valenciennes [cidade no norte francês, quase na fronteira com a Bélgica], então é como se fosse no meu país. Vou precisar ficar ainda mais alerta, ter ainda mais cuidado. É estressante", disse a nutricionista Valentine Nowak, 24.

    Ela esperava o trem para voltar para sua cidade na Gare du Nord, a estação ferroviária parisiense de onde partem as composições para o país vizinho. Na terça, as saídas rumo à Bélgica foram suspensas entre 10h e 17h (horário local), e vários trens noturnos, cancelados.

    "A estação está deserta. É muito estranho", afirmou a educadora Catherine Richard, 46, que trabalha na capital francesa, mas vive em Amiens, cerca de 150 km a norte de Paris. "Fico ao mesmo tempo triste e enfurecida. Recuso-me a mudar minha rotina, mas é claro que fatos assim me fazem questionar deslocamentos em transporte público e planos de viagem. Ia para a China no próximo verão; agora, já fiquei de novo com medo."

    Após os atentados em Bruxelas, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, convocou a população a se reunir diante da sede da administração municipal para uma homenagem às vítimas belgas. A fachada do prédio foi decorada com bandeiras da nação vizinha.

    Ataque em Bruxelas

    As centenas de presentes observaram um minuto de silêncio, depositaram velas e mensagens de solidariedade, como "Je suis belge" (eu sou belga), releitura do "Je suis Charlie" de janeiro de 2015.

    Já o engenheiro Thomas (que não quis informar o sobrenome), 53, que estava na casa de shows Bataclan em 13 de novembro passado, quando 90 pessoas foram mortas, contou ter respondido ao chamado da prefeita a fim de "retribuir aos pensamentos" endereçados pelos belgas naquela ocasião.

    "Não será com drones e bombas que vamos ganhar essa guerra. Os terroristas são franceses, belgas, como nossos filhos. É preciso responder ao niilismo deles, à falta de projeto ampliando as oportunidades de emprego aqui, melhorando a educação, acolhendo os migrantes. Os radicais odeiam nosso cosmopolitismo", afirmou.

    Em resposta aos atentados na Bélgica, o presidente francês, François Hollande, disse que "a guerra contra o terrorismo deve ser conduzida com sangue frio, lucidez, determinação, pois será longa". Ele também convocou todo o continente a se engajar nela, de forma coesa e solidária.

    Já o primeiro-ministro, Manuel Valls, voltou a pedir ao Parlamento Europeu que aprove a instituição de um registro de passageiros aéreos do continente, que recensearia todos os deslocamentos no território —a esquerda se opõe à proposta. "Já perdemos muito tempo com essa questão. Estamos em guerra", disse à Assembleia Nacional.

    Por fim, o Ministério do Interior francês reforçou o efetivo de policiais e da Guarda Nacional nas fronteiras e na malha de transportes públicos —1.600 agentes foram mobilizados (25% deles nos arredores de Paris). Novos postos de controle e de revista corporal serão criados no curto prazo.

    Ataques do Estado Islâmico

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