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    Nova estação de trem em Nova York gera crítica por excessos

    THAIS BILENKY
    DE NOVA YORK

    28/03/2016 17h04

    Com sete anos de atraso e pelo dobro do preço previsto, uma estação de metrô e trem ao lado do Memorial 11 de Setembro, em Nova York, foi inaugurada, ainda que parcialmente, em março, permeada de polêmica.

    Chamada World Trade Center Transportation Hub, a estação em formato de esqueleto de um pássaro gigante pretende ser para a região traumatizada pelo atentato às Torres Gêmeas o que a Grand Central foi para o centro de Nova York, símbolo de revitalização.

    Localizado no extremo sul de Manhattan, o projeto assinado pelo espanhol Santiago Calatrava tem principal atrativo um átrio, chamado Oculus, formado pelas "costelas" do pássaro, que se encontram em um teto de vidro. Esse espaço será um shopping center com lojas como a da Apple.

    Segundo o arquiteto e engenheiro, o formato sugere o movimento de um pássaro que acabou de escapar das mãos de uma criança. Mas se pode ler como uma pomba da paz ou mesmo a carcaça de um dinossauro.

    Outros projetos de Calatrava geraram controvérsia como a Ponte da Constituição, em Veneza (Itália), pela funcionalidade e custos, e a Ópera de Valência, na Espanha, cuja cobertura precisou ser refeita. No Rio, o Museu do Amanhã foi inaugurado com atraso em dezembro.

    'SÍMBOLO DO EXCESSO'

    Arquitetos e urbanistas viram o empreendimento em Nova York como um excesso de simbolismo sem tanta utilidade pública. A obra saiu por cerca de US$ 4 bilhões, bancados pelo poder público, acima dos US$ 2,2 bilhões previstos.

    Há uma loja de departamentos a metros de distância da estação e as grandes redes de restaurantes e cafés estão na região. Com isso, argumentam os críticos, o que de tão especial acrescentaria o Hub?

    Outro ponto questionado é a importância para o sistema de transporte público. A estação dará acesso à rede de trens que liga Nova York a Nova Jersey, além de 11 linhas de metrô.

    A autoridade portuária diz esperar 100 mil passageiros por dia. No momento, há cerca de metade disso em dias úteis.

    O diretor da autoridade portuária chamou o projeto de "símbolo de excesso" e não compareceu ao evento que inauguraria a estação, que depois foi cancelado.

    "Tive problemas com o custo enorme do hub em um momento de limitação de recursos para a infraestrutura", disse Patrick Foye ao site "Politico New York".

    O crítico Michael Kimmelman, do jornal "The New York Times", calcula que ajustando a inflação, a Grand Central custou a metade e foi bancada pela inciativa privada. Mas seu efeito positivo para a região e para a economia da cidade não deve ser observado novamente.

    "O hub complicou, e não apressou, o desenvolvimento do bairro, que evolui apesar do World Trade Center", disse. Ademais, simbolicamente, "além da alusão óbvia ao Panteão, não sei o que o hub deveria simbolizar".

    Em defesa do projeto, a presidente da MAS (sociedade municipal de arte voltada ao urbanismo) diz que não se pode permitir que "atrasos inevitáveis", que elevaram os custos, "obscureçam o que foi alcançado".

    Para Gina Pollara, "excelente arquitetura nos inspira a ser melhores conosco e com os outros", disse em artigo.

    "Em vez de nos apressarmos, como fazemos na Penn Station [outra estação de trem], onde não queremos gastar um segundo a mais que o necessário, no Oculus, queremos descansar para nos maravilharmos e compartilhamos a nossa experiência."

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