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    Colômbia manterá negociações de paz com Exército de Libertação Nacional

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    30/03/2016 12h49

    O governo da Colômbia e o ELN (Exército de Liberação Nacional), segundo maior grupo guerrilheiro do país, anunciaram nesta quarta-feira (30) em Caracas, capital da Venezuela, que iniciarão um diálogo de paz para tentar pôr fim ao conflito armado mais antigo da América Latina.

    As negociações, ainda sem data, não estarão formalmente vinculadas às conversas que Bogotá mantém desde 2012 com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal guerrilha colombiana.

    Yamil Lage/AFP
    Commander of the FARC-EP leftist guerrilla Joaquin Gomez gestures as he reads a statement at the Convention Palace in Havana on the framework of the peace talks with the Colombian government, on March 10, 2016. Colombia's FARC rebels said Thursday it is unfeasible to sign a peace deal with the government by March 23, calling for an extension on the two sides' self-imposed deadline. Speaking a day after President Juan Manuel Santos said he would not sign a "bad deal" just to meet the deadline, FARC peace negotiator Joaquin Gomez said the rebels agreed more time was needed to negotiate an end to the five-decade conflict. AFP PHOTO/YAMIL LAGE ORG XMIT: HAV03
    Joaquín Gomez, representante das Farc em diálogo de paz anunciou, este mês, que data será adiada

    O diálogo entre o governo colombiano e o ELN, que sucede contatos secretos preliminares iniciados em 2014, foi anunciado por representantes dos dois lados reunidos sob auspícios do governo da Venezuela, um dos países que acolherão as conversas, além de Equador, Brasil, Chile e Cuba.

    Instantes depois do anúncio, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, afirmou, em discurso televisionado, que as negociações abordarão temas sensíveis, como reparação às vítimas, e terão participação ativa da sociedade civil.

    Mas Santos insistiu em que o processo visa principalmente a desarmar de vez o ELN, facção fundada por guerrilheiros marxistas nos anos 1960 com o propósito de combater injustiças sociais.

    "O objetivo é [...] erradicar a violência da política e propiciar a transição do ELN rumo à política legal, sem armas. [...] A paz não pode ser nem jamais será uma paz armada", afirmou Santos.

    O presidente insistiu em que as conversas só serão consolidadas quando o ELN libertar todas as pessoas que mantém sequestradas. Na véspera do anúncio desta quarta-feira, o grupo guerrilheiro libertou um político e um militar que estavam em cativeiro havia meses.

    DESARMAMENTO

    A questão do desarmamento é extremamente sensível, já que o tema vem sendo o principal obstáculo nos quatro anos de conversas entre o governo e as Farc em Havana, Cuba.

    O acordo de paz que havia sido anunciado para o último dia 23 de março foi adiado —sem nova data— devido a divergências sobre o ritmo e a modalidade da entrega das armas pelas Farc.

    A guerrilha teme ficar exposta a represálias caso se desarme de uma vez.

    As dificuldades no processo de paz com as Farc, visto com ceticismo por boa parte dos colombianos, ajudam a explicar a alta na rejeição a Santos de 52% em dezembro para 69% no início deste mês, segundo o instituto Gallup.

    A guerra interna na Colômbia, que deixou mais de 220 mil mortos em 50 anos, vem perdendo intensidade desde 2003, quando as guerrilhas começaram a ficar enfraquecidas por grandes operações militares.

    Na mesma época, também se deu o início da desmobilização dos paramilitares e de milícias ultrarradicais que combatiam facções esquerdistas com apoio de alguns políticos e empresários.

    BRASIL

    Em nota divulgada pelo Itamaraty, o governo brasileiro se disse "honrado" em abrigar futuras conversas entre o governo Santos e o ELN e afirmou que o diálogo é uma "evolução positiva no processo de reconciliação nacional e consolidação da paz na Colômbia, país vizinho e amigo e importante parceiro na construção da integração regional."

    O comunicado afirma que o Brasil "contribuiu para o processo de diálogo" nas etapas iniciais do diálogo.

    No ano passado, porém, um alto negociador colombiano revelou à Folha que o governo brasileiro descumpriu o compromisso de abrigar negociações secretas entre as duas partes por temer repercussão negativa na acirrada campanha presidencial de 2014.

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