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    Midiático, Estado Islâmico bloqueia internet em seus territórios

    DIOGO BERCITO
    DO CAIRO

    02/04/2016 02h00

    Como um contador de histórias, o Estado Islâmico (EI) narra noite após noite suas vitórias em uma sofisticada rede de vídeos e propaganda divulgados na internet. A um observador externo, pode parecer que a organização terrorista está vencendo a guerra.

    Mas, dentro do território que inclui partes da Síria e do Iraque, o EI não se comunica via internet. O acesso à rede é restrito mesmo aos militantes. Cada vez mais totalitária, essa organização controla os meios na região e força ao público a sua versão dos fatos.

    Omar Sanadiki/Reuters
    Bandeira síria aparece ao lado de slogan do Estado Islâmico em Palmira, retomada pelo regime
    Bandeira síria aparece ao lado de slogan do Estado Islâmico em Palmira, retomada pelo regime

    Esse é um dos temas de estudo de Charlie Winter, pesquisador na Universidade do Estado da Geórgia, nos Estados Unidos. Em entrevista à Folha, ele falou sobre o EI que existe além da internet.

    "A imprensa só tem acesso ao que está na internet, mas esse material é justamente produzido para nós, para nos antagonizar", diz.

    Winter estuda, por exemplo, um semanário impresso pela facção, e também sua estação de rádio. Há ainda, segundo o pesquisador, centros de informação —como quiosques— aos quais moradores do território recorrem com um pendrive em mãos para baixar fotografias e vídeos de ações militares.

    Os chamados "pontos de mídia" começaram como um experimento. A agência de notícias do EI cita ao menos 25 deles na cidade de Mossul, no Iraque.

    BLECAUTE

    "Há uma mensagem totalitária para reduzir a oposição", diz Winter. "Isso é feito por meio do controle da comunicação. Eles controlam a opinião pública e impedem, assim, que haja reações orgânicas à sua presença."

    A estratégia consiste em eliminar todas as alternativas de informação. Satélites têm sido removidos na região controlada pelo EI, e descritos como um inimigo dentro desse autoproclamado califado.

    No caso do rádio, segundo Winter, a organização terrorista combate estações rivais transmitindo na mesma frequência, mas com um sinal mais potente.

    Esse tipo de estratégia deve intensificar-se nos próximos meses, se o EI continuar a perder territórios, como aconteceu recentemente com as cidades de Palmira, na Síria, e Ramadi, no Iraque. Ambas foram derrotas simbólicas aos militantes.

    A propaganda offline do EI tem como uma de suas metas reforçar seu controle no território conquistado. O material divulgado pela internet, por sua vez, busca seduzir futuros militantes.

    Longe dali, em países como Tunísia e Bélgica, jovens se iludem com a ficção de que, na rede, não encontram fronteiras. Militantes decidem viajar à Síria e ao Iraque para, na sequência, unir-se ao grupo.

    "A mensagem on-line é uma versão idealizada, ou falsa, da realidade", disse à Folha o diplomata americano Alberto Fernandez, que chefiou de 2012 a 2015 o Centro para Comunicações Estratégicas de Contraterrorismo, ligado ao Departamento de Estado dos EUA.

    Ele estima que, no contexto atual de derrotas do EI, a comunicação interna ganhará mais força.

    "Eles precisam gerenciar as notícias ruins e explicar por que estão perdendo", diz. "Isso é especialmente verdadeiro para uma organização cuja narrativa é baseada na ideia de uma vitória garantida por Deus", diz Fernandez.

    Mas monitorar esse tipo de comunicação fora da internet é um desafio para pesquisadores. Uma saída é observar o que o EI diz na internet sobre a propaganda off-line. Além disso, diz Fernandez, governos "monitoram estações de rádio e canais de TV".

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