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    eleições nos eua

    Plataforma de Ted Cruz está à direita de Donald Trump

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    03/04/2016 02h00

    "Vamos enchê-los de bombas até eles [o Estado Islâmico] sumirem do mapa."

    "Quando minha mulher for primeira-dama, batata frita vai voltar à merenda. Papelão tem que estar na bandeja, não no gosto da comida!"

    "Entristece-me ver a maioria de vocês [americanos muçulmanos] tão consumida pelo ódio... Se não ficarem ao lado de Israel e dos judeus, então não ficarei com vocês."

    As frases vêm do maior rival de Donald Trump na disputa pela chapa republicana à Casa Branca, Ted Cruz.

    Scott Olson/AFP
    NORTH CHARLESTON, SC - JANUARY 14: Republican presidential candidates (L-R) Donald Trump and Sen. Ted Cruz (R-TX) participate in the Fox Business Network Republican presidential debate at the North Charleston Coliseum and Performing Arts Center on January 14, 2016 in North Charleston, South Carolina. The sixth Republican debate is held in two parts, one main debate for the top seven candidates, and another for three other candidates lower in the current polls. Scott Olson/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
    Pré-candidatos republicanos Donald Trump (esq.) e Ted Cruz durante debate em janeiro

    De piada, o "outsider" Trump passou a pesadelo da cúpula do partido. Já angariou 736 dos 1.237 delegados necessários para ganhar a indicação do partido (Cruz tem 463, e John Kasich, 143).

    Como último esforço para brecá-lo, os caciques da legenda aplicam a lógica do "mal menor" e se aliam ao senador texano, um "herói" do movimento ultraconservador Tea Party que está longe de ser seu candidato dos sonhos.

    A ficha de Trump com polêmicas é extensa. A última: sugerir que Japão e Coreia do Sul não dependam mais dos EUA e se armem nuclearmente contra a Coreia do Norte.

    Trump ladra mais alto, mas Cruz morde mais, para especialistas ouvidos pela Folha.

    Entre o senador texano e o magnata nova-iorquino, o professor da Universidade de Nova York Jorge Castañeda prefere o último.

    "Não sei se Trump acredita em tudo o que diz, mas estou relativamente seguro de que Cruz, sim. É um fanático ideológico. Trump é um oportunista que pode fazer o contrário do que diz que fará."

    Ao analisar declarações e propostas dos candidatos, as credenciais do senador se revelam tão ou mais radicais do que seu adversário falastrão.

    "Trump chegou longe porque republicanos do alto escalão e a mídia não entendem quão enfurecida estava boa parte da sociedade com a economia. Barack Obama está certo ao dizer que criou 15 milhões de empregos. Mas são muito piores do que os perdidos em 2009", diz Castañeda.

    Para ele, "Trump foi capaz de entender isso melhor do que ninguém, talvez com exceção de Bernie Sanders" (pré-candidato democrata com plataforma de esquerda). Daí seu sucesso.

    "Ele não é um político [de carreira], fala do coração", resume Barry Bennett, um dos conselheiros do bilionário.

    GOGÓ

    Num ponto Trump e Cruz compartilham a plataforma: o discurso anti-imigrante.

    "Vou construir um muro, e o México vai pagar por ele", afirmou Trump, propondo ampliar a divisa iniciada por Bill Clinton, que autorizou o primeiro tijolo em 1994.

    Sobre os vizinhos: "Eles trazem drogas, crimes. São estupradores. Alguns, presumo, são boas pessoas".

    Reportagem de 2015 do "Washington Post" revelou que imigrantes mexicanos sem documentação trabalhavam num hotel que Trump constrói em Washington.

    Filho de cubano exilado, nascido no Canadá, Cruz era mais flexível no passado. Agora se diz contra qualquer tipo de anistia e defende o fim da "cidadania por nascença" (filhos de estrangeiros nascidos nos EUA são americanos).

    Em vários quesitos, contudo, Cruz está à direita do rival.

    Trump vs. Cruz

    Na questão israelo-palestina, Trump se diz neutro e defende um acordo de paz. Cruz não quer conversa: está do lado israelense e afirma que um governo seu reconheceria Jerusalém como "capital eterna e indivisível de Israel", tema sensível nas negociações.

    Sobre o aborto, a situação do empresário lembra a de Dilma Rousseff na eleição de 2010: deu declarações favoráveis ao tema no passado, mas adotou a linha "não é bem assim" para não afugentar o eleitorado conservador.

    Em 1999, Trump disse ser "muito pró-escolha" (a favor do direito ao aborto). Hoje é "pró-vida" (contra), exceto em casos de estupro, incesto e risco de morte da mãe.

    Em 2011, já com a Casa Branca na cabeça, afirmou à CNN ter mudado de lado após ouvir histórias como a do amigo que tentou convencer a mulher a tirar o filho, teve o bebê e se encantou.

    Cruz sempre foi contra e critica a pílula do dia seguinte, que considera abortiva. Leis flexíveis, diz, são uma "guerra contra as mulheres".

    Chefe do departamento de ciência política da Universidade Brown, Wendy Schiller culpa a cúpula republicana pela escolha entre Trump ou Cruz. Em 2010, para ganhar maioria na Congresso, o partido abraçou o Tea Party.

    Trump apenas "deu voz mais límpida" a posições fortalecidas no período, como a xenofobia, e conseguiu "convencer parte do eleitorado que o partido falhou, e ele tem a resposta", diz Schiller.

    "É mais do que irônico que a barganha feita pelos republicanos no Congresso pode agora lhes custar a Casa Branca e fraturá-los de vez."

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