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    Egito ainda suspeita de relação com Israel

    DIOGO BERCITO
    NO CAIRO

    03/04/2016 02h00

    O parlamentar egípcio Tawfik Okasha convidou, em fevereiro, o embaixador israelense para um jantar. O encontro não contraria a política oficial –o Egito, afinal, selou a paz com Israel em 1979, e esses países cooperam em temas de segurança.

    A refeição, no entanto, tem sido indigesta ao político. Houve ampla condenação ao gesto. No Parlamento, ele foi agredido por um colega, que lhe arremessou um sapato na cara. Em seguida, Okasha foi expulso do cargo. Recentemente, ele foi proibido de deixar o país.

    O encontro com o embaixador israelense e a reação visceral do público demonstram que, apesar das décadas de paz e da proximidade das políticas entre os dois países, a população ainda não se acostumou a enxergar Israel como um aliado.

    "O governo egípcio respeita Israel por seu histórico de segurança, e respeita o premiê Binyamin Netanyahu por sua liderança", diz à Folha o analista Daniel Nisman, diretor de uma consultoria de avaliação de risco.

    "Mas o Parlamento precisa de legitimidade, e qualquer relação com Israel pode minar o apoio popular", afirma.

    O desafio é comum ao enfrentado por outros governos na região, como a Jordânia e a Arábia Saudita. Em diversas situações, esses países coincidem com a política israelense. Por exemplo, na oposição a um acordo nuclear entre os EUA e o Irã.

    Mas, nas ruas, ainda há rejeição ao Estado de Israel, que ocupa desde 1967 os territórios da Cisjordânia e, por seu conflito com a população palestina, é visto como inimigo dos árabes. Egito e Israel, ademais, travaram guerras no século passado.

    SEGURANÇA

    Após o ultraje causado por seu jantar com o embaixador israelense, Okasha afirmou à mídia local que não havia feito nada de errado. Os países, afinal, têm relações diplomáticas. A refeição, segundo relatos, durou três horas. Detratores afirmam que o parlamentar colocou a segurança nacional em risco.

    Em temas de segurança, no entanto, Israel e Egito enfrentam um mesmo inimigo: o terrorismo no deserto do Sinai, que serve de fronteira entre ambos. "As informações de Inteligência providas por Israel são de interesse egípcio", afirma Nisman.

    Israel se beneficia, por sua vez, das ações militares egípcias na região. "O Egito teve sucesso em interromper o contrabando para Gaza."

    Essa empobrecida faixa de terra, que tem fronteira com Israel e Egito, é outro dos assuntos que unem esses dois países. O governo de Abdel Fattah al-Sisi e de Netanyahu são ambos desafetos do movimento palestino Hamas, que controla a faixa de Gaza –apesar da recente reaproximação entre Sisi e a facção palestina.

    Okasha foi removido de seu cargo por 465 votos, de um total de 596 parlamentares. Ele apelou à decisão, mas já há planos em andamento para a eleição de seu sucessor.

    A proibição de que Okasha deixe o país se baseia em diversas acusações surgidas após a controvérsia, incluindo a suspeita de que ele tenha forjado documentos à candidatura nas eleições parlamentares de 2015.

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