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    Governos prometem investigação após megavazamento de dados

    JULIANO MACHADO
    DE BERLIM

    05/04/2016 02h00

    A revelação de que a elite política e empresarial de diversos países está envolvida ou indiretamente relacionada aos documentos do "Panama Papers" desencadeou, nesta segunda-feira (4), promessas de investigação e obrigou líderes, principalmente da Europa, a se defender de suspeitas. Na Islândia, houve até pedidos de renúncia.

    No domingo (3), um consórcio global de jornalistas publicou milhares de dados mostrando como o escritório panamenho Mossack Fonseca ajudava a abrir empresas offshore pelo mundo, muitas vezes para sonegar impostos ou lavar dinheiro. No total, são mais de 11 milhões de documentos, no que é considerado o maior vazamento da história –o material foi entregue por uma fonte anônima primeiramente ao jornal alemão "Süddeutsche Zeitung".

    Stigtryggur Johannsson-4.abr.16/Reuters
    Manifestantes em protesto contra o premiê islandês após os vazamentos do 'Panama Papers'
    Manifestantes em protesto contra o premiê islandês após os vazamentos do 'Panama Papers'

    No Reino Unido, o premiê David Cameron teve de lidar com a notícia de que seu pai, Ian, morto em 2010, aparece entre os clientes do Mossack Fonseca. Não há evidências, porém, de irregularidades. Registrar uma empresa num paraíso fiscal não é um crime em si, mas na maioria das vezes esse recurso é usado para fins como evasão fiscal.

    Cameron preferiu silenciar. Sua porta-voz se recusou a comentar se a família do premiê investia em fundos desse tipo. "É um assunto privado."

    Em maio, o Reino Unido sediará uma cúpula anticorrupção. "Essa é uma agenda prioritária para o premiê", disse o chanceler britânico, Philip Hammond. Sob jurisdição de Londres estão alguns dos paraísos fiscais usados pelo Mossack Fonseca, como as Ilhas Virgens Britânicas.

    O Departamento de Justiça dos EUA afirmou que analisará os papéis para descobrir se o sistema financeiro americano é usado por criminosos. O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, disse que o país "trabalha contra transações ilegais e no combate à corrupção".

    O presidente da França, François Hollande, classificou o "Panama Papers" de "boas revelações" e disse que isso aumentará a arrecadação fiscal por coibir fraudadores.

    'PUTINOFOBIA'

    Na Rússia, a reação foi distinta. O porta-voz do presidente, Dmitri Peskov, disse que as denúncias fazem parte de uma ação para desestabilizar o governo de Vladimir Putin.

    De acordo com os vazamentos, um amigo de Putin, o violoncelista Serguei Roldugin, comandava uma rede de pessoas próximas ao presidente que movimentou ao menos US$ 2 bilhões em bancos e empresas offshore.

    O nome de Putin não é citado nos documentos.

    "Esperávamos mais resultados dessa comunidade jornalística; descobriram pouca coisa nova (...). Está claro que a 'putinofobia' chegou a tal ponto que é impossível falar bem da Rússia", afirmou o porta-voz russo.

    Em nota, o Mossack Fonseca disse que sempre cumpriu a lei e é um "membro responsável da comunidade financeira global". Embora se recuse a falar de casos individuais, a empresa afirmou que vários dos citados nunca foram seus clientes.

    PROTESTOS NA ISLÂNDIA

    No reflexo mais forte do caso até agora, milhares de islandeses foram às ruas da capital, Reykjavík, para exigir a saída do premiê Sigmundur Gunnlaugsson. A oposição planeja pedir uma moção de censura a Gunnlaugsson no Parlamento, exigindo a convocação de eleições gerais.

    No vazamento, o líder islandês aparece como tendo sido proprietário de 50% da offshore Wintris Inc, nas Ilhas Virgens Britânicas, de 2007 até 2009.

    Gunnlaugsson rejeitou renunciar e afirmou não haver "nada de novo" nas investigações. Na TV sueca SVT, foi questionado e, irritado, abandonou a entrevista. "Isso é totalmente inapropriado", disse ao entrevistador. Mais tarde, Gunnlaugsson pediu desculpas por sua atitude.

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