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    China censura notícias e posts sobre líderes envolvidos no 'Panama Papers'

    DE SÃO PAULO

    05/04/2016 07h00

    A publicação de documentos do "Panama Papers", revelando transações financeiras de pessoas ligadas a líderes políticos e relacionadas a empresas offshore, gerou uma onda de censura na China.

    Reportagens e postagens em redes sociais citando o envolvimento de chineses no escândalo revelado por uma coalizão internacional de jornalistas foram deletadas da rede ou bloqueadas. Segundo observadores ocidentais da mídia chinesa, o governo chegou a proibir novas menções ao caso.

    16 dez. 2015 - AFP
    O presidente da China, Xi Jinping, durante discurso em Wuzhen, em dezembro do ano passado
    O presidente da China, Xi Jinping, durante discurso em Wuzhen, em dezembro do ano passado

    Uma reportagem da rede britânica BBC revelou que centenas de postagens citando o "Panama Papers" em redes sociais chinesas foram deletadas horas depois da divulgação do escândalo. Menções aos documentos da offshore Mossack Fonseca no Baidu, no Sina Weibo e no WeChat foram apagadas logo após a publicação.

    A BBC informou ainda que a imprensa oficial chinesa ignorou as menções a pessoas do país no vazamento, mas que o tema apareceu em blogs e redes sociais, traduzido das denúncias em outros idiomas. Pelo menos 481 tópicos discutindo o tema em chinês foram deletados ao longo do dia.

    O vazamento de documentos sobre dinheiro escondido no exterior menciona familiares de pelo menos oito membros atuais ou passados do Partido Comunista Chinês. Entre os citados está um cunhado do presidente Xi Jinping, Deng Jiagui. Ele teria adquirido duas empresas offshore em 2009. O caso se torna ainda mais relevante porque Xi Jinping lidera desde 2012 um trabalho de combate à corrupção que já levou à prisão centenas de funcionários públicos do país.

    O site norte-americano China Digital Times, que monitora a imprensa chinesa, transcreveu um comunicado oficial em que o governo chinês dá instruções sobre censura às notícias e menções ao caso.

    "Encontrar e deletar republicações e reportagens sobre o 'Panama Papers'. Não dar continuação a conteúdo relacionado. Se material da imprensa estrangeira atacando a China for encontrado em qualquer site, ele será tratado com severidade", diz um dos comunicados. Um outro pede que uma reportagem sobre o tema seja despublicada de um site de jornalismo.

    O "China Daily Times" registrou o bloqueio em redes sociais de qualquer menção a postagens sobre o Panamá associada a offshores ou ao nome de qualquer um dos chineses citados pelo vazamento. "Há sinais de uma censura mais sutil de que de costume", diz, alegando que a busca por alguns termos não apresenta resultados relevantes ao escândalo.

    Segundo a revista de política internacional "Foreign Policy" o governo chinês trabalha com estrutura preparada para trabalhar com ampla censura de qualquer informação que possa manchar a reputação dos líderes chineses. A reportagem alega que o bloqueio costuma ser rápido, mas acaba sendo ineficaz no longo prazo, já que as informações acabam conseguindo vazar na internet.

    'PANAMA PAPERS'

    O "Panama Papers" foi publicado por uma coalizão internacional de jornalistas revelando transações financeiras de pessoas ligadas a líderes políticos, empresários e celebridades envolvendo empresas offshore. As reportagens mencionam negócios de pessoas próximas, por exemplo, do ex-ditador do Egito Hosni Mubarak e do atual presidente russo, Vladimir Putin.

    Os dados foram vazados por uma fonte anônima para o jornal alemão "Süddeutsche Zeitung", que compartilhou as informações com o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) e mais de cem veículos de comunicação no mundo.

    Esses dados mostram como o escritório panamenho ajudava a abrir empresas offshore pelo mundo, muitas vezes com o objetivo de sonegar impostos ou lavar dinheiro de atividades criminosas. No total, são mais de 11 milhões de documentos, no que é considerado o maior vazamento da história.

    Enquanto o governo da China evitou se pronunciar e bloqueou menções ao caso na internet, as revelações geraram uma onda de críticas no resto do mundo.

    Reino Unido, França e EUA estão entre os países que anunciaram um exame detalhado das informações.

    No caso britânico, o premiê David Cameron teve de lidar com a notícia de que seu pai, Ian, morto em 2010, aparece entre as centenas de clientes do Mossack Fonseca.

    O Departamento de Justiça dos EUA afirmou que vai analisar os papéis para descobrir se o sistema financeiro americano está sendo usado por criminosos. Na Rússia, o porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitry Peskov, afirmou que as denúncias contra o líder russo são parte de uma ação para desestabilizar o governo.

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