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    Refugiados ameaçam se matar se forem expulsos da Grécia para Turquia

    JULIANO MACHADO
    DE BERLIM

    07/04/2016 15h04

    Refugiados sírios e afegãos detidos num campo provisório na ilha grega de Chios ameaçaram nesta quinta-feira (7) suicidar-se caso sejam expulsos para a Turquia, como prevê o acordo firmado entre a União Europeia e Ancara para os viajantes que cruzaram ilegalmente o mar Egeu rumo à Grécia a desde 20 de março.

    Um dos detentos, o afegão Souaob Nouri disse ao jornal inglês "The Guardian": "Se nos deportarem, nós nos matamos. Não vamos voltar [para a Turquia]." Um homem ao lado dele, que se identificou apenas como Akimi, afirmou: "Não somos terroristas, apenas refugiados. As condições aqui estão muito ruins. Não há água, batem em grávidas. Por que nos tratam assim? Tudo o que queremos é asilo."

    O cenário do campo de Chios é tenso desde a semana passada, quando cerca de 800 pessoas escaparam do local após confronto com agentes e seguiram para o centro da ilha.

    Também são precárias as condições no campo de Moria, na ilha de Lesbos, onde há cerca de 3.000 migrantes e refugiados —em torno de 90% já manifestaram interesse de asilo na Grécia.

    Preocupado com a situação, o papa Francisco visitará Lesbos no próximo dia 16, anunciou o Vaticano nesta quinta (7). Em 2013, ele foi à ilha italiana de Lampedusa, que naquela época era o principal ponto de chegada de migrantes e refugiados na Europa.

    Os protestos de refugiados também foram registrados no campo de Idomeni, na fronteira com a Macedônia, onde cerca de 12 mil aguardam pelo desbloqueio da passagem para tentar chegar a países da Europa central, em especial a Alemanha.

    Em uma manifestação no porto de Pireus, cidade vizinha a Atenas, crianças e bebês foram levantados ao ar, e a imprensa grega disse que um homem chegou a ameaçar jogar um bebê contra os policiais que faziam o cerco ao protesto.

    A expulsão de refugiados e migrantes começou na segunda (4), quando 202 pessoas foram colocadas em barcos turcos e partiram de Chios e Lesbos rumo ao porto turco de Dikili.

    No dia seguinte, o governo grego anunciou a suspensão temporária das deportações, afirmando que precisava de mais tempo para analisar os pedidos de asilo daqueles que pretendiam permanecer na Grécia.

    A decisão ocorreu em meio à denúncia da agência da ONU para refugiados (Acnur) de que ao menos 13 dos 202 expulsos tinham "expressado interesse" em pedir asilo, o que deveria impedir as autoridades gregas de enviá-los à Turquia. O grupo teria sido expulso por "engano".

    Vindas do Afeganistão e da República Democrática do Congo, essas 13 pessoas estão em um remoto campo na cidade turca de Pehlivanköy, montado com dinheiro da UE após o acordo do mês passado e que foi projetado para receber os deportados da Grécia.

    Autoridades turcas têm negado o acesso de jornalistas a esse grupo.

    Na quarta (6), o vice-ministro grego de Relações Exteriores para Assuntos Europeus, Nikos Xydakis, disse que a grande demanda por processos de asilo e a estrutura insuficiente do país para avaliá-los devem levar a uma suspensão de duas semanas das deportações, que voltariam apenas no fim do mês.

    Dos 400 especialistas em processos de asilo solicitados inicialmente por Atenas desde a entrada em vigor do acordo com a Turquia, apenas 30 haviam chegado de outros países da UE até o último fim de semana.

    No total, há 52,4 mil migrantes e refugiados em solo grego, dos quais cerca de 5.000 chegaram após 20 de março e estão sujeitos, portanto, a serem expulsos para a Turquia.

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