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    Cameron admite ter se beneficiado de offshore revelada no 'Panama Papers'

    JULIANO MACHADO
    DE BERLIM

    07/04/2016 16h11

    O premiê do Reino Unido, David Cameron, admitiu nesta quinta-feira (7) ter-se beneficiado de um fundo de investimento offshore aberto nas Bahamas por seu pai, Ian, e que apareceu no "Panama Papers", o megavazamento de dados do escritório panamenho Mossack Fonseca.

    Após negar ao longo da semana ter qualquer relação com o fundo Blairmore, Cameron disse que vendeu sua parte por 31,5 mil libras (R$ 164 mil, em valores atuais) em janeiro de 2010, quatro meses antes de assumir o poder. "Não queria que dissessem: 'Você tem outra agenda ou interesses ocultos'", afirmou à emissora britânica ITV.

    Dan Kitwood/Reuters
    Britain's Prime Minister David Cameron addresses students at Exeter University in Exeter, Britain April 7, 2016. REUTERS/Dan Kitwood/Pool ORG XMIT: LON107
    O primeiro-ministro britânico, David Cameron, discursa para estudante da Universidade Exeter

    Segundo Cameron, sua parte no fundo havia sido adquirida por 12.497 libras (R$ 65,2 mil atuais) em 1997. Com a venda, portanto, o lucro dele e de sua mulher, Samantha, foi de 19.003 libras (R$ 99.195 em valores de hoje). Eles ficaram isentos de pagar impostos porque o valor ficou 300 libras abaixo do limite para o pagamento de taxas sobre ganhos de capital no país.

    Segundo o premiê, sua família declarou sempre os dividendos anuais do investimento. Apesar do desgaste de imagem, não há nenhuma evidência de que as operações tenham sido ilegais.

    O premiê vinha sendo pressionado pela oposição a declarar se havia se beneficiado do fundo aberto pelo pai, morto em 2010. "Sobre minhas questões financeiras, não possuo ações, fundos offshore, nada", disse na quarta (6).

    Em comunicado posterior, o gabinete do premiê afirmou que nem os filhos ou a mulher dele se beneficiaram do dinheiro. Inicialmente, a assessoria do líder britânico havia dito que o assunto era "privado".

    À entrevista à ITV, Cameron afirmou que queria ser "o mais claro possível sobre o passado, presente e futuro". "Francamente, não tenho nada a esconder." Parlamentares do opositor Partido Trabalhista,porém, não se contentaram com as explicações, e alguns pediram sua renúncia.

    Na terça (5), o "Panama Papers" levou à queda do premiê da Islândia, Sigmundur Gunnlaugsson, que possuía investimentos numa offshore.

    TRANSPARÊNCIA

    Nesta quinta (7), o presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, anunciou que criará um painel independente de especialistas panamenhos e estrangeiros para reformar o sistema financeiro do país e dar mais transparência às operações de abertura de empresas offshore, ramo em que atua o Mossack Fonseca.

    Varela reconheceu ter amizade com Ramón Fonseca, um dos fundadores do escritório e assessor da Presidência até março, quando o Mossack foi vinculado às investigações da operação Lava Jato.

    O presidente russo, Vladimir Putin, classificou o "Panama Papers" como "tentativa de desestabilizar a política interna". Segundo os documentos, uma rede de amigos do líder movimentou US$ 2 bilhões em offshores.

    "[Os jornalistas] examinaram as offshores. Seu humilde servidor não era citado [em referência à ausência de seu nome nos documentos], mas o que fizeram? Acharam conhecidos e amigos."

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