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    Em exortação sobre o amor, papa Francisco faz defesa da tolerância

    DANIEL BUARQUE
    DE SÃO PAULO

    07/04/2016 20h40

    O papa Francisco publica na manhã desta sexta-feira (8) um dos documentos mais importantes produzidos desde que se tornou o bispo de Roma, em 2013.

    A exortação apostólica "Amoris laetitia", que significa "a alegria do amor", será apresentada após quase dois anos de trabalho e da realização de dois Sínodos de Bispos para discutir temas ligados ao amor e à família.

    Durante meses, os debates sobre o documento geraram polêmicas por ele tratar de assuntos antes considerados tabu pela Igreja. A expectativa era a de que ele tratasse de questões como o casamento entre homossexuais e a comunhão de divorciados que voltaram a se casar.

    Segundo fontes que tiveram acesso ao documento antes da sua publicação, marcada para às 7h, a exortação evita romper com as posições tradicionais da Igreja e mantém as determinações tradicionais do Vaticano.

    Ela dá, porém, um passo importante no sentido de aceitar e integrar as pessoas que antes poderiam acabar excluídas.

    A ideia central, afirmam essas fontes, é de acolhimento e tolerância, e de que o amor é mais importante do que a imposição de regras.

    Alessandro Bianchi/Reuters
    Papa Francisco lidera audiência semanal na praça São Pedro, no Vaticano
    Papa Francisco lidera audiência semanal na praça São Pedro, no Vaticano

    ACEITAÇÃO

    O documento não muda a proibição de matrimônio entre homossexuais, por exemplo. Ele também indica a continuação da interdição à comunhão de pessoas que se divorciaram e voltaram a se casar. Mas defende que essas pessoas devem ser integradas e aceitas entre os católicos, em vez de marginalizadas.

    Pessoas que leram a exortação antecipadamente dizem ainda que quase nada vai mudar nas regras da Igreja, mas que a ênfase deixa de ser o cumprimento dessas regras para ser a defesa do amor e a educação afetiva.

    O documento defende que as pessoas tenham seus casos considerados individualmente e que as coisas deixem de ser tratadas de forma generalista. No lugar de romper com a tradição, o documente pede que as regras da Igreja não sejam postas acima das pessoas, pois elas só valem na medida em que ajudam as pessoas a serem capazes de amar, afirmaram as fontes.

    Em uma análise prévia da exortação, o pesquisador norte-americano Michael Sean Winters, da Universidade Católica da América, explicou que, mesmo sem mudar doutrinas da Igreja, a exortação é um convite à humildade.

    Com ela, o papa defende que a Igreja ajude as pessoas a descobrirem como Deus atua em suas próprias vidas.

    Em um comunicado divulgado pelo Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, Dom João Carlos Petrini, bispo de Camaçari-BA, explicou que o documento traz mudanças em relação à atitude e à linguagem usadas pela Igreja. Petrini participou do Sínodo que discutiu a exortação em 2015. Segundo ele, os bispos viram com entusiasmo "as grandes novidades apresentadas".

    Um acadêmico próximo da Igreja Católica, e que pediu para não ser identificado, disse à Folha que é de se esperar que o papa Francisco seja criticado tanto por progressistas quanto por conservadores pela exortação sobre a alegria do amor.

    Por um lado, ela frustra quem têm apego às regras da Igreja, e por outro decepciona quem quer mudanças nas doutrinas. No geral, ele avalia que o ponto mais importante é que a exortação vai contra o radicalismo, recomendando a aceitação de todos e conclamando a comunidade cristã a ser tolerante.

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