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    Filha de ex-ditador Fujimori sai na frente para 2º turno no Peru

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A LIMA

    10/04/2016 18h31

    A filha do ex-ditador Alberto Fujimori, Keiko, saiu na frente no primeiro turno das eleições peruanas, neste domingo (10).

    Segundo os primeiros dados oficiais, divulgados pelo Jurado Nacional de Elecciones (o TSE local), com base na apuração de 40,3% dos votos, Keiko teve 39,18% e deve enfrentar, no segundo turno, o economista Pedro Pablo Kuczynski, com 24,25%. Em terceiro, está a esquerdista Verónika Mendoza, com 16,57%. O resultado final só será conhecido nesta segunda (11).

    De todo modo, ficou praticamente definido que haverá segundo turno, em 5 de junho.

    "Agradeço a todos os peruanos que votaram em mim pedindo mudança. Nosso país precisa pisar de novo no acelerador do crescimento. Também precisamos garantir mais segurança, para que o que ocorreu ontem não se repita", disse Keiko, em seu discurso de agradecimento, referindo-se a um ataque do Sendero Luminoso a um grupo de oficiais do Exército que causou dez mortes no interior do país.

    Do lado de fora do hotel Meliá, onde Keiko esperava os resultados, uma pequena multidão já se acumulava desde o fim da votação, às 16h (18h de Brasília). Os apoiadores usavam faixas com o nome e a foto de Keiko e empunhavam bandeiras de cor laranja —símbolo do fujimorismo.

    O irmão de Keiko, Kenji, foi o deputado mais votado e deve liderar o Congresso peruano.

    "O modelo econômico que nós defendemos permitiu que o país fosse para frente, já o modelo que veio a seguir nos levou à quebra e ao aumento da pobreza", disse Kenji aos jornalistas. Questionado sobre a possibilidade de que Keiko possa indultar o pai caso seja eleita, Kenji disse apenas que "esse assunto depende da Justiça".

    Um pouco antes, PPK (como é conhecido Pedro Pablo Kuczynski) também agradeceu seu eleitorado e disse que governará um país de "jovens cronológicos e jovens de espírito", uma resposta aos críticos que apontam para o fato de o candidato ter 77 anos.

    NINHO FUJIMORISTA

    A reportagem da Folha percorreu pela manhã algumas partes do distrito de San Juan de Lurigancho, um dos mais populosos e humildes (1 milhão de habitantes) da região metropolitana de Lima.

    "Voto em Keiko porque é mentira que a violência acabou. Só terminou nos bairros ricos, aqui tem muito delinquente e estão recrutando nossos filhos para o narcotráfico", diz Blanca Martínez, 62.

    Segurança foi o tema mais levantado por moradores que justificaram o voto em Keiko. Na pista de skate improvisada entre dois terrenos abandonados e uma praça, Julián Cáceres, 18, diz que não tem idade para lembrar-se dos piores anos da atuação do Sendero Luminoso —guerrilha que, em enfrentamentos com o Exército, causou mais de 70 mil mortos no país.

    "Mas a gente vive ouvindo como era e de quem perdeu parente. Ninguém quer ser caçado em suas casas ou obedecer toques de recolher."

    Declarado como vencida por Alberto Fujimori nos anos 90, com a ajuda das Guardas Rurais —milícias formadas por cidadãos—, o Sendero Luminoso continua atuando em menor escala, e voltado ao tráfico de drogas.

    Após o ataque de sábado (9), o presidente Ollanta Humala disse que o Sendero "já não representa ameaça ao Estado, mas precisa continuar a ser combatido porque segue levando o luto a famílias peruanas".

    Dos candidatos em competição, Keiko é a que defende mais linha-dura para enfrentar o crime organizado. Entre suas propostas, está a de colocar o Exército na patrulha de cidades e bairros considerados mais perigosos.

    FERIADO NORMAL

    Os bairros de classe média e alta viveram a eleição como um feriado normal. A manhã de sol encheu parques e, logo, restaurantes em Miraflores. Poucos usavam camisetas ou bottons dos candidatos.

    "Gosto da Verónika e é bom que gente jovem como ela apareça, mas vou votar em PPK porque Verónika seria arrasada por Keiko no segundo turno, e não queremos o fujimorismo de volta", diz a professora Nila Longhini, que também participou da marcha anti-fujimori da última terça (5).

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