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    Análise

    Apesar da resistência, Keiko leva 1º turno com "populismo soft"

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    12/04/2016 02h00

    A sólida vantagem que Keiko Fujimori obteve no primeiro turno (seus votos, apuradas 82% das urnas, são praticamente iguais à soma dos dois candidatos seguintes) é uma vitória do que se poderia chamar de um caudilhismo "light".

    Primeiro, é preciso deixar claro que, no Peru como em grande parte da América Latina, predominam os personalismos sobre a ideologia e sobre partidos efetivamente estruturados. Keiko se beneficia do fracasso dos personalismos que se sucederam ao personalismo (extremado) de seu pai, Alberto Fujimori.

    Basta ver a pífia votação de dois de seus sucessores (Alan García e Alejandro Toledo) e o fato de que o terceiro da lista, o atual presidente Ollanta Humala, nem sequer pôde ter candidato por absoluta anemia eleitoral.

    É natural, por isso, que o fujimorismo acabasse despertando saudades em uma fatia importante do eleitorado. Saudade da mão forte que acabou com o Sendero Luminoso, deixando apenas um resíduo que pratica mais o narcotráfico que a luta político-militar.

    Claro que a mão forte incluiu violações em massa dos direitos humanos, que é o flanco débil de Keiko para o segundo turno. Será preciso ver se o eleitorado entende que a promessa da candidata de não cometer os erros do pai inclui não violar direitos humanos, se adotar a mão dura agora contra a criminalidade comum, que tanto assusta os peruanos (e os latino-americanos em geral).

    Se não for assim, Keiko pode perder no segundo turno para um sentimento antifujimorista, tão forte quanto o fujimorismo.

    A saudade do ditador, hoje na cadeia, inclui também o que analistas chamam de "populismo de direita", caracterizado por programas sociais em favor dos mais pobres, ainda a maioria por mais que o Peru tenha progredido nos últimos muitos anos.

    Hoje, 24,2% dos peruanos são pobres e 40% "vulneráveis", jargão que designa os que podem voltar à pobreza à menor crise. É essa, na essência, a clientela em que se assenta a vitória parcial de Keiko Fujimori.

    A dificuldade para que seu adversário, Pedro Pablo Kuczynski ou PPK, reverta a desvantagem do primeiro turno reside no fato de que suas políticas liberais costumam seduzir menos o eleitorado do que o populismo, de direita ou de esquerda.

    Vai depender de Keiko consolidar o seu "populismo soft" e, com isso, minimizar a resistência ao seu sobrenome, que, no primeiro turno, já superou, com 40%, o teto (30%) que se atribuía ao fujimorismo.

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