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    Críticas sobre atrasos em obras em aeroporto alemão derrubam porta-voz

    JULIANO MACHADO
    DE BERLIM

    12/04/2016 14h38

    O porta-voz-chefe da empresa que administra as obras do aeroporto de Berlim-Brandemburgo, Daniel Abbou, foi afastado do cargo na segunda-feira (11), após ter feito duras críticas à condução do projeto em uma entrevista à revista "PR Magazin" —ironicamente, uma publicação sobre exemplos de relações públicas.

    O terminal, cuja construção começou em 2006, deveria ter sido inaugurado em junho de 2012, mas desde então já houve cinco adiamentos da entrega, e a previsão agora é o segundo semestre de 2017.

    Gunter Wicker/Divulgação
    Corredores participam de meia maratona que passa por obra inacabada de aeroporto em Berlim
    Corredores participam de meia maratona que passa por obra inacabada de aeroporto em Berlim

    Abbou afirmou que, no começo das obras, os responsáveis diziam que tudo corria bem. "Isso é besteira. Reconheçam quando alguma merda ocorreu."

    Para ele, a população tem o direito de ver "onde seus bilhões [de euros] foram jogados fora". O custo do terminal saltou dos iniciais € 2,2 bilhões (R$ 9 bilhões) para atuais € 5,34 bilhões (R$ 21,8 bilhões).

    Questionado sobre a previsão de abertura do aeroporto, Abbou afirmou: "Prometo a vocês. Quando eu souber, vocês saberão. Meu chefe técnico diz que há uma chance de manter [o planejamento] de 2017."

    Em seguida, fez mais uma crítica: "Acreditem: nenhum político, diretor de aeroporto nem ninguém que não esteja sob dependência de medicamentos pode dar alguma garantia para este aeroporto."

    Pouco depois da publicação da entrevista, o chefe das operações de Berlim-Brandemburgo, Karsten Mühlenfeld, anunciou o afastamento de Abbou, dizendo que as declarações "não estavam de acordo com a condução do projeto". Mühlenfeld deve anunciar no próximo dia 22 a nova data prevista para a inauguração.

    O plano é que o terminal, com capacidade prevista para 30 milhões de passageiros por ano, leve ao fim das operações nos aeroportos de Schönefeld e Tegel, mas já há um movimento popular por Tegel, preferido por ser mais próximo.

    Quatro anos após o primeiro atraso, Berlim-Brandemburgo ainda não foi aprovado em todos os testes contra incêndio. Depois de o aeroporto de Düsseldorf ser tomado pelas chamas em 1996, deixando 17 mortos, o governo alemão passou a ser mais rígido.

    Autoridades de inspeção, por sua vez, disseram que os responsáveis pelo novo aeroporto entregaram a documentação com atraso.

    Na semana passada, o porta-voz Lars Wagner, que era comandado por Abbou, afirmou à Folha que também houve erros de planejamento da capacidade do terminal. "Há 20 anos, quando os projetos começaram, não se teve dimensão exata do crescimento de demanda de passageiros em Berlim."

    O aeroporto inacabado constrange os berlinenses, mas ao mesmo tempo permite que se mantenha um evento esportivo da cidade.

    Em 2006, as autoridades responsáveis por Berlim-Brandemburgo decidiram organizar uma corrida no canteiro de obras para a população acompanhar seu avanço. Lá se vão dez anos e, neste sábado (9), a meia maratona chegou à décima edição —cerca de 6.000 inscritos correram mais uma vez por pistas onde não decolam nem pousam aviões e em torno de um terminal que parece pronto, mas segue vazio.

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