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    eleições nos eua

    Doações de campanha eleitoral geram debate na corrida pela Casa Branca

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    13/04/2016 02h00

    Poucos nos EUA ouviram falar de Robert Mercer, um recluso matemático que fez fortuna com programas de computador e no mercado financeiro. Sempre longe dos holofotes, ele tornou-se o maior doador individual da atual campanha presidencial americana. Foram US$ 14 milhões (R$ 49 milhões) para comitês de apoio ao pré-candidato republicano Ted Cruz.

    A ascensão de Mercer como um dos maiores financiadores políticos dos EUA foi possível graças a uma decisão da Suprema Corte em 2010, que permitiu a empresas fazer doações ilimitadas a comitês de campanha, os chamados "super PACs".

    Avesso à publicidade, Mercer, 69, nunca dá entrevistas, mas o apoio a Cruz não surpreendeu. Nos últimos anos, ele tornou-se uma máquina de doações a causas ultraconservadoras, como a a pena de morte e a negação das mudanças climáticas.

    CONTRA O LOBBY

    O repúdio à influência de ricaços como Mercer na política é o principal combustível da campanha presidencial do senador democrata Bernie Sanders, que conseguiu colocar o financiamento no centro do debate eleitoral. Sanders orgulha-se de manter uma campanha sem dinheiro das grandes corporações.

    DISPUTA DEMOCRATAS X REPUBLICANOS - Cenários possíveis para a eleição geral norte-americana, em %

    Até março, ele havia arrecadado US$ 139 milhões (R$ 485 milhões), 99% em doações individuais, segundo o site Open Secrets, que monitora o dinheiro gasto em lobby nos EUA. A rival de Sanders e líder da disputa democrata, Hillary Clinton, arrecadou US$ 159 milhões (R$ 555 milhões), sendo menos de 20% de pequenas doações.

    A aversão aos grandes doadores também deixa sua marca no partido rival. Líder da disputa republicana, o bilionário Donald Trump afirma estar imune à influência dos grupos de interesse porque banca sua própria campanha.

    Ela havia custado até março US$ 34,7 milhões (R$ 121 milhões), 71% de seu bolso. Cada um a seu modo, Sanders e Trump "estão mexendo com o pensamento convencional sobre financiamento de campanha", diz o site Politico.

    DEBATE JURÍDICO

    Ao derrubar os limites para contribuições a campanhas políticas, o Supremo dos EUA entendeu que o estabelecimento de um teto violaria o direito à liberdade de expressão. A decisão foi apertada, por 5 votos a 4.

    Com a morte, em fevereiro, do juiz conservador Antonin Scalia, aumentou a esperança entre os críticos da decisão de que ela seja revertida com o voto de desempate do novo membro da corte, que deve ser apontado pelo próximo presidente.

    Mas não é tão simples, diz o professor de direito David Cole, da Universidade Georgetown. Um novo juiz não é suficiente para revogar uma decisão. O processo é gradual, movido a campanhas de cidadãos e decretos favoráveis em tribunais estaduais, explica ele em artigo na revista "The Atlantic".

    A boa notícia, afirma Cole, é que crescem as iniciativas em Estados e municípios em apoio ao financiamento público. "Grandes doações criaram problemas sistêmicos", afirmou à Folha. "Elas dão aos ricos uma influência descomunal e enfraquecem a confiança no sistema político."

    Pelas contas do Instituto Internacional pela Democracia e Assistência Eleitoral (Idea, na sigla em inglês), da Suécia, 44 países proíbem doações de empresas a candidatos e partidos. Isso inclui o Brasil, onde o veto faz parte da reforma política sancionada no ano passado pela presidente Dilma Rousseff.

    Para os especialistas do instituto, é desejável reduzir o financiamento empresarial de campanhas não só para evitar a corrupção, mas para reduzir a influência desproporcional das grandes empresas na política.

    Nos EUA, onde o lobby é uma atividade legal, essa influência molda a vida do país. E nem sempre precisa envolver dinheiro. Em um novo livro que analisa o assunto, "The Business of America is Lobbying" (o negócio da América é fazer lobby), o cientista político Lee Drutman conta que os lobbies são hoje a principal fonte de informação dos congressistas.

    Uma pesquisa dele indica que dois terços dos legisladores admitem depender dos dados fornecidos por lobbistas para tomar decisões e aprovar leis.

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