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    Governo alemão decidirá sobre poema contra Erdogan, mas pede paciência

    JULIANO MACHADO
    DE BERLIM

    13/04/2016 12h34

    O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, pediu "paciência" nesta quarta-feira (13), durante conferência de imprensa, em relação à posição que a chanceler Angela Merkel tomará sobre o caso do humorista Jan Böhmermann, 35, contra quem a Turquia entrou com um pedido de ação criminal por injúria devido a um poema satírico endereçado ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

    "A avaliação do processo ainda está em andamento", afirmou Seibert. "O governo alemão não vai se eximir de uma decisão sobre a reação turca. Esta decisão será tomada."

    O porta-voz, porém, esquivou-se de perguntas sobre quando isso ocorrerá. Não há um prazo específico determinado por lei, mas anteriormente Seibert falou que seria uma questão de "dias", não de semanas.

    A Turquia se baseou em um artigo do Código Penal alemão que fala de "injúria contra órgãos e representantes estrangeiros", que prevê até cinco anos de prisão.

    O código diz que, nesse caso, cabe ao governo alemão decidir se o processo pode ser aceito pela Justiça e continuar seu trâmite, o que põe Merkel num dilema: se autoriza o andamento do caso, será acusada de se dobrar a Erdogan, especialmente por causa da dependência criada após a assinatura do acordo entre Ancara e a União Europeia para conter o fluxo de refugiados; se o rejeita, pode ser vista como uma líder que interfere no Poder Judiciário.

    O próprio Erdogan também entrou pessoalmente com uma ação por injúria, na segunda (11). Nesse caso, como ele não se apresenta no processo como um líder de um Estado estrangeiro, não há necessidade de o governo alemão dar seu aval ao trâmite judiciário.

    Nesta terça (12), Merkel reafirmou, porém, que a liberdade de expressão é um valor "independente de qualquer problema político que tenhamos", em alusão a uma possível influência do acordo migratório no caso.

    De acordo com Seibert, Merkel telefonou no fim de semana para o premiê turco, Ahmet Davutoglu, e disse que o poema era "conscientemente ofensivo", dando a entender que Böhmermann só o recitara para testar limites.

    Para Ancara, foi um "crime contra a humanidade", que ofendeu não só Erdogan, mas todos os turcos. O texto usa termos chulos e diz, entre outras coisas, que o líder turco tem "pinto pequeno", gosta de fazer sexo com cabras e assiste a filmes de pornografia infantil.

    No dia seguinte à exibição, a ZDF, emissora pública que transmite o programa de Böhmermann, retirou de seus arquivos na internet o vídeo do poema. Para o diretor da emissora, Thomas Bellut, o humorista "foi um pouco pesado, um pouco longe demais", mas disse "estar do lado" dele.

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