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    Cuba abre congresso que deve escolher sucessor de Fidel e Raúl Castro

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    16/04/2016 02h00

    Ainda sob o impacto da visita de Barack Obama ao país, Cuba realiza a partir deste sábado (16) o 7º Congresso do Partido Comunista, com divisões na cúpula do regime e um desejo generalizado da população: mudança.

    Embora não seja esperada nenhuma drástica alteração de curso na cautelosa abertura econômica decidida em 2011, o congresso está sendo considerado um dos mais importantes da história, porque deve ser o último com o país liderado pelos irmãos Castro.

    Jorge Beltrean/AFP
    Moradora compra em uma venda de Havana; congresso do Partido Comunista começa no sábado
    Moradora compra em uma venda de Havana; congresso do Partido Comunista começa no sábado

    A grande expectativa é que surjam indicações sobre a sucessão do ditador Raúl Castro, que anunciou que deixará o poder em 2018. Raúl é o comandante desde a saída de cena do irmão Fidel por problemas de saúde, em 2006.

    Sua principal reforma foi estabelecer um limite para os mandatos do presidente: dois de cinco anos. Porém, os passos para a abertura econômica têm sido lentos demais para atender a ânsia dos cubanos em melhorar de vida e seu desejo por mudanças.

    As nomeações decididas no congresso poderão dar pistas sobre a sucessão de Raúl, 84, e da gerontocracia que governa o país. Dos oito militares que compõem o Birô Político, o órgão político e ideológico máximo do partido, oito têm mais de 70 anos.

    A média de idade dos mil delegados que participarão do congresso é de 48 anos. Provavelmente este fórum será o último da geração histórica da revolução de 1959, a maioria resistente a mudanças, sobretudo políticas.

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    SUCESSORES

    O primeiro nome na linha sucessória é o de Miguel Díaz-Canel, um burocrata de 55 anos formado no Partido Comunista. Fiel a Raúl, ele foi nomeado em 2013 primeiro vice-presidente do Conselho de Estado. É o sucessor natural para o ditador a partir de 2018, quando ele diz ser o término de seu mandato.

    Analistas, porém, chamam a atenção para possíveis trocas de guarda no poderoso comitê político do PC, chefiado por Raúl e formado por nove militares e cinco civis.

    Muitos apontam indícios de que Raúl estaria preparando uma saída apenas formal, e que continuaria com poder. É preciso ficar atento para a possível nomeação de um novo número dois do partido, observa Carmen Muñoz, do jornal espanhol "ABC".

    É ele quem substitui o ditador, não o primeiro vice-presidente. Segundo Muñoz, o atual número dois, José Ramón Machado Ventura, 85, amigo de Raúl, poderia sair por motivos de saúde.

    Um dos nomes sempre citados nas conversas sobre a sucessão é o de Alejandro Castro Espín, 51, filho e braço-direito de Raúl. A chance de uma sucessão em família é rejeitada pela oposição, que exige o fim do unipartidarismo e eleições democráticas, possibilidade que parece remota.

    A falta de transparência incomoda até membros do partido. O regime deu poucas pistas sobre os temas em pauta no congresso, provocando protestos que reverberaram até na imprensa oficial.

    Em carta aberta a Raúl Castro, o jornalista Francisco Rodríguez, militante do PCC, afirmou que o sigilo é um "retrocesso" em relação ao último congresso, em 2011, quando foram aprovadas 313 diretrizes da política econômica e social de Raúl para "atualizar o modelo socialista".

    Elas apontavam para a descentralização da economia e incluíram medidas de forte impacto social, como a permissão da compra e venda de veículos e imóveis, o aumento do crédito e o fim das barreiras ao turismo no exterior.

    O ritmo, porém, é lento. Em balanço, o regime afirma que só 21% das reformas de 2011 foram implementadas.

    O sucesso de Obama entre muitos cubanos acirrou o debate entre os "imobilistas" e "reformistas" —contra e a favor de ampliar a abertura—, e isso se refletirá no congresso.

    Há muita pressão dos EUA para acelerar as reformas e Obama quer resultados antes de deixar a Casa Branca em janeiro, disse à Folha o historiador Louis Pérez, especialista em Cuba da Universidade da Carolina do Norte.

    Mas há dissonância entre as partes: "Obama tem como paradigma o fim da Guerra Fria e o começo de uma nova era simbolizada por sua visita. Mas, para o regime cubano, a Guerra Fria é uma etapa de um processo histórico. O paradigma é a revolução".

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