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    Novo líder dos EUA terá de priorizar América Latina, diz diplomata

    LEDA BALBINO
    DE SÃO PAULO

    16/04/2016 02h00

    Republicano ou democrata, o futuro presidente dos EUA, que assume em janeiro, terá de levar mais em conta a América Latina.

    "O Hemisfério Ocidental, onde se incluem a América Latina e o Canadá, é muito mais importante para os EUA do que antes. Cerca de 42% de todas as exportações americanas vão para a região", disse à Folha Patrick Duddy, diretor do Centro de Estudos para América Latina e Caribe da Universidade Duke.

    Ex-embaixador dos EUA na Venezuela, de onde foi expulso pelo ex-presidente Hugo Chávez em 2008, Duddy acredita que a crise econômica venezuelana forçará o país ao calote neste ano e descarta a "venezuelização" do Brasil.

    Leia, a seguir, trechos de entrevista em São Paulo, onde deu palestra na Consulting House, rede de networking para executivos brasileiros.

    Diego Padgurschi -9.mar.2016/Folhapress
    Ex-embaixador dos EUA na Venezuela Patrick Duddy durante entrevista em São Paulo
    Ex-embaixador dos EUA na Venezuela Patrick Duddy durante entrevista em São Paulo

    Folha - Como a sucessão de Obama pode mudar a política para a América Latina?

    Patrick Duddy - Há temas que ganharam proeminência nesta campanha eleitoral. Apesar de ter deixado claro que planeja manter o que vê como conquistas do governo Obama, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton questionou o Tratado Transpacífico, que é altamente ambicioso e envolve três países latino-americanos. E há precedentes de novos líderes dos EUA reavaliando acordos comerciais.

    De qualquer forma, quem quer que seja eleito terá de considerar que o Hemisfério Ocidental, onde se incluem a América Latina e o Canadá, é muito mais relevante para os EUA do que antes. Cerca de 42% de nossas exportações vão para o hemisfério.

    O sr. apontou aspectos econômicos, mas há risco de recuos em políticas como as relativas a Cuba, por exemplo?

    A abertura das embaixadas marcou uma mudança, mas os EUA não suspenderam o embargo, que depende do Congresso. Obama adotou uma política diferente após mais de meio século de tensão, mas acho que americanos, cubanos e outros querem uma melhora contínua nas relações e nas circunstâncias políticas na ilha.

    Reabrimos a embaixada e estamos amplificando nossas atividades em Cuba, mas não temos embaixador. Foi uma mudança? Sim. Mas a relação foi inteiramente reconstruída? Enquanto o embargo estiver em vigor, não.

    Para os EUA, o Brasil poderia atuar mais na região?

    O Brasil não diminuirá de tamanho. Continuará como o maior e mais influente país da América do Sul quaisquer que sejam as mudanças de governo regionais. Temos histórico de trabalhos conjuntos bem-sucedidos.

    Não é sempre que entenderemos os problemas da mesma maneira, mas é fundamental que procuremos trabalhar juntos quando houver interesses comuns. E há interesse na prosperidade e saúde das instituições democráticas da região.

    Com a atual crise, há risco de "venezuelização" do Brasil?

    Não. A força das instituições brasileiras contrasta com a situação na Venezuela. O Brasil tem uma economia diversificada. Todos os governos brasileiros, incluindo do PSDB, do PT, admitem a importância de um setor privado vibrante. Se compararmos o tamanho da dívida externa dos dois países com suas reservas, vê-se que a economia brasileira ainda é muito forte.

    Quais são as diferenças entre Nicolás Maduro e Hugo Chávez (1954-2013)?

    Chávez era mais carismático. Mas ele usufruiu dos preços recordes do petróleo, com os quais financiou programas sociais. Agora, caiu a renda do petróleo, que corresponde a 96% das exportações e ao menos 50% do Orçamento. A Venezuela produzia mais de 3 milhões de barris por dia quando Chávez foi eleito. Agora são 2,7 milhões.

    Maduro nunca teve o apoio popular de Chávez e enfrenta problemas que não se limitam à queda do barril. Chávez planejou uma economia socialista. Houve estatizações. Um país que exportava alimentos agora importa 70%.

    O sr. vê risco de calote?

    Sim. A maioria dos analistas sugere que o segundo semestre será um período muito difícil, mesmo se o petróleo se recuperar. As reservas venezuelanas caíram muito. O país tem escassez de produtos básicos e remédios, problemas de fluxo de caixa, deficit em conta corrente de dois dígitos. Com tantas obrigações sociais, gasta mais do que arrecada.

    Há três câmbios. No paralelo, o bolívar chega a ser negociado por 1.000 para cada US$ 1. Em 2015, a inflação alcançou 140%, mas o FMI estimou que deve superar 700% neste ano.

    Desde sua saída de Caracas, EUA e Venezuela não têm embaixadores. Isso mudará?

    Acho que os EUA esperam para ver o que ocorrerá com a democracia venezuelana. Suspeito que haja uma sensação de que, desde as eleições de dezembro [quando a oposição conquistou maioria na Assembleia Nacional], a interação entre o Executivo e Legislativo tem sido desanimadora.

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