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    o impeachment

    análise

    No front externo, Temer pode esperar sem preocupação até posse

    MATIAS SPEKTOR
    COLUNISTA DA FOLHA

    18/04/2016 02h00

    Anna Virginia Balloussier/Folhapress
    Grupo de brasileiros faz manifestação em defesa da presidente Dilma Rousseff na praça Union Square, em Nova York
    Grupo de brasileiros faz manifestação em defesa da presidente Dilma Rousseff na praça Union Square, em Nova York

    Michel Temer terá de mobilizar a tropa para obter apoio internacional a seu governo, caso o Senado Federal afaste Dilma do cargo e ele possa ocupar-lhe a cadeira.

    Até lá, porém, o grupo do vice manterá distância de interlocutores estrangeiros. Acham que uma investida externa neste momento é desnecessária. Afinal, os outros países já tratam o impeachment com naturalidade.

    Há várias razões para isso.

    Divulgação
    Vice-presidente Michel Temer acompanha pela TV andamento da votação do impeachment na Câmara
    Vice-presidente Michel Temer acompanha pela TV andamento da votação do impeachment na Câmara

    A primeira é a chancela do Supremo Tribunal Federal. As denúncias de corrupção ou julgamentos envolvendo Temer, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o do Senado, Renan Calheiros, podem até chocar, mas não bastam para mobilizar governos estrangeiros contra os vaivéns da política brasileira.

    Também conta a reputação de Temer perante o mercado financeiro. Embora Wall Street não saiba ao certo o que esperar de seu governo, vislumbra-se uma guinada econômica benéfica ao ambiente de negócios.

    Dessa perspectiva, Dilma estaria para Cristina Kirchner como Temer estaria para Mauricio Macri. Quem acompanha a crise à distância no mundo das finanças enxerga nele uma luz ao fim do túnel.

    Temer não está preocupado com a ofensiva antes de assumir o comando efetivo por um motivo adicional. Quem poderia ameaça-lo no curto prazo não tem força.

    Os presidentes de Bolívia, Equador e Venezuela deram declarações inconsequentes contra o impedimento.

    O Secretário-Geral da Unasul, Ernesto Samper, afirmou que o impeachment comprometeria a "segurança jurídica" do país. Suas palavras teriam peso –e capacidade de atrapalhar o vice– se representassem consenso no bloco, o que não é o caso.

    O Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro, também se manifestou contra. Em visita a Brasília na semana passada, no entanto, fez um desfavor à sua causa: visitou o Planalto, mas não pisou no Congresso ou no STF, dando a impressão de tomar partido.

    Não combinou o jogo com os países que mandam na organização que representa.

    Para lidar com esses problemas de baixo impacto nos próximos dias, foi escalado o senador tucano Aloysio Nunes, presidente da comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado. Ele descartou as declarações dos secretários da Unasul e da OEA como "estapafúrdias", "ofensivas" e "delirantes".

    A partir desta segunda (18), ele começa um périplo em Washington para defender a legalidade e a legitimidade da decisão da Câmara.

    O fato de o impeachment não ter inimigos mais ruidosos fora das fronteiras é, em parte, resultado do imobilismo do próprio governo, que não despachou emissários às principais capitais nem acionou sua vasta rede de movimentos sociais mundo afora.

    As melhores defesas do governo diante do público externo ficaram para terceiros.

    O jornalista Glenn Greenwald fez uma entrevista com Lula na qual pergunta tudo o que o público de fora quer saber e mostra o ex-presidente de forma positiva. O acadêmico britânico Perry Anderson publicou longo artigo da perspectiva da esquerda.

    Ambas as iniciativas foram espontâneas, mas com alcance limitado. Quando se trata de relações exteriores, o vice não tem a temer. Pelo menos por enquanto.

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