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    conferência do clima em paris

    Discurso de Dilma na ONU foi pouco ambicioso, dizem ambientalistas

    MARCELO NINIO
    ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

    22/04/2016 20h28 - Atualizado às 21h48

    Do pódio da Assembleia Geral da ONU, a presidente Dilma Rousseff falou durante pouco mais de sete minutos, a maior parte deles dedicada a exaltar a importância do Acordo de Paris e o papel do Brasil no sucesso das negociações. Para ela, o pacto do clima é "um marco histórico na construção do mundo que queremos".

    Segundo assessores, ela ficou acordada até tarde da noite anterior finalizando o discurso, em que ressaltou os "resultados expressivos" que Brasil e outros países em desenvolvimento tem apresentado na redução de emissões e lembrou a meta estabelecida por ela em discurso na ONU no ano passado.

    "Meu país está determinado a intensificar ações de mitigação e de adaptação. Anunciei aqui mesmo, durante a Cúpula da Agenda de Desenvolvimento 2030, a contribuição brasileira de 37% de redução dos gases de efeito estufa até 2025, assim como a ambição de alcançarmos uma redução de 43% até 2030, tomando 2005 como base em ambos os casos", afirmou.

    Alfredo Sirkis, ex-deputado federal pelo Partido Verde, acompanhou o discurso da presidente e ficou decepcionado. Ele disse que o Brasil deveria apontar metas mais ambiciosas depois do Acordo de Paris. "Pelo menos ela poderia ter especificado o que está sendo feito concretamente, mas o fato é que a governança no Brasil está num estado tão caótico que fica difícil avançar", afirmou à Folha.

    Sirkis, diretor executivo do centro de estudos Brasil no Clima, disse ainda que teria sido desejável que a presidente apontasse "um horizonte" para a ratificação do Acordo de Paris, como fizeram países como China e EUA, mas reconheceu que a crise política torna isso bastante difícil.

    O secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, disse que o discurso de Dilma frustrou aqueles que esperavam "uma demonstração de grande liderança do Brasil" no combate à crise climática, preferindo apenas reafirmar compromissos já anunciados. Na opinião de Rittl, é preciso entender que, além dos dividendos ambientais, o investimento em energia limpa é um bom negócio.

    "Num país em profunda recessão, é fundamental perceber que o que é bom para o clima é bom para a economia. O governo brasileiro, porém, parece ainda ter medo de falar sobre acelerar a descarbonização", afirmou Rittl em um comunicado.

    "PACTO COM FUTURO"

    "Um pacto com o futuro." Assim o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, descreveu o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, assinado nesta sexta (22) por 175 países, incluindo o Brasil.

    É um número sem precedentes de assinaturas em um acordo num mesmo dia, uma demonstração do consenso sobre a importância do tema, festejou Ban. Ele alertou, porém, que a mobilização de nada adiantará caso não sejam cumpridos os compromissos assumidos no pacto adotado há quatro meses na capital francesa, estabelecendo uma meta para conter a alta da temperatura global.

    "Estamos batendo recordes nesta sala. Mas também há recordes lá fora. Temperaturas recordes, degelo recorde, níveis recordes de carbono na atmosfera. Estamos numa luta contra o tempo", disse Ban. Ele exortou os países signatários a não tardarem a ratificação do pacto para que ele possa entrar em funcionamento "o quanto antes".

    O mês passado foi o março mais quente já registrado, segundo medições divulgadas nesta semana pela Agência Atmosférica dos EUA. Segundo o órgão, foi o 11º mês consecutivo com quebra de recorde de aumento da temperatura, confirmando a curva ascendente dos últimos anos.

    Em seu pronunciamento, o secretário de Estado americano, John Kerry, lembrou que 2015 foi o ano mais quente da história. "A urgência deste desafio só fica mais pronunciada", disse Kerry, que assinou o acordo com a neta Isabelle, 2, no colo. A série de discursos foi encerrada pelo ator Leonardo Di Caprio, alvo de intensa tietagem.

    Timothy A. Clary/AFP
    Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, assina Acordo de Paris com neta no colo
    Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, assina Acordo de Paris com neta no colo

    VIGÊNCIA

    Para entrar em vigor, o Acordo de Paris precisa ser ratificado por ao menos 55 países que representam no mínimo 55% das emissões globais de gases poluentes.

    Os demais países terão até 17 de abril de 2017 para assinar o pacto. China e Estados Unidos, os maiores emissores de gases poluentes do mundo (quase 40% do total), se comprometeram a ratificar o acordo ainda neste ano.

    No Brasil, a ratificação exige a aprovação nas duas Casas do Congresso.

    Outro desafio é o financiamento para o combate ao aquecimento global, que foi um dos principais entraves em Paris para a conclusão do acordo, já que os países em desenvolvimento exigiam uma contribuição maior dos desenvolvidos. No fim, os países ricos reiteraram o compromisso com uma ajuda anual mínima de US$ 100 bilhões (R$ 358 bilhões ) às nações mais pobres.

    Anfitrião da Conferência do Clima de Paris, o presidente da França, François Hollande, foi o primeiro mandatário a discursar e a assinar o acordo. Ele destacou a importância de cumprir com o financiamento prometido. "Precisamos transformar as palavras em ações", afirmou.

    Um a um, representantes de dezenas de países se revezaram no pódio da Assembleia Geral da ONU, que viveu um dia de celebração, com direito a música e uma apresentação de crianças.

    Em meio ao otimismo, ambientalistas advertiram que, embora o acordo seja um marco histórico, ele só terá efeito se os países signatários tiverem capacidade de deixar velhos hábitos e mudar a matriz energética, abandonando os combustíveis fósseis.

    "Não se vence a mudança climática com um pedaço de papel, disse Rhea Suh, presidente do grupo ambientalista Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. "Precisamos deixar para trás a era dos combustíveis jurássicos, de uma vez por todas, e avançar para um futuro com formas mais limpas e inteligentes de energia."

    Acordo de Paris

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