• Mundo

    Saturday, 18-May-2024 15:30:52 -03

    Busca por mulher soterrada mobiliza esperança em cidade no Equador

    DIEGO ZERBATO
    ENVIADO ESPECIAL A PORTOVIEJO (EQUADOR)

    24/04/2016 02h00

    "Desliga a moto! Desliga a moto!", gritava um senhor a dois jovens que pilotavam os veículos na avenida Quito, na esquina com a avenida Manabí, no centro de Portoviejo.

    Eram 16h de terça-feira (19), 93 horas depois do terremoto de magnitude 7,8 que atingiu o Equador no sábado (16). Nesta área, havia os destroços de um prédio de três andares, similar a outros que caíram em quase todas as quadras da avenida Manabí.

    O silêncio era um pedido dos bombeiros de Bogotá (Colômbia), que tentavam achar uma mulher que estaria viva sob os escombros.

    A busca havia começado pela manhã, após um morador ter recebido um pedido de socorro por mensagem de texto. Nas horas seguintes, ela não faria mais nenhum contato.

    Onde fica - Equador

    A mensagem foi levada por voluntários que participavam das buscas a bombeiros de Cuenca (Equador), Caracas (Venezuela) e Cidade do México que procuravam o cofre do correspondente bancário do térreo do prédio.

    Antes de terem a informação sobre a mensagem, eles usavam tratores para vasculhar os destroços. Imediatamente depois, pararam as máquinas e recorreram a métodos mais cuidadosos.

    Pela manhã, os agentes usaram cães dos bombeiros e de uma equipe argentina para rastrear a desaparecida, sem sucesso. Durante a busca, eles encontraram o cofre.

    Sem mais nenhum sinal positivo, recorreram novamente aos tratores —o que irritou os voluntários.

    Nesse momento, mais de 200 pessoas estavam reunidas perto dos escombros, atraídas pela história da suposta sobrevivente que havia se espalhado pelo bairro.

    E eles passaram a ouvir apelos por silêncio assim que se juntaram ao trabalho os agentes bogotanos, que começaram a abrir espaço entre duas lajes nos destroços para chegar até a vítima.

    "Olá! Somos uma equipe de resgate. Se você nos ouve, faça algum barulho", gritou um bombeiro entre os escombros, por volta das 17h.

    Nos minutos seguintes, a "plateia" se calou, abrindo a boca só para impedir quem quebrasse o silêncio. Sem resposta, os bombeiros voltaram às britadeiras e às serras para abrir espaço. Até que, às 17h40 ouviu-se um barulho: "Está viva", gritou o bombeiro, levando à reação efusiva dos curiosos e das equipes.

    "MULHER DO BAR"

    Vinte minutos depois, um dos comandantes de Bogotá disse que a mulher estava no banheiro do bar ao lado do prédio. Segundo ele, a vítima havia sobrevivido por estar entre uma das lajes e uma viga.

    Assim como em outros casos de vítimas resgatadas, ela estaria em um bolsão de ar. Especialistas dizem que é possível sobreviver até uma semana nessas condições.

    Começava a anoitecer e, para compensar a falta de luz natural, foram instalados holofotes voltados para o buraco aberto pelos bombeiros.

    À poeira dos escombros somava-se agora a fumaça do diesel dos geradores para a iluminação, tornando a permanência no local insuportável.

    Nas horas seguintes, os bombeiros continuaram a escavar o buraco. Nesse período, a mulher respondeu, por meio de ruídos, que estava ao lado de duas pessoas.

    Por volta das 22h30, apareceu no prédio o homem que recebeu a mensagem. Ernesto Villagres, 30, acusou a primeira equipe avisada de ter preferido procurar o cofre.

    "Se eles tivessem feito o trabalho como se deve, ela já teria sido encontrada. Essa mulher merece ser resgatada, depois de sobreviver tanto tempo", disse, emocionado.

    Com capacete e colete de obras e camisa da seleção equatoriana, Villagres fazia parte do grupo de moradores que fizeram os primeiros resgates após o terremoto.

    Juntamente com ele, estavam outros dez homens que se protegiam como podiam. Quem tinha roupa mais parecida com a dos bombeiros era Rafael, mais preparado para uma corrida de moto que para vasculhar escombros.

    SILÊNCIO

    Depois de mais de seis horas de escavações, os bombeiros pediram silêncio de novo a uma plateia já reduzida, à meia-noite. "Olá, somos uma equipe de resgate. Se você nos ouve, faça algum barulho." Não houve resposta.

    Cães entraram nos buracos abertos na frente, na lateral e na parte de cima do local de onde vinha o som, mas não encontraram nada.

    À imprensa, os bombeiros de Bogotá afirmaram que a mulher poderia estar dormindo e que, naquela situação, poderiam levar mais outras seis horas para alcançá-la.

    Com a informação do tempo de espera, a maioria dos moradores e os jornalistas, incluindo a reportagem da Folha, foram embora, às 2h.

    Uma hora e meia depois, os bombeiros seriam atrapalhados por uma réplica de magnitude 6,1, a mais forte desde sábado. No final da manhã, depois de mais de 24 horas, chegaram finalmente aonde estava a soterrada.

    A esperança terminou ali. Diferentemente de cinco sobreviventes resgatados no mesmo dia na vizinha Manta, a mulher não resistiu, assim como as duas pessoas a seu lado. Eles se somaram aos outros 116 mortos em Portoviejo.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024